terça-feira, 5 de julho de 2016

8 - CULTO DAS BARATAS




Numa galáxia próxima, num planeta muito parecido com a Terra, baratas gigantes vivendo de forma idêntica aos humanos. Seu sistema político era muito semelhante aos deles,suas religiões também . Viviam em trabalhos alienados como os dos humanos e seus governantes e seus sistemas políticos eram tão bizarros quanto os dos terrestres. Cada barata era de uma espécie diferente,cada uma pertencia a uma tribo. Seu tamanho era muito parecido com a altura dos moradores da Terra ,mediam algo que variava entre 1.60 e 1.90 de altura,muito semelhantes aos mamíferos humanóides do planeta terra. Além de se matarem em trabalhos inúteis,além de rezarem para os seus deuses e se destruírem em guerras de intolerância, de se acharem superiores a outras espécies de baratas de outras tribos do mesmo planeta, se embriagavam com inseticidas para aliviarem suas dores existenciais,abreviando cada dia mais as suas vidas insignificantes naquele planeta . Ali a vida das baratas não fazia o mínimo de sentido, engordando suas barrigas de insetos , até ser impossível o vôo deles para se locomoverem. Além de tudo,esses insetos tinham uma diversão compartilhada por todos. Fazia com que todas as guerras acabassem, fazia todas as fábricas pararem, fazia todas as famílias de insetos sentarem juntas em suas casas, para assistirem o entretenimento. Aquele era o único programa que passava em suas televisões , passava durante à noite e era um grande reality show.  Os outros planetas daquela galáxia acompanhavam apenas 30 minutos daquele show,pois os moradores dos outros planetas consideravam em sua maioria ,como sendo aquele programa uma grande exploração e com altas doses de apelação , achando que aqueles que participavam do show eram personagens infelizes,doentes,péssimos atores,personagens que não iriam acrescentar em nada nas vidas deles. Nesses planetas,os seres que lá viviam, até duvidavam se aqueles personagens eram reais,ou se era tudo falso,criado para ludibriar a todos,fazendo uma lavagem cerebral em massa para o controle governamental da população, através de uma alienação generalizada que aquilo poderia causar.
O diretor do programa pertencia ao planeta das baratas,ele lucrava muito com aquele show bizarro e de péssimo gosto artístico. Mas pra ele isso não importava,o importante era o poder que aquele show lhe dava,tanto em seu planeta , como nos outros planetas que compravam a transmissão de 30 minutos diários do show. O diretor dizia que aqueles seres vistos no programa, pertenciam a uma espécie que descendiam de um experimento realizado por moradores da estrela Sirius, onde eles decidiram cruzar as baratas com os macacos e os porcos daquele mesmo planeta. Foi nessa junção de genética que os atores do show grotesco haviam sido criados.
Aquele lugar famoso nas telas do planeta das baratas era conhecido como o planeta Bunda,mas para os moradores do planeta bunda ,ele era conhecido como planeta terra. As baratas os chamavam de baratoporcocacos. Já os protagonistas do show,moradores do planeta terra(ou planeta bunda, se preferir),as principais estrelas daquele show intergaláctico, chamavam a si próprios de humanos. Algumas raças de outros planetas que compravam o show,chamavam os baratoporcocacos (ou humanos ) de loucos, atores falsos, macacos falantes, armazéns de gases ambulantes, porta parasitas,etc.
Os únicos que davam total credibilidade e que eram fãs reais daquele programa,daquele reality show,eram as baratas.
O show apresentava a vida de cada um dos moradores do planeta Bunda,ou se o leitor preferir,planeta terra. Mostravam tudo o que acontecia na vida dos baratoporcocacos resumido em 4 horas diárias.O show mostrava as guerras,as brigas,as crenças religiosas e seus cultos,suas mazelas ,etc. Mostravam o nascimento, á vida, a morte de cada um, mostravam os assassinatos em massa e toda a estupidez humana em sua plenitude . Nos finais de semana o show exibia apenas os humanos mais velhos. Nos fins de semana , se assistia nas telas como seria o fim da vida destes participantes,o sofrimento,as dores e as doenças causadas pela velhice dos terráqueos ou dos bundaneses. Tudo o que acontecia no planeta e com seus moradores era transmitido para os insetos e para outros mundos que compravam o pacote diário do show . Mas os grandes fãs mesmo eram as baratas gigantes do planeta dos insetos. Alguns criticavam aquele planeta  das baratas,dizendo que o show fazia tanto sucesso ali pelo simples fato do programa ser uma paródia das vidas tristes,sem sentido e alienadas daqueles pobres insetos cascudos gigantes. Alguns outros planetas, diziam que aquilo era uma exploração da vida daqueles seres,sem eles saberem e consentirem.

