sexta-feira, 15 de julho de 2016

17 - LÚCIFER/ÉRIS ( FINAL)






Finalmente nos encontramos Lúcifer. Estava te esperando, você cumpriu sua jornada cósmica. Finalmente uma transformação real irá acontecer com estes humanos, com aqueles que são teus filhos.
Éris corta a garganta do bode negro e diz : ‘’ Venha Lúcifer, beba esse sangue quente comigo, celebremos juntos o início de uma nova era na harmonia do caos cósmico’’.

Deixemos eles sozinhos mais uma vez com os teus ensinamentos de liberdade e de reconciliação com o corpo e com a inteligência. Hoje nós brindamos a nossa vitória na guerra contra a estupidez e a ignorância, finalmente o ego humano foi derrotado abrindo espaço para uma nova mente real e unificada com o novo humano que nasce nessa alvorada dourada. Serão responsáveis apenas por si próprios e irão colocar em prática a sua essência real, o apoio mútuo para o desenvolvimento de sua espécie frágil e grandiosa. Você os ensinou a olhar ara o infinito e para as estrelas que eles são e os mostrou que o universo vive em suas mentes e que eles são parte do grande caos. Você em sua jornada os ensinou que o universo é um ser vivo assim como eles próprios e assim como o seu planeta também o é. Você os ensinou a não adorar imagens e fantasias e a não projetar o melhor de si em deuses falsos,os ensinou a assumir a responsabilidade pelas suas próprias existências únicas .
Hoje eles irão crescer sabendo que possuem um eu interior superior que deve ser refinado , lapidado e cuidado a cada dia de suas vidas. Pois o universo está vivo dentro dos seres das galáxias. Nós somos o grande caos.
O grande caos não quer ser adorado ele quer o gozo,o sorriso,a alegria. Ele quer  transcender o ser,ele quer a explosão,a mutação,a transformação e o renascimento a cada segundo. Ele quer o agora. Ele quer o devir e ele quer a vida.
A realização dos seres é a vontade do universo.

Lúcifer olha para Eris e pergunta:
‘’Mas quem eu sou realmente?’’
Éris responde:
Você é o mais humano de todos é o anjo caído,é o demônio da revolta,é a rebeldia que leva à luta e ao questionamento,você é o que move os humanos. Você está em todos os humanos,você é muitos a cada dia,assim como os teus humanos divinamente bastardos. Eles possuem a revolução em suas mentes e a rebeldia correndo em suas veias , eles possuem a sua paixão criadora pulsando em seus corações. Você deu isso a eles. Por isso fora considerado maldito por aqueles que alimentaram a doença do ego,por aqueles que alimentaram o medo e a covardia,por aqueles que venderam a salvação de suas idéias puras em troca do servilismo,da escravidão da alma e da mente, por aqueles que alimentaram e produziram o vírus da estupidez.

Somos o caos
Eu sou você
Somos o masculino e o feminino
Somos o universo e os planetas
Somo a humanidade inteira
Você sou eu
Nós somos as criações na mente do escritor
E as criações de seus textos formam o que ele é
Somos o rei amarelo
O sábio da montanha
Você é Éris
Eu sou lúcifer
Nós somos o filósofo do barril
O mais cínico de todos
Ele está sonhando conosco nesse exato momento
Nós somos o tempo
Nós somos o agora
Nós somos a criança que nasce
Nós somos o novo homem e a nova mulher
Nós somos esse texto
E somos o leitor
Somos a morte e a transformação
E somos a vida e o renascimento em todos os dias
Somos a luz e a escuridão
Nós somos a dúvida
Estamos no orgasmo e na dor
Nós somos as várias realidades possíveis
Nós somos todas as dimensões
E todos os multiversos existentes
Nós somos as existências
E nós somos o infinito
Todos somos um e todos nós somos o grande caos cósmico.
Nós somos os transgressores.

Nós somos a dor,o desespero e a angústia que transforma
E nós somos o amor e a alegria
Somos o prazer
Nós somos o nada, o vazio e o todo

Éris pega um espelho dourado. Olha a sua imagem refletida nele e vê do outro lado do espelho a imagem de Lúcifer.

Lúcifer solta o espelho e vai até a janela da abadia de Thelema. Do alto da janela ele vê o mundo dos humanos, o mundo que existe em sua mente. E do esplendor da torre de ouro e de marfim ele fala com os novos humanos:

“Eu vim para lhes contar que são livres.
Muitas eras atrás minha consciência deixou o homem, ele deveria se desenvolver sozinho.Retornei para encontrar este desenvolvimento quase completo, ele estava obstruído pelo medo e incompreensão.
Vocês construíram para si mesmos armaduras psíquicas, e trancados dentro delas, sua visão era restrita, seus movimentos eram desastrados e dolorosos, sua pele era machucada e seu espírito frito no inferno solar de sua estupidez.
Eu sou Caos.
Eu sou a substância da qual artistas e cientistas constroem ritmos.Eu sou o espírito pelo qual cada uma de suas crianças e palhaços riem em anarquia feliz.Eu sou Caos. Estou vivo como vocês e vim lhes contar que são livres.”.

Ele sentiu que um novo ser nascia dentro de si. De agora em diante ele iria se chamar Luciféris . No alto da abadia de Thelema, na estrela Sírius, em seu reino discordiano...


‘’Não acreditem em nada do que leram aqui. Jogue esse texto fora e crie sua realidade,crie sua existência’’.









A REVOLTA DO ESFÍNCTER












Milhões de espermatozóides são expelidos por homens adultos e adolescentes no mundo inteiro. Seja durante o banho ou numa privada qualquer nas casas, banheiros públicos,rodoviárias ,etc. Milhões de pequenos espermatozóides escorrendo pelo ralo ou nas privadas,viajando pelo submundo aquático de nossos encanamentos, indo parar nas profundezas de nossas gigantescas redes de esgotos. Lá se misturam com massas de dejetos humanos, produtos químicos, e de limpeza, sobras de cosméticos,alimentos repletos de agrotóxicos e hormônios, água contaminada com sangue,medicamentos vencidos,fetos humanos,animais em decomposição,etc. Se encontram e se misturam , criando uma massa mutante sem precedentes na história da humanidade, ou talvez eles morram em segundos...

Poucos sabem, mas  o mundo onde essa massa cresce de maneira assombrosa, na escuridão fria e silenciosa de nossos esgotos,ele é dominado por 6 famílias extremamente poderosas que foram aumentando os seus domínios ao longo dos séculos. Eles quem vão decidir se existirá futuro,se iremos lembrar do passado ou se vamos amortecer nosso presente com drogas e entretenimento. Eles quem decidem os vencedores das guerras, se os mapas de cada pais e suas fronteiras serão desenhados com sangue ou com tinta barata. Eles decidem quem ganha e quem vence,decidem o preço do petróleo, decidem qual rosto irá estampar o pedaço daquele papel que vale mais que nossas almas,nosso deus diário para quem dedicamos maior parte de nossa vidas, o todo poderoso deus dinheiro.
Estas seis famílias irão decidir se o seu emprego vale alguma coisa ou se não vale nada,decidirão o que você deve comer,beber e fumar. Eles irão decidir o que você deve pensar e como deve pensar. Não pense que estará a salvo em teus sonhos,pois as decisões deles serão o pano de fundo da trama existencial em seu estado onírico. Eles decidem qual doença você tem  qual você terá e se você poderá ficar curado ou não. Eles decidirão qual doença mental você terá,eles quem decidem qual comportamento você pode ter e não ter,eles decidem se seus sentimentos e pensamentos são saudáveis,dignos,puros,proibidos ou não. Controlam países e governos,empresas,bancos,exércitos,pessoas...
Eles dizem que somos animais ferozes,assassinos  e incontroláveis. Eles dirão que seu corpo é pecaminoso,que sua sexualidade deve ser controlada e decidirão qual deverá ser o seu sexo e como ele deve ser feito. Eles decidem o que é sagrado e o que não é. Em que e em quem você deve acreditar eles decidem se você vai ser de direita ou de esquerda,fascista ou nazista,vegetariano ou vegano, punheteiro ou psicopata.

Você não é seu dono, pertence a eles.
Você não é livre, ensinam eles.
Você não existe,dizem eles.
Eles decidem o que é real e o que não é real para você.