O esquema criado pelos insetos para colocar as micro câmeras nos humanos do planeta Bunda ou Terra,ou nos baratoporcocacos ,como preferir chama-los, era o de colocar pequenas baratas robôs no planeta; todas elas com pequenas câmeras acopladas em seus corpos e com outras micro câmeras que seriam liberadas em nossas águas e comidas , através dos ovos das baratas robôs. Ao serem ingeridos os alimentos e a água com as micro câmeras,elas se instalam em seus corpos,onde tudo passa a ser transmitido aos insetos pelos olhos dos terráqueos/bundaneses. E do lado de fora dos corpos dos frágeis humanos/baratoporcocacos, as pequenas baratas robôs iriam filma-los, sem que os baratoporcocacos/humanos percebessem . Cada barata que um dos participantes do programa matasse com uma chinelada,achando que seria um simples inseto insignificante ou um problema de higiene residencial , é na verdade mais um problema técnico a ser resolvido pelo diretor do programa.

Um dos maiores acontecimentos do programa estava para acontecer. Um ser novo tinha acabado de chegar ao planeta Bunda,ou planeta Terra. Ele vinha de um lugar distante,ele estava fazendo uma viagem por mundos e realidades estranhas,até ele chegar ao planeta Bunda ou terra. Ele ainda não sabia quem ele era naquele momento. Mas todos nos planetas que acompanhavam o show e principalmente os moradores do planeta das baratas gigantes,sabiam que ele iria liderar uma revolução no planeta dos humanos (baratoporcocacos).  Ele iria conduzir uma rebelião anárquica e caótica, como estava sendo anunciado nas propagandas diárias. O show estava sendo anunciado com grande furor,todos criaram grandes expectativas acerca do líder da rebelião e da revolta que estava explodindo naquele planeta. As casas de apostas estavam lotadas todas as semanas.

E a vida corria dessa maneira nesse planeta,o planeta das baratas. Todos passavam o dia loucos para chegar em casa e assistir o seu único e épico programa de tv. Ao mesmo tempo que tudo isso acontecia nos 2 planetas,planeta Terra/Bunda e no planeta das baratas,em uma outra galáxia,não muito longe da galáxia do planeta das baratas, uma outra raça alienígena estava vidrada em um novo programa de tv que acabar de começar.Assistiam fanáticos , sem desgrudar seus olhos do show que passava em seus televisores. O povo da raça dos pernilongos-babuínos assistiam ao seu reality show favorito. O programa se chamava ‘’O culto das baratas’’, onde se acompanhava 24 horas por dia a vida dos seres do planeta barata, que eram viciados em acompanhar a vida dos baratoporcocacos do planeta bunda ...

Não muito longe e nem muito perto dali, o líder da rebelião,o poeta maldito,o escritor louco sangrava pela sua pele rasgada,pela sua obra de arte banhada em sangue. Ele olhou para uma pequena barata que passava por entre seus pés,deslizando suas pequenas patas na poça de sangue que o rodeava, e de alguma maneira,ele se viu nela, naquele pequeno ser. Ele sorriu de maneira paranóica e angustiante,pensando que em algum momento de sua existência já havia sido uma barata,ou que estava no meio de um planeta onde todos poderiam descender delas. Pensou que talvez tudo aquilo estivesse ecoando em algum lugar do nosso universo ou até mesmo em outros universos e que tudo naquele planeta não passava de um grande e terrível espetáculo que deveria se encerrar.

Depois de terminar mais um texto,escrito em sua língua,rasgando todas as suas papilas gustativas,misturando sangue com saliva, enchendo sua boca com o sabor de ferro,escreveu mais um capítulo de seu texto com o velho e sujo caco de vidro que pegara no chão sujo.
O poeta se ergue, encharcado de sangue.  Levantou sua cabeça,olhou para os lados e viu o seu exército de loucos livres , seus irmãos de luta. Havia chegado a hora de dar início a rebelião. Partiram juntos para a cidade que se aproximava no horizonte de seus olhos...