Eu disse milhões? Bilhões,trilhões,foda-se! Os abortos de espermatozóides continuam nos banheiros do mundo todo...

Seis famílias comandam o planeta. A família das baratas gigantes lambedoras de ânus, a família das lesmas albinas chupadoras de bolas, a família das sanguessugas com botox, a família dos babuínos de bunda roxa armados até os dentes, a família dos cavalos marinhos, machões, hermafroditas e afeminados,  por último a família das hienas sagradas e beatas estupradoras de ouvidos.


Todas as noites nós vivemos enquanto dormimos...
Todos os dias nós morremos se dormirmos...

Neste mundo as estátuas sagradas pensam que estão vivas, em seus altares nos olhando lá de cima em silêncio rindo de nós ,achando que não conhecemos seus segredos. As notas de dinheiro riem no silêncio de nossas carteiras e bolsos. Acreditam que estão nos vendo e nos observando ,nos controlando e se divertindo às nossas custas.
Fomos nós que criamos o mundo onde elas acreditam estar vivendo pois elas só existem onde estivermos,onde a nossa realidade ainda não é criada por nós. Essas malditas famílias poderosas que nos controlam e que controlam esse planeta...

Ontem dei um barro gigantesco no banheiro. Quando fui dar a descarga, vi que no meio daquela merda toda havia um rosto, formado por um pedaço de milho,meia folha de alface e algo que não soube identificar. Talvez fosse um verme ou um pedaço de feijão. Senti certa alegria ao ver aquele pequeno sorriso fecal. Pelo menos algo ainda estava vivo dentro de mim. Um sorriso ainda existia.

Um amigo meu foi encontrado morto em sua casa com um preservativo enfiado em sua cabeça,sua bunda e seus testículos estavam em uma bacia cheia de gelo. Ele também tinha o hábito de introduzir objetos pontiagudos em sua uretra, seu intuito era o de obter o maior prazer possível. Ele era mais um dentre os bilhões de abortadores de espermatozóides no mundo. Ele morreu por que as 6 famílias decidiram que assim devia ser e  que devia ser dessa forma.

Meu nome é Sade Borja. Sou formado em psicologia e filosofia,sou gestalt terapeuta e terapeuta reichiano . Aprendi o xamanismo e o manuseio de plantas alucinógenas com um xamã mexicano. Estudei magia e ocultismo,trabalhei em hospitais psiquiátricos,fui terapeuta clínico e militante em grupos anarquistas,antipsiquiátricos,antimanicomiais e libertários de todos os tipos. Treinei guerra de guerrilha,lutei ao lado de mexicanos,africanos e árabes,participei de um grupo eco terrorista,escrevi livros de terror,filosofia,psicologia,ficção científica,poesia surrealista e anarquismo. Nenhum deles fora publicado. Todos rejeitados pelas editoras controladas pelas 6 famílias poderosas pois eles decidiram que esse livros tinham de ser proibidos.  Eles decidiram também que eu tinha de perder minha autorização e meus registros para atender como terapeuta. Eles disseram que meu trabalho e minhas idéias eram perigosas, que eu era antiético,heterodoxo,rebelde demais,charlatão,maldito e com métodos atípicos. Acusaram-me de ser satanista,drogado,herege,praticante de magia negra e de orgias com meus clientes. Eu era um perigo para a sociedade, disseram que eu drogava meus clientes,dormia com eles,bebia e vivia com eles. Eu realmente tinha meus métodos diferenciados. Era confrontador,não me prendia a técnicas e teorias,utilizava meus conhecimentos com alucinógenos,trazia-os para morar comigo,trepava com alguns,bebia com alguns e principalmente me divertia com eles,vivia a vida com eles. Para mim a relação e o amor humano verdadeiros são os principais fatores de cura. A verdade em ser o que se é,sem máscaras e disfarces, sem personagens fictícios para agradar aos outros.
 Mas eu era um perigo para eles por isso decidiram que eu não podia mais fazer meu trabalho.
Hoje sou anarquista libertário e discordiano seja lá que porra isso signifique, por minha própria decisão. Fui declarado como sendo viciado em sexo,alcoólatra e estou desempregado. Moro em uma casa nojenta,meu corpo vive cheio de lacraias e centopéias andando por toda a superfície e ganhei um rótulo de esquizofrênico paranóide. Fiquei preso por 4 anos,ajudei os psicóticos abandonados do pavilhão dos loucos, dentro da cadeia. Tudo isso por que as 6 famílias poderosas decidiram que eu devia viver minha vida dessa forma. Eles quiseram destruir as minhas realidades e me fazer engolir a única realidade que eles impuseram a todo o resto do planeta.
Hoje em dia eu vou todas as noites nos cemitérios, atendo almas penadas que vagam desesperadas e solitárias pelos corredores escuros por entre os túmulos. É isso mesmo que você leu, eu sou terapeuta de almas de pessoas que já morreram. Atendo-as no meio do cemitério,na escuridão e com a luz da lua iluminando a sessão terapêutica,ouço o sofrimento daquelas almas que morreram sem antes descobrirem quem eles eram de verdade,sem poder viver e realizar as suas potencialidades durante suas vidas alienadas e massacradas.
Durante os atendimentos eu os ajudo a ver que perderam suas vidas mas que ainda possuem suas almas , ajudo-os a ver a cor de seus espíritos e do que eles são feitos, ajudo-os a ver que aquela não era a única realidade possível e que agora elas possuíam outras realidades para viverem no pós morte,naquilo que chamamos de além. Todas as noites eu os ajudo a viverem em suas almas, eu lhes mostro que perderam suas vidas em um mundo onde milhões perdem suas vidas  pois este mundo ainda é dominado pelas 6 malditas famílias poderosas. 
Nesse cemitério eu ainda posso por em prática a minha temida, diabólica,heterodoxa e rebelde terapia.

Você não é aquilo que você acredita ser, a realidade não é aquilo que você pensa estar vendo e vivendo. Somos todos pequenos cérebros colocados em potes de vidro em conserva, onde experimentos são feitos diariamente com nossas percepções, sensações e almas . Nos empurram um mundo que não nos serve,uma realidade falsa e um vida mentirosa que nos mata e destrói a cada dia. Injeções enormes  lotadas com o fluído da estupidez é injetado em nossos cérebros indefesos e passivos,presos dentro desse potes de conserva.

Muitas pessoas estão presas em seus altares vivendo como estátuas sagradas, nos observando, cheias de si. Outras vivem escondidas dentro das carteiras...

Certo dia um garoto de 12 anos me viu saindo do cemitério após mais uma noite de sessão terapêutica. Ele perguntou o que eu fazia lá dentro. Expliquei-lhe que eu era psicólogo e que eu atendia pessoas mortas.

Ele me disse timidamente que precisava de ajuda e que queria morrer,estava pensando em suicídio.
Perguntei o motivo de sua angústia. Disse-me que seu corpo estava se transformando em madeira e que ele estava virando um boneco literalmente. Duvidei de suas palavras a princípio mas ele levantou parte da calça que cobria sua perna,tirou seus sapatos,levantou parte da blusa que cobria seu corpo e foi ai que constatei o que ele me dizia. Sua perna era de madeira assim como seu tórax,seus braços,suas mãos,etc. Tudo era de madeira com parafusos,dobradiças e tudo mais. Um verdadeiro boneco de madeira. Apenas sua cabeça e seu rosto ainda não haviam se transformado. Um pinóquio às avessas.

Perguntei a ele quando essa transformação havia começado. Disse-me que em dois meses tudo havia mudado em seu corpo, progressivamente.  Estava desesperado.
Pedi para que voltasse na noite seguinte, atenderia ele ali mesmo no cemitério. Ele concordou e foi embora, andando com dificuldade em seu corpo de madeira estalando em cada movimento feito com lentidão. Fui para minha casa, preocupado pensando naquele garoto de madeira.

No dia seguinte, um crânio de um morto conversa comigo.
Deus reza todas as noites antes de dormir pedindo para que os humanos o abençoe,o ame,o ajude a cuidar de seus assuntos, arrume um emprego melhor pra ele,o ajude a ganhar na loteria dos deuses, pede para que o livre de todo o mal e que o proteja enquanto ele dorme . Pede para que a humanidade lhe traga bons sonhos. Ele pede aos humanos que ao morrer eles lhe dêem uma vida eterna tranqüila. Deus reza todas as noites pedindo para que os humanos o ame e que nunca o abandone pois ele precisa deles. Sem os humanos ele não existe.

O garoto de madeira chega ao cemitério senta em um túmulo e começa a contar suas dores. Eu apenas ouço.
No momento exato eu intervenho e lhe digo: ‘’O mundo te transformou em madeira e está lhe matando te dizendo que seu corpo e seu espírito são dessa formasira,o mundo como . Mexa-se antes que seja tarde. Faça isso agora pois só no agora é que somos eternos. Destrua as 6 famílias que existem dentro de você,destrua toda a programação que lhe deram para seguir obedecendo , para te tornar nessa figura . Ainda lhe resta o seu bem mais precioso que é a sua inteligência, teu cérebro onde tua alma reside. Nosso cérebro é do tamanho do universo e ele cabe dentro de nossas mentes. Teu cérebro reproduz o funcionamento do universo todo, com galáxias de idéias criativas fluindo dentro dele. É o que nos mantém ligado com as estrelas , com as galáxias e com o universo todo.’’

‘’Agora vá, eu tenho uma fila enorme de almas penadas pra atender. Crie e recrie sua própria realidade quantas vezes forem necessárias. Confie naquilo que brota de seu ser pois esta é a vontade do universo,ele se realiza e vive através de nós. Nós pensamos o universo e ele nos pensa, criamos e somos criados. Nossas mentes são grandes artistas. Para sobreviver ao que lhe disseram sua mente criou uma obra de arte te transformando em um boneco de maneira,ela apenas estava tentando se organizar diante de tantos anos de alienação e estupidez enfiadas em sua alma. Ela cria e transforma,, ela é uma artista, mas tudo depende do que você faz com ela . Se você for passivo e covarde ela lhe dará um poema e uma arte com forma passiva pintada com as cores da covardia. Se agir e viver aquilo que você é, ela lhe dará uma arte bela e verdadeira. Se aceitar ser um boneco, ela lhe transformará em um boneco. Compreendendo isso você poderá sair dessa armadura falsa de madeira que você está acreditando ser real. Nunca mais aceite que os outros lhe digam quem você é’’.

E assim o garoto se foi seus passos não eram mais lentos. Sua figura foi sumindo no horizonte...

Todos nós temos o caos ardendo em suas chamas negras dentro de nós. Todos nós somos papas ,deuses pagãos e demônios dourados.

Enquanto isso espermatozóides são abortados, uma massa orgânica cresce nos esgotos...

 A última vez que ouvi falar daquele garoto, ele liderava uma rebelião em sua escola controlada por zumbis. Ele se uniu à outras crianças de madeira e lutaram contra as mentiras zumbificantes daquele local. Bom garoto ele.

Hoje de manhã dei uma cagada generosa no banheiro de casa. Aquele rosto fecal estava lá novamente. Ele começou a se comunicar comigo.

‘’Ei seu bastardo asqueroso, o que você ta olhando ai de cima. Por que fica perdendo tempo com um bolo enorme de merda? E não estou referindo a mim me refiro à sua vida que você jogou fora. Você era um cara foda,agora olhe pra você. Atendendo mortos de um cemitério?  Você é um otário mesmo, sorte minha que sai de você’’.

Puxo a descarga para que aquela merda viscosa vá embora. Centopéias e lacraias andam pelo meu corpo suas patas fazem um ruído peculiar ao tocar meus músculos,tendões e nervos. Vejo minha pele se mover por causa das criaturas. Ela se move lentamente dançando em ondas subcutâneas.

Na porta do banheiro um bolo fecal enorme, com mais ou menos dois metros de altura se contorce em gargalhadas. Estou ficando paranóico...

De repente meu esfíncter começa a falar comigo. Ele canta uma canção e cita um poema gasoso ,fala em rebelião.
A anarquia intestinal.
O esfíncter revolucionário me diz: ‘’ você não é a sua merda , sua merda não é você. Repita isso 500 vezes e você entenderá’’...

O bolo fecal enorme volta para o esgoto a massa orgânica não para de crescer nas tubulações escuras e úmidas. Espermatozóides continuam sendo abortados nos ralos e nas privadas.  As 6 famílias poderosas cresceram,procriaram entre si e agora estão em guerra , logo se destruirão.

Hoje não atenderei nenhuma alma penada.  A chuva cai no cemitério molhando os túmulos. Meu corpo está encharcado, as lacraias e centopéias devoram minha carne apodrecida junto com outros insetos e vermes. As flores murcharam e o terno está mofado, nenhuma visita pra mim.

Será que alguém irá me atender hoje?

SURREALISMO ANABOLIZANTE



Estava deitado numa cama de pregos ardendo em minhas chamas
Levantei e olhei para o céu com meu terceiro olho
Bem no meio de minha testa eu vi
Aquilo que nunca pude ver
Estrelas e cavalos marinhos voadores
Cães sabor manga
Mais a frente uma estrada dourada
Um homem cego me dá alguns cogumelos e algumas sementes
Diz para eu ingerir tudo aquilo
Fala que seu nome é Uriah o hippie
Diz para eu correr e me apreçar pois a festa dos magos e bruxos irá começar
Não posso perder a cerimônia onde o sangue do bode negro será bebido

Ele enfia uma agulha em meu umbigo para eu me lembrar de quem eu sou durante o caminho
Arranca meus dois olhos com as mãos para eu não me perder com a falsidade dos meus olhos
Diz para eu enxergar com os olhos dos meus sonhos
Minhas fantasias serão os melhores guias
Corta minha língua para que eu não me perca com as palavras do auto - engano
Arranca meu nariz com uma mordida para que eu aprenda a respirar de verdade
Arranca meu coração enfiando sua mão no meio do meu peito
Diz que esse coração velho já não me serve mais
Arranca meus dentes com um alicate
Diz que para poder falar primeiro preciso aprender a morder
Fala que preciso aprender a mastigar aquilo que tiver de engolir
Arranca minhas orelhas e perfura meus tímpanos com um alfinete
Diz que preciso aprender a ouvir aquilo que vem de mim
Que devo aprender a ouvir o que brota de minha alma
Curta minha garganta com uma faca dourada
Para que aprenda a usar minha verdadeira voz
Ele me diz que todo aquele sangue impuro deveria escorrer e sair de meu corpo
Abre uma fenda em meu abdome
Toas as minhas vísceras saem do meu corpo
Ficam penduradas
Meu intestino é arrastado pelo chão enquanto me movo
Ele corta minha cabeça
E pede para eu segura-la com a mão direita
O sangue jorra
Ele diz para eu seguir a estrada e para ir em direção do sol vermelho
Fala para eu não me curvar no meio do caminho e não beijar as bundas que eu encontrar pelo caminho

Sigo em frente
Uma velha bruxa incorpora uma entidade
Rola pelo chão dizendo palavras estrangeiras
Pulo por cima dela
Sigo em frente
As montanhas de peitos gigantes jorram leite no horizonte
Um olho enorme e ameaçador no céu de algodão
Coelhos brancos de dois metros me perseguem
Correndo bem atrás de mim
Eles estão sorrindo
Uma gangue de anões de jardim viciados tenta me bater
Fujo deles
Começa a chover formigas saúvas
Passo pelo demônio do arco íris
Ele não me vê
Está embriagado
Mais a frente eu vejo uma mulher grávida
Está em trabalho de parto
Sozinha no meio da estrada
Um homem de vinte e três ano sai de suas entranhas
Todo sujo
Fumando a placenta da mãe em um cachimbo
Ele pergunta se eu não quero ficar chapado

Golfinhos alados passam sobre minha cabeça
Um deles dá uma imensa cagada em mim
Pego um das nuvens de algodão do céu e me limpo
Devolvo ela para o seu lugar toda cagada e suja

Uma música irritante toca no ambiente
Zumbindo em meus ouvidos constantemente
Percebo que a música vem de um circo mais a frente
Entro no circo e vejo uma platéia de bonecos sem roupas
Imóveis e sorridentes
No meio do circo um elefante e um leão estão domando
Um pequeno a frágil homem
Eles dão chicotadas quando o homem não faz o que ele quer
Eles o alimentam quando o humano faz o que é pedido por seus domadores
No alto do circo
Chimpanzés trapezistas realizam seu show para o grande público de manequins