Éris esmaga a pequena barata em sua mão...
Sopra seus restos mortais pelo vento...
Espalhando seu corpo frágil e gosmento pelos jardins de seu palácio invertido, adubando o solo onde crescem suas plantas carpas carnívoras...
Das janelas de sua torre de marfim negro, ela visualiza seu filho conduzindo seu pequeno exército de loucos...
Assiste em pleno gozo a rebelião que se iniciara na terra...
Ela já havia enviado seu filho para proteger aquele pequeno planeta azul....ele tinha a sua importância no grande caos cósmico, apesar de seus frágeis moradores.

O vírus cresce,toma conta de todos os continentes,se espalhando por todos os lados...
A estupidez reina absoluta por séculos, dando vida a um ser que antes vivia silencioso no âmago fantasioso dos pobres primatas pensantes...


5 - O GRITO DOS EMPAREDADOS





Numa tarde qualquer do último outubro negro,numa rua qualquer , morava a família dos felizes. Eles moravam em uma bela casa de paredes pintadas com fezes e portas enfeitadas com os testículos dos homens da casa.  O avô estava sentado no sofá da sala em estado de decomposição avançada,com moscas verdes saindo de sua boca feliz. O pequeno Nestor ,o cãozinho da casa,fazia sexo com a perna do avô necrosado. As crianças menores brincavam de roleta russa no quintal,enquanto o pai estuprava sua filha adolescente de 13 anos, colocando seu membro doente naquele pequeno corpo frágil.
A mãe feliz amamentava o seu bebê de 35 anos na cozinha,segurando o pênis do filho com uma faca , de maneira doce e ameaçadora...enquanto isso, a noiva grávida ,de nove meses ,que havia se enforcado nove vezes com o cordão umbilical dos seus nove filhos,que vão nascer daqui nove dias,quando ela completar noventa e nove anos de idade , olhou  para mim , no portão da casa da família feliz, com lágrimas saindo de seus olhos de girino dizendo: ‘’quando vamos aprender a morrer?quando vamos aprender a nascer?’’


Saindo daquela casa feliz,caminhando pela Rua Qualquer ,olho para aquele lindo céu de azulejos  vermelhos, feito pelo grande jesus,um pedreiro esquizóide que adorava rodopiar de maneira infantil com sua caixinha de pregos ensanguentados.

E o surto psicótico começa ...

Certo dia ouvi a história de um garoto que não dormia,pois vivia com medo de ter paralisias noturnas e ver criaturas horríveis durante as crises. Ele ouvia vozes dizendo coisas terríveis,ele via vultos disformes nos pés de sua cama. Ás vezes algumas criaturas até o seguravam , soltando baforadas pútridas em seu rosto durante suas paralisias noturnas. Palavras eram ditas em seus ouvidos,o calafrio subia em sua coluna, junto de uma ardência em seus rins. Até que numa noite de crise , o garoto resolveu atender ao chamado das criaturas sombrias. Hoje em dia você pode encontra-lo no canto de seu quarto,ou rondando sua cama,basta desejar uma crise de paralisia noturna...

Não atenda aquela voz na noite...

No exato momento que escrevo, um ser apodrecido toca meus ombros,massageando –os com suas mãos gélidas e em pedaços,dizendo boa noite ,soprando em meus ouvidos a canção da noite...gostaria de beija-la mas não posso,pois ela não tem mais os lábios. Ela ergue seu vestido mofado, mostrando sua genitália pútrida, numa tentativa de me distrair com os prazeres carnais do dia e da noite,mas decido voltar para a minha jornada ao abismo, abismo que cavei com uma colher de madeira,em cima de uma ferida aberta em meu peito. Abismo negro que me olha de baixo,ardendo em meu tórax , lambendo minhas chagas,soprando o calor do sol para o horizonte escuro, onde dançam as velhas  de pernas retorcidas em trajes pretos e sujos...

O escritor maldito senta em sua mesa feita de ossos e pele humana cozida,inicia um texto terrível como nunca fora visto naquele mundo de espinhos,entre quatro paredes de banha,utilizando como tinta o sangue quente que espirra de um corte feito por uma navalha em seu pulso esquerdo...

Mergulho no abismo,o fogo queima meus ossos,a descida é longa e feroz,meu crânio se racha pela força esmagadora do abismo,dentro dele,uma nuvem de gafanhotos com asas de navalhas cortam minha pele , com suas asas de lâminas ensangüentadas voando ao som de um zumbido alucinante que ecoa por todo o local...