Faz onze dias que eu não durmo
Faz onze dias que o sono não trepa comigo
Cometi o suicídio
Morri lentamente
Cortei meus pulsos com uma nota de dinheiro
Cortei minha garganta com uma moeda
E bebi o veneno da crença
Morri durante cem anos

O olho no céu pisca pra mim
Os coelhos correm para me pegar
Os mamilos das montanhas tetas espirram leite
Minha cabeça rola pelo chão
Tento correr atrás e tropeço em meu intestino pendurado em minha barriga
Um cão sem as patas para na minha frente e olha pra mim
Ele urina em minha cabeça caída no chão
Depois ele lambe minhas vísceras expostas
Ele olha pra mim e me deseja uma boa morte
Vai embora seguindo na estrada
Enquanto tente me erguer
Um exército de bonecas infláveis vem em minha direção
Tentam me estuprar com suas bocas arredondadas e suas genitálias de borracha
Canto uma música que me veio na cabeça
Elas começam a dançar em pares
Como casais
Um belo baile romântico se forma em minha frente

O terceiro olho em minha testa se abre e se ilumina
O olho gigante no céu conversa comigo
Pergunto a ele onde estou
Ele me responde dizendo que estou na mente de deus
Diz que estou em todos os lugares e em lugar nenhum
Que aquilo tudo é real e fantasia
Que eu sou o criador e a criatura
Que estou na mente do escritor e ele está na minha
Terei que decidir se aquilo vai ser um sonho ou um pesadelo

De repente tenho vontade de cagar
Estou fraco e sem sangue
Sapos alucinógenos pulam em minha boca
Peidos e diarréia
Estou passando mal
Restam-me poucas energias
Tudo morre
Eu morri

Anjos peludos em camisas de força aparecem para me salvar
Grito em pânico
Ontem eu era o nada
Ruminando em minha existência de roedor
Anos de calabouço ou ânus

Desculpe é só uma fase ruim
Fase?
Fase oral fase anal fase fálica ou fase genital?
Não sei pergunte ao tumor de Freud
E a latência?
No meu caso é só a flatulência mesmo
Deu seja louvado
E as bestas no pasto sagrado dizem amém


Vazio
Um poema surge no vazio para finalizar
Para quem não sabe escrever como eu

!

!

?
-               ,                             .

‘’                             ‘’
-               ,         .          ?

!

;


!?!?!?

                                     :

...





16 - ADOF ACIMSÓC– EGOCRACIA PARTE 3











E na abadia de thelema...

‘’ A ressurreição do corpo não precisa ser adiada para após a morte. Ela pode acontecer a qualquer momento, se quiseres. Vocês são gigantes que foram conduzidos por pigmeus,acordem de seu sono profundo...’’

‘’E eu sou Éris. Eu lhes trago o caos...’’


Eis a morte dos ventos,o azedume na saliva, o amargor na língua costurada...
O olho de vidro rola pelo salão...
A mulher velha procura por seu olho que caiu no chão . Ela o tirou para que o ornitorrinco anão pudesse ejacular dentro de sua cavidade ocular...
A velha sorri,a porra amarela escorre da órbita de seu olho direito...
A lontra aracnídea grita no teto do salão, como se fosse desabar em prantos
O banquete é servido, numa bela mesa apoiada por quatro pessoas nuas ,pintadas de ouro, depiladas e sem sobrancelhas.
É servido um prato de pele assada,com salada de cabelos, vinho de banha humana  e unhas esverdeadas cozidas na urina de cachorro. Para a sobremesa,feto de galinha com olhos de abutre,adocicado com lágrimas das virgens anãs do paraíso libertino...



Jodoraw olha para cima e vê algumas figuras conhecidas por ele. Ali estavam o viajante,o terapeuta maldito com a cauda do escorpião negro, o garoto sem mandíbula e a menina dos olhos de vidro,o poeta terrorista,lúcifer,azrael ,kali,cresus jisto e o grande ego. Todos olhavam pra ele e sorriam, como se estivessem esperando por algo.  Éris estava iluminada,em sua esplendorosa forma de pinha dourada. Uma vibração fantástica emanava de seu ser,como numa sinfonia insana...

Jodoraw sabia  que aquelas criaturas lhes eram familiares...

Aquele lugar era belo e sombrio , um pesadelo surreal. O som que aquele local emitia era ensurdecedor, o cheiro era de carne apodrecida , mesclando com cravo e alecrim. Ele queria voltar para sua vida, deveria voltar pelo espelho que o trouxe até ali. A deusa Éris cantava uma bela canção, fazendo o centro da cabeça de Jodoraw vibrar intensamente, algo havia despertado ali dentro. Talvez fosse sua alma,ou algum ser superior que existis dentro de seu cérebro, que fora dominado pelo cárcere do medo,da angústia,do pavor,da covardia e do ódio , tudo muito bem banhado e moldado com  lágrimas e barro estomacal.

No meio daquele turbilhão de emoções, Jodoraw sentia que seu corpo poderia explodir,algo muito grande estava ocorrendo no núcleo de sua existência. Quando seus olhos se viraram para o lado esquerdo de seu corpo, uma janela para o outro lado estava aberta,era uma nova passagem,um novo espelho à sua espera. E mais uma vez chovia, uma imensa tempestade de carne moída e sangue , caindo das entranhas daquele céu negro e avermelhado.

Em thelema, Éris havia se transformado em uma enorme vagina dourada,pulsante,de onde saia um doce aroma de vida e paixão. Jodoraw conseguia sentir aquele doce cheiro de amor...

Próximos do portal, duas figuras vinham na direção de Jodoraw. Um deles era o rei amarelo, com sua túnica amarela e a sua máscara branca, cobrindo o seu terrível rosto. Seus tentáculos e sua enorme cauda possuíam escamas escuras,que brilhavam ao refletir a luz que emanava da grande deusa Éris. Seu rosto era coberto por uma máscara branca pois ninguém podia vê-lo,  sua face poderia levar a loucura àquele que o visse. Ele era descendente do terrível Cthulu, o último de sua raça maldita.

A segunda figura , era uma mulher pálida,com um enorme saião negro,com o seus seios brancos à mostra. Seus pulsos cortados jorravam o sangue quente de seu corpo. Ela tocava uma harpa. As cordas de seu instrumento eram feitas com as tripas de seu intestino,acoplado ao instrumento. Um véu escuro e enorme cobria seu rosto. Ela caminhava lentamente , em direção a  Jodoraw. Ao pé de seu ouvido ela lhe disse : ‘’a existência não vale pela quantidade de tempo que você viveu, mas pela sua qualidade, morrer com o coração satisfeito é melhor que viver com a alma vazia, viva o que você deve viver, não morra em vida trancafiado dentro de ti mesmo,não transforme seu corpo em seu cárcere, morra vivendo o fluxo do rio que és a tua vida.’’

E assim ela o beijou com seu véu negro que cobriam seus lábios gélidos, entregou-lhe o cálice de Dionísio. Disse-lhe : ‘’beba neste cálice sempre que esquecer quem você é ou quando te envenenarem com as mentiras do grande ego. Lembre-se, esteja sempre atento aqui, nem ontem e nem amanhã, apenas aqui, nunca ali e tampouco além. Escute a canção de Éris quando ela for tocada em sua alma,apenas a escute.’’

Ao ouvir essa frase, sua arcada dentária se desprendeu de sua mandíbula,voltando-se para o interior de sua boca mordendo sua língua com violência, mastigando sua garganta,entrando pelo esôfago.  Suas presas rasgaram com uma enorme violência seu estômago , abrindo um buraco enorme em sua barriga. Seus órgãos despencaram de seu abdome,caindo na sua frente pelo chão. Jodoraw não sentia dor, estava com medo talvez fosse morrer naquele dia...

Sua glândula pineal lhe diz:

‘’Ame agora seu corpo,cada parte,cada órgão,cada célula que faz com que sejas quem você...ame a si mesmo,até o fim. Eis o verdadeiro amor...’’

Jodoraw entendendo a mensagem da grande pinha dourada,se agaixou, deitou-se sobre seus órgãos espalhados pelo chão,se banhou naquela poça de sangue alegremente,pegou suas vísceras quentes e começou a acaricia-las. Cada toque era erótico, o prazer brotava da carne daqueles órgãos,pulsavam e vibravam. Jodoraw beijava e lambia suas vísceras, estava fazendo amor com suas partes internas. Estava trepando consigo mesmo. Ejaculou nas suas vísceras. Seus órgãos também tiveram orgasmos,pulavam,latejavam,se moviam como numa dança densa e caótica.

Jodoraw recolheu seus órgãos internos,colocando-os dentro de si com carinho e respeito. Nunca havia sentido aquilo por si próprio. Ele agora se amava.

Éris esguichou um líquido azul de sua vagina dourada, tamanha a sua felicidade ao ver Jodoraw se amando. Ela arrotou para comemorar, deu uma baforada daquele arroto em direção à Terra. O planeta começou a girar ao contrário,uma nova era estava começando. A grande cidade de Aripiprazolandia desabava com o impacto. O grande ego fora jogado para fora do planeta azul,estava flutuando agora no espaço. Os novos homúnculos estavam bem,eles iriam ser os protagonistas de um novo mundo que nascia,junto com as outras espécies irmãs que ali habitavam...

O rei amarelo se aproximou de Jodoraw e lhe disse :  ‘’Sua missão cósmica e caótica está completa aqui,passe por aquele portal e viva uma nova vida . Não terás mais que voltar para o lugar onde vivia. Agora vai retornar ao caos,existem outras realidades e outros universos para você...’’

Jodoraw ultrapassou o portal do espelho e do outro lado ele viu seu corpo de uma antiga vida caído no chão. Uma bala de uma arma havia lhe estourado os miolos,sangue se espalhava por todo o piso. Um livro amarelo estava ao lado de seu cadáver,as paredes do quarto estavam pintadas com excremento. Ali haviam dizeres ocultos ,escritos com fezes. Nos dizeres podiam ser lidos frases desconexas como : ‘’ Vou para a Carcosa, lá onde as estrelas negras de Híades e Aldebarã brilham no céu. Do outro lado dos espelhos eu encontrarei o emblema amarelo. Vou para Carcosa, próximo do lago Hali coberto por sua neblina densa,onde os dois sóis brilham iluminando as duas torres. Lá conhecerei Hastur e Alar.’’

Jodoraw pegou o livro amarelo,limpou o sangue da sua capa. Jogou fora os medicamentos daquele homem morto,beijou-lhe a face e saiu daquela casa. Uma nova vida o aguardava...andando com o vento batendo em seu rosto, ele gostaria de saber onde estaria vivendo o escritor...atrás dele,a velha casa não existia mais, página do conto já havia sido virada...

Éris segurava o emblema amarelo em sua mão...
O grande ego vagava pelo universo...
Lúcifer o humano, caminhava...
O antigo filósofo sonhava em seu barril velho,estava embriagado de vinho...
O mais cínico de todos dormia ao lado de seus cães...
Sua lanterna estava apagada...
O escritor acreditava estar ficando louco naquele momento...

Não sabia se ele escrevia o texto ou se o texto escrevia ele...




14 - EGOCRACIA (PARTE 2)


Andava naquele mundo escuro e novo , sem respostas prontas, sem racionalizações,apenas andava. O medo do desconhecido percorria pelas entranhas do seu ser.  Rivotril sentia que daquele momento em diante ele nunca mais seria o mesmo,nunca mais seria aquilo que ele imaginava ser...


Do outro lado do espelho a bela cidade nova estava mais poderosa como nunca,o grande ego reinava absoluto. Aquela nova cidade havia sido batizada recentemente por uma‘’votação popular’’, onde cada pessoa ia até o palácio do grande ego, sentava em seu colo,era enrabada por ele e depois ouvia o nome que o grande ego havia escolhido para a cidade. Logo após esse ritual,a pessoa tinha que agradecer e sorrir pela escolha do nome,feita democraticamente pelo grande ego.
O nome escolhido na votação democrática era aripiprazolândia, um nome alucinante com certeza.
Em outro grande momento da bela e nova cidade,o grande ego decidiu de maneira democrática novamente que ele iria vestir os moradores da cidade com roupas de cãezinhos de madame, obrigando à todos  a caminharem de quatro com uma coleira no pescoço. Depois do passeio,sendo conduzidos pelo grande ego,cada morador tinha que latir e lamber a mão do seu querido dono e amado líder,em sinal de respeito e alegria por ele ter tido essa grande idéia para a cidade.
Sua última e nova invenção era a de cobrir a Aripiprazolândia com uma cúpula, protegendo a cidade dos outros humanos restantes daquele mundo. Estes humanos eram aqueles que ainda estavam tomados pelo vírus que destruiu o velho mundo,transformando a todos em bestas assassinas. O grande ego resolveu fazer uma cúpula gigante feita com lágrimas,vômito,vidro,plástico bolha,dentaduras,fraldas sujas,camisinhas usadas,cera de ouvido, sangue menstrual,mamadeiras e chupetas. Uma grande proteção,sem dúvida!!

Enquanto isso,Rivotril seguia sua jornada naquela dimensão atrás do espelho. Ele andava e olhava nas pequenas passagens que ele encontrava pelo caminho. Cada uma dava em um banheiro,sala ,quarto ou em qualquer lugar em que houvesse um espelho. Em cada portal,Rivortil via como era a realidade de cada pessoa e como estava a realidade dela do outro lado simultaneamente,naquela dimensão paralela ao nosso chamado mundo real. Na primeira janela,ele viu um garoto sentado e sua cama,arrancando os cabelos de sua cabeça e comendo-os,num ritual de sofrimento expresso em cada gesto repetitivo,em cada gesto ansioso. O garoto engolia os cabelos,engolia também fios de tecido que guardava em seus bolsos e pedaços de algodão usados,roubados da lixeira de um hospital próximo dali. Rivotril olhou para trás,no mundo onde ele estava,viu o mesmo garoto com asas douradas,flutuando naquele lugar,ao lado de fadas,gnomos e um dragão vermelho,se divertindo naquela fantasia , enquanto sofria do outro lado do espelho com suas angústias do mundo ‘’real’’.

Na outra janela, em nossa realidade, Rivotril viu um rapaz sofrendo em seu estado catatônico,alucinando em sua esquizofrenia assim diagnosticada. Enquanto o rapaz permanecia imóvel em seu quarto,sentado em sua cadeira, sua cama estava repleta de cadáveres dilacerados,lençóis sujos de sangue,alguns corpos estavam pendurados por ganchos no teto de seu quarto. Os cadáveres estavam de ponta cabeça,presos pelos pés em ganchos de aço. O sangue escorria de suas bocas e de seus narizes,seus corpos estavam nus e sujos. Uma velha com a pele pálida , com manchas esverdeadas no rosto e nas mãos, por estar em estado de decomposição visível, sorria para o garoto em pé,próximo da cama onde os corpos repousavam naquela cena asquerosa. Ela não tinha olhos,dentes pútridos,vestido velho e mofado,mãos magras,dedos finos e pontiagudos. Ela sorria de forma diabólica para o pobre garoto em estado catatônico. Uma mariposa enorme estava pousada nas costas do garoto, batendo suas asas de cor marrom, com pontos negros e com desenhos que lembravam dois olhos grandes de uma coruja, formando um mimetismo sombrio. Do outra lado , no mundo do espelho, Rivotril via o mesmo rapaz dançando orgasticamente enquanto cantava uma canção prateada, com cores graves,médias e agudas,saindo de sua boca,como numa cachoeira de arco íris. Ele simplesmente dançava e cantava aquela música...

Depois de ver a alucinação do rapaz no mundo que ele chamava de real, Rivotril olhou no espelho à sua frente,onde havia outro portal para outra vida. Lá , ele viu sua mãe , em seu quarto,comendo ratos e baratas, tomando um belo suco de moscas verdes. Ela estava com uma corda amarrada em seu pescoço,estava se preparando para o seu suicídio. Desenhou um crucifixo em sua testa com uma faca,limpou o ranho que escorria de suas narinas velhas e subiu na cadeira . Estava pronta para o fim. No outro lado do espelho, Rivotril podia ver que naquele mundo sua mãe era uma pintora que dançava com as cores de sua arte,ela pulava em seus quadros,se tornando a sua própria criação,nadando nos rios de cores e formas de suas obras. Completamente diferente daquela pessoa doente que Rivotril conhecia e que tentava se matar do outro lado do portal. A cada janela, a cada espelho, a cada vida que Rivortil observava naquele mundo, mais confuso e assustado ele ficava,não compreendia mais o que acontecia com ele. Mas compreendia que naquele mundo ele podia ver por aquelas janelas,pelos espelhos,como as pessoas sofriam em segredo. Poderosos,políticos,religiosos,ricos,amigos. Todos se escondiam em seus mundos particulares,se escondiam de si mesmos em seus silêncios mortais,em suas próprias prisões sado-masoquistas.