Ao chegar ao fundo do abismo,meu corpo se despedaça, e cada parte dele  foge para um canto escuro do abismo negro. Sobra-me apenas meu cérebro e meu coração, meus olhos se escondem atrás de um abrigo escuro...
Minha alma correu nua para se abrigar naquele lodo esverdeado ....
Resolvo caminhar sendo um cérebro e um coração,seguindo numa jornada atrás das outras partes de meu corpo que se perderam naquele local...num canto vejo um homem sorridente que come agulhas,no outro vejo abelhas-língua colhendo o mel ensanguentado de uma vagina-flor menstruada, para trazer o doce alimento para a sua colméia ...Ah!Como eu queria ter meu nariz nesse momento,para sentir o doce aroma das vaginas –flores,como queria ter minha língua nesse momento ,para lamber e sentir aquele doce mel sangrento.

Andando por aquele abismo negro ,vejo uma jovem mulher masturbando-se com uma velha navalha cega,sinto o prazer jorrar em seus olhos,enquanto ela rasga ferozmente seu clitóris ,gemendo em forma cúbica,salivando por sua boca doente. Esta doce cena, faz lembrar-me das brincadeiras das crianças escravas do leste, jogando coquetéis molotovs nas casas dos grandes senhores com cabeças de porcos,gritando por uma liberdade que talvez em seus sonhos um dia chegue.

A travessia.

Agora sou um cérebro e um coração, ‘’caminho’’ pelo abismo apoiado pela minha coluna vertebral ,deslizando minha espinha dorsal por aquele chão fétido e cheio de agulhas negras contaminadas . Logo a frente , vejo minhas pernas e braços sendo dilacerados por dezenas de hienas e chacais famintos. Seus dentes são pregos , rasgam minha carne. O hálito das bestas envolvem meus músculos expostos,meus ossos e nervos,lambendo o sangue da minha carne vermelha e brilhante. Os chacais e as hienas carregavam nomes escritos com sangue em seus pelos,nomes de velhos conhecidos meus e teus; um dos chacais carregava o nome  haldol,o outro , rivotril,andavam em bandos ,dilacerando sonhos,cérebros e almas criativas,com seus dentes de pregos banhados em sangue.
Conduzindo as bestas selvagens , estava o velho açougueiro de branco,em seu jaleco amarelado, cheio de sangue ,com restos de pele ,carne e pus...

Mais a frente, 3 homens com sacos plásticos negros cobrindo suas cabeças,cavavam uma cova dentro do abismo; dentro do caixão ,havia uma criança azul carregando um sorriso morto que dizia: ’’viva ,mesmo que isso custe a sua vida...’’
No meio do abismo negro um velho com o corpo tomado por chagas salientes e abertas. que gritavam pela dor do novo mundo que está para nascer na próxima alvorada vermelha. Do outro lado um anão leproso toca seu violino feito com o pedaço de um braço envelhecido,veias de porcos e casco de tartaruga.
Em sua canção  ouço o lamento do fogo que arde em meu peito em forma de aquário,onde peixes com o formato de esperança e dor, nadam nas águas escuras do meu ser .

No alto do monte feito de bebês mortos , o poeta ébrio  recita um poema com suas vísceras nas mãos banhadas em sangue...



Era uma ode ao passado e ao futuro que carregamos dentro do nosso pesado piano feito de carne e ossos.

No abismo.


No meio daquele abismo negro,vejo em meio ao lodo,sangue,fezes,lágrimas,pus,cadáveres,gritos,agulhas,escorpiões azuis voadores, e  as partes de meu corpo penduradas em estacas de madeira com placas contendo os seguintes dizeres; ‘’A culpa é sua,o pecado original é seu,você o matou...’’

Nascemos culpados nesse mundo. Antes de tudo,éramos fogo,estrelas,céu,lua,terra,noite e dia,chuva e sol,vento e mar;éramos estrelas cadentes e brilhantes...teus lábios nos meus fizeram me lembrar deste passado glorioso,antes de cair neste abismo negro e me acorrentar nesta vida de caranguejo,onde eu e todos os outros estão presos , condenados a correr atrás de nossas partes despedaçadas por aqueles que criaram tudo isto, antes dos caranguejos chegarem...

O Escaravelho.

Dentro daquele abismo eu vi um escaravelho vermelho vindo até o meu encontro e assim me disse; ‘’olá pequena alma dolorida e perdida,ouves estes gritos em seus ouvidos? Pois convido-o a se concentrar e ir até o encontro destes gritos ,pois lá você vai entender o que está acontecendo com você,não tenha medo,você finalmente irá se encontrar ...’’