Ao caminhar,ele resolveu olhar para o próximo portal. Naquele espelho,ele viu uma bela garota, com uma seringa em seu braço,caída no chão de sua casa,com seu corpo magro. Do lado onde ele estava,no mundo por trás dos espelhos, a garota vinha em sua direção,com um olhar belo e profundo. Para a surpresa de Rivotril que imaginava estar em um pesadelo longo, um diálogo se iniciou:

- Olá ,  aqui eu me chamo Discordiana,e eu nem quero mais me lembrar do meu antigo nome. E o seu,como é?



- Eu me chamo Rivotril,ou me chamava,não sei . Onde estamos?

-  Estamos num mundo paralelo,eu acho,talvez seja o limbo,o céu ou o inferno,sei lá. Sei que já estou aqui faz uns 15 minutos, desde que tomei um pico de heroína do outro lado, onde eu sou uma viciada. Também sou anoréxica lá, ganho minha grana me prostituindo e vendendo drogas para crianças em frente a uma escola , vendo veneno de rato para idosos em asilos para ajudá-los a morrer em paz , sabe como é a velhice. Ah! Também ganho a vida fazendo rinha de anões em um circo perto de onde moro. E você?

- Hum,vivia com meus pais, mais nada. Minha vida lá não era tão interessante quanto a sua. Diga-me,como você descobriu que aqui nesse lugar seu nome é discordiana?

- Simples,basta você olhar para dentro de si mesmo e encontrar o seu verdadeiro sorriso,sua alma,sua essência.

-Simples?

- Sim, aqui é possível sonhar. Mas você terá que criar um ritual de magia próprio,só seu. Invente,crie algo,use sua imaginação. Aqui você pode...

 Foi ai que Rivotril se concentrou, tentou buscar sua essência,se concentrou com muita força nas palavras de Discordiana. Desenhou um pentagrama em volta de si com sua própria urina. Em determinado momento,sua barriga começou a doer, seu corpo liberou um peido estrondoso,extremamente barulhento e longo, muito fedido também. Foi ai então que o verdadeiro sorriso,a verdadeira essência, a alma de Rivotril saiu e se fez presente. Seu gás fétido tomou a forma de um corpo,esse formato era a silhueta do corpo de Rivotril. Nesse instante corpo antigo de Rivotril,o que tinha liberado o peido,caiu vazio no chão como uma bexiga murcha. O gás havia se tornado sólido,dando forma a um novo corpo que sorria feliz,estava alegre ,como nunca antes vivenciado por ele. Gritava bem alto: ‘’ Meu nome é Jodoraw, Jodoraw é meu verdadeiro nome,esse é o meu verdadeiro sorriso,esse sou eu.’’

Discordiana sorria,estava contente por ver seu novo amigo encontrar a sua verdadeira essência,seu verdadeiro nome,o seu ser real, a sua essência,sua alma.

- Jodoraw não ligue para essa voz que fica falando da gente,que fica narrando o que vai acontecer e o que acontece, não ligue para ele. É apenas a voz do narrador,do escritor tosco que está ‘’criando’’ esta história,ele pensa que ele quem está inventando tudo  isso e que estamos saindo de sua mente , indo direto para as páginas de seu texto escroto. Mal ele sabe que nós já existimos,estamos existindo e ainda vamos existir,aqui,lá e em vários lugares possíveis.

Ma que merda está acontecendo? São 05: 55 da manhã,estou escrevendo esse texto em meu quarto e tive a sensação de que o texto estava vivo,conversando comigo. Será que estou ficando louco, depois de tantas noites sofrendo com insônia,paralisias noturnas e dias em constante estado depressivo? Talvez eu deva reconsiderar o diagnóstico de bipolar e tomar os remédios . Talvez não.Bom,voltando ao texto...

O recém nomeado Jodoraw  caminhava com Discordiana,após ter descoberto seu nome espiritual, ou cósmico como preferir o leitor. Até que avistaram um cérebro gigante,reclamando em voz baixa, resolveram se aproximar daquela massa cinzenta enorme...

- Quem é você , ou o que é você? Disse Discordiana , em voz alta.

- Mas que saco! Quem veio me atormentar aqui? Eu sou o grande cinza, sou o mais inteligente desse lugar , sou a soma da inteligência técnica dos humanos , sou a razão dos homens,sou o seu raciocínio lógico, represento os seus sistemas de regras e de crenças,sua moral,sou a soma dos seus valores e a sua lógica. Ou seja,sou o que de mais importante possuem os humanos que vivem do outro lado , atrás dos espelhos, no mundo real que eles foram programados para ver, em sua única e exclusiva visão racional e lógica das possíveis realidades. Eu sou a única e sagrada realidade deles, sou aquilo que os tornam tão sábios a ponto de destruírem a si próprios.

Jodoraw e Discordiana não sabiam que aquele ser enigmático era um ser perturbado,ele era o reflexo do excesso de razão e de regras e moral no mundo  ‘’real’’ dos humanos. Sofria com o extremismo de sua racionalidade burra e com uma montanha de moralidade que o tornava hipócrita,egocêntrico, paranóico e esquizóide, utilizando os termos técnicos do lado de cá, no mundo racional, onde eu e o leitor nos encontramos nesse exato momento. Ou que apenas fingimos acreditar que estamos aqui.
O grande cinza adorava assistir filmes eróticos cardiológicos. Uma modalidade de erotismo cinematográfico, disponível naquele mundo, onde dois corações pulsavam , roçavam um no outro,o ventrículo se contraindo ardentemente,até a explosão orgástica,jorrando sangue quente para todos os lados. O cara cinza adorava ver estes filmes secretamente,mas não contava pra ninguém,pois seu excesso de moralidade não permitia isso,ele era viciado em pornografia cardíaca,ele se julgava como um cardiófilo pervertido. Ele era extremamente paranóico quanto a isso,não aceitava seus desejos,pois sua moral não o permitia,ele sofria em silêncio. Claro que ele julgava todos aqueles que amavam assistir tais filmes,ele os condenava até a morte.
Ele vivia carrancudo,era ranzinza e sempre escondia seu ânimo depressivo por trás de sua fachada racional, de sábio cinza. Nunca iria assumir em sua vida que ele sentia desejos profundo pelos movimentos sensuais,pelas batidas pulsantes,pelo sangue quente,pelas formas eróticas de um coração.

Jodoraw o questionou , após ouvir a descrição do narrador desse texto sobre o Grande Cinza:

- Como você pode ser tão idiota nesse mundo? Pois pelo pouco tempo que estou aqui,eu entendi que desse lado as pessoas projetam seus lados positivos e criativos e do lado de lá, no mundo que chama de real,elas vivem aprisionadas em si mesmas e doentes com suas vidas mentirosas!

- ‘’Não é assim que as coisas funcionam por aqui garoto,não existe certo ou errado,não há leis ou regras no caos universal. Talvez nos estejamos vendo esse mundo nesse formato e com esses acontecimentos, graças ao cara que está criando esse texto e essa realidade ,talvez estejamos sob sua influência. Mas ele nem desconfia que ele também está sob nossa influência, sua vida também está se desenrolando do outro lado desse texto graças a nós,que estamos aqui no lado de cá.’’ Disse Discordiana.

- Não estou entendendo mais nada.

- Jodoraw,não há nada para se entender aqui,não caia nessa ilusão,você não está mais do outro lado. Se quiseres voltar pra lá,livre-se dessa ilusão, aquela que aprisiona àqueles que vivem do lado de lá. Veja,sou Discoridana,mas também sou a Deusa Éris ,e sou também a sua glândula pineal.

Nessa hora,Discordiana mudou de forma e se transformou numa grande pinha dourada,brilhante e poderosa. Disse para Jodoraw:

- Você está vendo essa realidade paralela e vivendo-a , graças `a expansão de sua glândula pineal,você está recebendo essas informações diretamente do grande caos universal,o grande espírito ao qual estamos inseridos,do qual fazemos parte. Ele é a grande mente cósmica,a grande idéia cósmica . Sua glândula pineal recebe as informações do grande caos, aquilo que você e todos os outros chamam de mente está fora do seu alcance, suas mentes estão além dos seus cérebros humanos . Seus cérebros humanos são receptáculos poderosos que se comunicam com a grande mente externa,o grande caos. Suas mentes se relacionam com seus cérebros. Suas personalidades únicas se forma através dessa relação que seus cérebros, seus receptáculos , mantêm com a mente cósmica e seus corações humanos,esse é o lar da sua verdadeira essência,de suas almas. Quando você quebra a relação da grande mente cósmica,com o coração,deixando o  espaço para o reino da razão cerebral,funcionando de maneira mecânica apenas,ignorando os chamados cósmicos e espirituais de sua essência,você rompe com o grande caos,torna-te um ser doente, alienado em seus túneis de realidade falseadas e se transforma na prisão e no túmulo de sua alma. Agora , você deve inocular a si mesmo de sua alma,para se livrar do controle mental imposto,saia do túnel de realidade onde você viveu por anos,não viva uma vida normal,pois ela nada mais é do que uma distração aborrecida que te fazem engolir até o fim da sua vida,até o dia de sua morte, distorcendo tudo aquilo que és...


A caixa de música toca,o fluído rosa flutua nas artérias estelares de Éris...
Um homem em chamas,um porco flutua, uma orquestra de vacas no pasto...
O lado escuro da lua...
Os cães latem na madrugada...
A glândula pineal vibra...
Pulsando com os universos...acordem!
Despertem do sono...
Um violino caótico toca...
Éris toma um chá feito com cogumelos , sementes de ipomeias, pétalas de hibisco vermelho e amarelo com pó de estrelas...

O escritor adormece...
Jodoraw iria despertar...
Lúcifer come o pedaço da maçã dourada...
Azrael, a ave negra da noite sem fim abrirá suas asas...










13 - EGOCRACIA ( PARTE 1)


Lúcifer sai da caverna após sua longa conversa com a grande Kali. O cheiro de incenso e o gosto de ervas fortes ainda estão impregnados em seus sentidos. Ele desce a montanha lentamente,onde a caverna de kali permanecia no topo daquele monte. Em sua pele , não havia mais nada escrito,sua feridas haviam cicatrizado e seu corpo pulsava mais forte e vivo como nunca em sua longa jornada.

Lúcifer sabia que ele tinha que cumprir sua missão cósmica em nome do caos. Sabia que sua grande batalha, sua grande revolução, se daria na cidade nova,onde o grande ego havia formado o centro de seu império. A cidade ficava atrás do vale dos leprosos,atrás da floresta morta dos canibais,próximo do rio onde os recém nascidos tinham suas gargantas cortadas.

Seus olhos brilhavam com o fogo de sua alma,ele agora estava pronto para cumprir o seu ciclo caótico naquele planeta...

Haldol era um homem de meia idade que trabalhava de maneira mecânica e infeliz em seu emprego,assim como todas as pessoas de sua cidade. Ele trabalhava como limpador de narizes dos grandes empresários que eram seus chefes. Conhecia todas as artimanhas de como se limpar um nariz,era um especialista na arte de tirar ranho dos narizes poderosos de seus patrões. Sua vida se resumia a uma comodidade infeliz e suicida.
Quetiapina , sua esposa. Era dona de casa,fazia a janta,o almoço,limpava o chão,banheiros,quartos e limpava as fezes do cachorro. Era uma mulher que vivia sua vida em uma comodidade segura e repetitiva. Rivotril era o único filho do casal,sua vida se resumia às aulas de ‘’como morrer em vida’’ na escola,punhetas em homenagem às moças felizes e sorridentes dos rótulos dos xampus e à sua rede social da internet.

Certo dia,Quetiapina em um surto repentino de tédio,pegou o machado que estava no armário e acertou a cabeça de Haldol, abrindo-lhe um imenso buraco em sua cabeça. Após o ato, a doce esposa não esboçou reação alguma, apenas cortou o marido em pedaços,recolheu o resto do cérebro que estava espalhado pelo chão, guardando tudo na geladeira da família. Quetiapina sabia que Rivotril havia presenciado toda aquela cena,mas ambos sequer esboçaram reação alguma.

Quetiapina alimentou o filho com os pedaços do pai durante 3 meses seguidos numa fartura de carne sem fim. Assados,frito,ensopado,belos bifes,um banquete refinado para aquela família que se alimentava de pilhas ,jornais velhos,pombos e gatos mortos. Quando a carne do falecido pai acabou, Quetiapina defecava ou vomitava na panela,incrementando os pratos criando uma nova forma de se fazer comida,tudo para alimentar seu filho, o querido Rivotril. O garoto comia tudo sem reclamar,sem dizer nada,apenas engolia . Quetiapina, tentava interagir com o filho colocando fogo em seu corpo,dando choques em sua língua,arrancava suas unhas as vezes. Ela até trazia animais de estimação pra o seu filho,depois ela os matava na sua frente apenas por uma diversão sadia em família. Depois de mortos,os bichinhos de estimação viravam grandes banquetes que alimentava mãe e filho.

Para se livrar do tédio noturno,Quetiapina saia pelas ruas atrás de jovens garotas para entreter seu filho que mofava em casa. Quetiapina matava as garotas,arrancava suas peles e as trazia para casa. A dedicada mãe, criou uma boneca de tamanho humano, costurou as peles em volta da boneca,vestiu-a com as roupas do pai morto e colocou as suas próprias roupas íntimas na boneca. Quetiapina deu a boneca de presente para Rivotril.
Ela obrigava o garoto a manter relações sexuais com a boneca enquanto ela assistia tudo saboreando uma bela taça de vinho. Às vezes ela mesma estuprava o filho com pedaços de madeira pontiagudos,só para não morrer de tédio.

Rivotril,era fraco,magro,pálido,olheiras negras e esverdeadas,dedos magros,pele ensebada,cabelo ralo,seu olhar era moribundo. Todas as manhãs ele ficava sentado em sua cama,olhando para o vazio de sua parede mofada e descascada . No andar de baixo,sua mãe ouvia um disco velho em sua vitrola ,uma velha ópera da década de 20,uma raridade nos tempos em que eles viviam.
Aquelas pessoas,ou o que restou delas, viviam num pequena cidade,onde reinava o todo poderoso ego,ele decidia tudo( ele havia se tornado o soberano daquelas pessoas quando ele ganhou vida na cidade dos homens grandes e ensebados) . Possuía uma forma esquisita, o corpo era uma grande gosma verde amarelada,com toques de crueldade nos olhos, seu cabelo tinha cor de narcisismo,sua boca era pura alienação,seus pés mediam o tamanho de uma ignorância,sua cabeça tinha a circunferência de uma perversão,seu sorriso era de plástico com bolhas e sua voz tinha a tessitura,o brilho e o tom de um empalamento. Era uma figura idolatrada por todos que ali viviam, era um ícone daquela época,todos vestiam camisetas com seu grande mestre estampando nela, rezavam em seu grande e suntuoso templo feito em homenagem àquele messias. O templo era feito com corpos amontoados daqueles que ousaram questionar o grande e sábio líder, o grande ego. Todos amavam aquele ser,aquele que havia surgido das entranhas de cada humano que havia vivido e que vivia naquele planeta, antes conhecido como terra, agora  Ego Azul.

A família de Rivotril havia sobrevivido ao final da era antiga,quando a terra foi assolada pelo ódio antigo,onde o grande vírus devastou o velho planeta terra, transformando quase todos os seres humanos em bestas canibais. Algumas bestas ainda perambulavam pelo planeta, tinham aqueles que tentavam se aproximar da grande e nova cidade,mas logo eram capturados e transformados em escravos sexuais ou se tornavam animais exóticos de estimação dos moradores da grande cidade. O próprio Rivotril quando era criança, ganhou uma besta humana como animalzinho de estimação. Ele não durou muito tempo,pois o pai estuprou tanto a pobre criatura, que esta morreu por conta de uma perfuração intestinal. Claro que ele serviu de alimento para toda a família,graças aos dotes culinários de dona Quetiapina.



Todos interagiam em suas redes sociais na nova cidade ,em computadores que ainda funcionavam,resgatados da antiga era(eles usavam o mesmo mecanismo para se recriar a internet que era usado pelos homens grandes e ensebados,da sua recém destruída cidade). O Egobook, era o sucesso entre os moradores da cidade nova,era inspirado nas redes sociais do antigo mundo que já estava extinto, Mas todos nós sabemos o quanto é legal fazer ‘’revival’’ de coisas antigas,só pra ser descolado.
Todos postavam fotos de suas vidas felizes, postavam frases inteligentes roubadas de livros da antiga era, coisas que eles não entendiam mais,apenas postavam por que era legal. Faziam discussões  entre eles mesmos,apenas para ver quem ganhava no número de likes,apenas para parecerem inteligentes e descolados na tela dos computadores de outras pessoas,escondendo suas profundas mazelas,ignorância e medos.

A nova religião daquela cidade era baseada nas antigas religiões monoteístas,mas o grande diferencial , o grande barato daquela religião , era que o deus, o messias estava vivo entre eles,aparecia nas camisetas,comerciais de supositório,participava de programas de auditório,de reality shows,tinha um perfil no egobook. Muito mais divertido que as antigas religiões.

Outro fato interessante nessa religião, era que ao invés de ficar adorando um deus para depois que morrer a pessoa ir para um suposto céu passar a sua eternidade, nessa nova seita,quando as pessoas ficavam velhas doentes ou apenas queriam morrer,elas iam até o grande ego divino e se entregavam para ele,sendo engolidas por seu corpo perfeitamente disforme, servindo de alimento para o grande e novo deus.

Certo dia , Rivotril estava tão cansado e tão entediado daquela vida que ele resolveu desligar o seu computador,deixando um pouco de lado a seu perfil no egobook, sendo que todos os dias ele postava fotos de sua querida boneca ,presente de sua mamãe. Ele foi até o banheiro e se olhou no espelho,o que ele viu não o agradou, há anos ele não esboçava uma única reação,não sorria , não chorava. Seu pai lhe contava que quando Rivotril havia nascido,os médicos tiveram que bater no bebe,espanca-lo, para que este pudesse chorar e dar algum sinal de vida.
Mas naquele dia Rivotril se olhou no espelho e uma súbita vontade de chorar tomou conta de seu ser,sua alma fria começou a doer,sua garganta ardia em chamas, suas lágrimas escorriam pelo seu rosto pesando toneladas,seu corpo tremia inteiro,seu estômago estava embrulhado,sua mente explodia de dor e agonia. Em pleno desespero , Rivotril estourou seus punhos no vidro do espelho ,que lhe mostrava aquela imagem,aquele ser morto que tanto lhe trazia dor. Ao quebrar o vidro,ele viu que existia alguma coisa do outro lado do espelho,parecia uma passagem escura,uma porta,uma janela. Colocou seu rosto ali,gritou e o eco se fez presente,vibrando, ecoando o seu grito naquele local escuro. De repente,sua curiosidade a muito tempo amortecida,estava pulsando em seu peito,querendo sair. Rivotril se atreveu então a entrar naquele local desconhecido a assustador...

Enquanto isso, no templo cadavérico do deus ego, os fiéis realizam um ritual de adoração. O grande ego sentado em seu trono de vidro, observava o ritual em sua homenagem. Os fiéis estavam de quatro,com suas nádegas viradas em direção ao grande ego,com suas mãos abrindo gentilmente as laterais de suas bundas,mostrando seus ânus para o grande deus. Cada pessoa soltava seus gases,todos se regozijavam compartilhando o odor íntimo de cada um,numa festa religiosa e escatológica sem precedentes. Todos peidavam felizes, entrando em transe espiritual com os odores internos que rodeava aquele local sagrado, o frenesi era visível,o êxtase gritava naquele recinto. Depois desse ritual inicial, os fiéis juntavam uma grande massa de muco ,catarro e saliva em suas gargantas,traziam para a boca,erguiam suas cabeças para cima e cada um dos fiéis cuspia aquela massa amarela esverdeada e pegajosa,fazendo com que aquele bolo nojento voasse bem alto acima de suas cabeças para logo em seguida, cair em suas próprias faces. Ao cair em suas faces, o catarro se espalhava por seus rostos felizes e realizados com tamanho ato sagrado,homenageando o sagrado ego. No meio do ritual, o grande ego esporrava em suas pernas o gozo de seu prazer divino,pois durante a celebração de seus fiéis,ele se masturbava observando todos ali no templo. Depois sua porra era recolhida para ser vendia aos fiéis em pequenos potes. Os fiéis levavam aquele esperma do grande ego,para se banhar em casa,ou para beber o líquido sagrado do seu grande deus numa tentativa de ter sorte e de alcançar algum milagre em suas vidas ínfimas.

Do outro lado,Rivotril caminhava naquele mundo escuro,por trás do espelho de sua casa,num mundo paralelo ao seu. Rivotril sentia um medo crescente em seu corpo, ao mesmo tempo uma sensação de um prazer estranho,como nunca antes havia sentido em sua vida precária e doente. Ele sentia medo e também uma sensação de esperança que pulsava em seu peito,renovando suas artérias há muito deterioradas em sua vida estúpida que ele levava do outro lado do espelho...

Éris lê e relê cada página do livro...
Ela parece gostar do que vê...
Deixa um cuspe dourado em cima da mesa do escritor, como uma forma de presenteá-lo...
Logo o ego será dissolvido e a essência do ser brilhará...
O dia do caos se aproxima,o dia da discórdia transcendente...

O garoto caminha por trás dos espelhos,vendo aquilo que ninguém quer ver...
Lúcifer se prepara para a batalha final dos humanos...
O escritor senta em sua mesa para terminar seu texto...
Éris toca em sua flauta a canção do eterno devir...



a besta que comanda os infernos humanos,os infernos os quais você rastejou,lutou,sangrou e renasceu para poder chegar até aqui. Era necessário que renasceste também como uma ave de fogo ,em meio a lágrimas,sangue,dor,gritos e desespero;era necessário que se afogasse em seu lodo , para que pudesse transcender a frágil condição humana,só assim poderás ensinar aos homens a sua única capacidade de se recriar e de transcender a si mesmos,olhando para seus abismos e enxergando o que existe além do lago negro, conhecendo os caminhos do labirinto que levam ao ser,ao coração,ao que se é de verdade. Destruindo assim, o grande ego que reina em seu falso trono de vidro ,com sua coroa de fezes,em seu castelo de espelhos,na sua muralha de fantasias. Saberás o que fazer na hora final,pois eles são como você e tu és como eles,fogo,sombra,luz e o que pode vir a ser ’’


‘’Agora vá Lúcifer, abra suas grandes asas negras , mostre aos humanos que ainda sobrevivem nesse planeta que eles são filhos do caos. Vá, ensine-os a transcender o grande ego,a mergulhar em seus infernos,a olhar para os seus abismos negros,ensine-os a rasgarem suas prisões mentais feitas de papel e a renascerem em suas próprias carnes,assim como você renasceu da grande descida ao inferno.. Ensine-os a morrer,a renascer e ensine-os a ouvir o som da grande música do caos universal,pois eles também são músicos dessa orquestra caótica que toca em seus peitos.’’

‘’Vá,antes que eu desmembre o seus corpo, antes que eu dance sobre o seu cadáver e beba o seu sangue...’’

‘’Shiva irá dançar sobre o corpo do demônio da ignorância...’’

Kali segura uma maçã dourada em uma de suas mãos, olha para o céu vermelho. Lá, a abadia de thelema brilha como fogo. Se despede de Lúcifer empurrando-o para fora de sua caverna negra, dizendo as palavras mágicas : ‘’Lembre-se, faze o que tu queres será o todo da lei. Amor é a lei, amor sob vontade...’’

Kali saúda Éris, em nome do caos. Em Thelema, festas,vinho,prazeres,orgias,alegria,liberdade...as duas se unem num ato erótico,os dedos de Kali tocam os seios prateados do corpo de marfim da deusa ÉRIS. A língua de Kali acaricia o clitóris dourado de Éris. As duas geram um orgasmo cósmico, criando uma galáxia nova,brindando a revolução dos homens e das mulheres na terra...

Lúcifer agora humano, sai da caverna para logo descer a montanha. Carrega em suas mãos um pedaço da maçã dourada que lhe dará a forma de Azrael aos olhos dos mortais adoecidos com o vírus...