O que aquela figura bizarra estaria tentando dizer com aquelas palavras de vidro que cortavam a minha mente com questionamentos vindos de terras distantes,onde um sol brilhava de maneira dourada,numa terra onde um belo rio corria em seu leito de forma viva e pulsante . No meio deste rio havia um coração enorme,vermelho e quente, batendo de maneira frenética  e cheio de vida. De alguma maneira aquele coração parecia –me familiar,aquele som era conhecido,sua batidas,aquela alma,
aquela chama,aquela paixão...

Resolvi enfrentar as vozes e ir de encontro ao terrível buraco negro daquele abismo,onde serpentes com cabeças do passado e do futuro deslizavam pelo lodo,escorpiões saiam do ânus de uma velha que estava sendo estuprada por um cão de 3 cabeças . Havia duas mulheres carecas , fodendo com um pênis de madeira ;cadáveres copulavam de forma bizarra,de maneira frenética, seus membros apodrecidos se desfaziam com cada movimento naquela orgia cadavérica, velhas pútridas se arrastavam de quatro,pareciam pequenas aranhas penduradas nas paredes sujas de excrementos daquele maldito abismo doentio...ali havia uma criança com roupas sujas e com o rosto pálido,olhos negros e  boca negra. Ele gritava no meio daquele corredor escuro , de sua boca saiam objetos eletrônicos de nossa linda e perfeita modernidade,saltavam de sua boca enormes celulares,computadores,comidas enlatadas e industrializadas feitas com o sebo de nossos suores do dia a dia, numa tentativa enferma nossa de ganhar o ‘’pão de cada dia’’. Daquela boca demoníaca saiam gritos em forma de estupros,em forma de produtos vendidos para os pequenos consumidores ;saiam escolas alienadoras,pais e mães destruidores de infância,pedófilos,pequenas escravas que trabalhavam em carvoarias de algum lugar distante, onde a nossa sábia mente se perde no canal de vendas . Nesse mundo somos tão avançados quanto um fungo ou um tumor no meio do saco de um velho decrépito.
Os gritos daquela criança morta escorriam em meio a sua saliva negra e contaminada .

E assim, a criança de vidro canta sua canção no alto da nuvem de esterco...

Após vivenciar este espetáculo doentio,uma lágrima tentava sair de meu olho,mas havia uma grossa camada de cimento que entupia minhas glândulas lacrimais,a dor estava insuportável,meus olhos estavam prestes a explodir,era necessário que aquela lágrima caísse de meus olhos doloridos e cheios de poeira...sentia uma dor horrível em minha garganta , pois aquele choro precisava desesperadamente sair de meu corpo duro e de madeira. Havia uma lacraia habitando minha garganta que me impedia de falar,gritar,e chorar. Esta lacraia vivia ali por anos;lembro que ela havia se instalado ali na mais tenra idade,quando comecei a perceber que estavam pintando o sol de preto , o céu de vermelho,quando percebi que estavam me  vendendo uma promessa de um céu mais bonito do que aquele que eu podia ver.

Neste momento começava a entender o motivo deu estar perdido ali naquele abismo,assim como todos os outros homens de plástico.Estamos perdidos no mesmo abismo que nos prende num cárcere mental que dura anos,séculos,desde que resolveram criar dogmas,estados,países,nações,religiões,templos,dinheiro,escolas,trabalhos estúpidos,acordar cedo para ‘’ganhar a vida’’,armas,exércitos,bandeiras,nações ,regras de vidro,mentiras de borracha,o eu e o você...

.....´´ Onde está a sua vida?onde está Você?Onde você se viu pela última vez?onde você se perdeu?Onde estaria você neste abismo?``
 Gritou a voz ácida no meio do abismo negro...

Naquele momento a lágrima endurecida escorreu pelo meu rosto ressecado , desentupindo o cimento que tapavam as minhas glândulas lacrimais...

Dentro daquele abismo infernal, um velho mago negro veio até minha direção,carregando seu estômago na mão direita ,seu cérebro na mão esquerda e seu coração estava acima de sua cabeça,pulsando de maneira dourada e brilhante...

Ele sentou –se  nos pés de uma árvore feita de sonhos perdidos e esperanças dilaceradas,sua boca estava costurada assim como seus olhos; suas palavras saiam de uma flauta velha que ele havia tirado de seus ouvidos,ele a tocava com suas narinas e dali saiam suas palavras mágicas,coloridas como o sorriso de uma criança ao sentir o toque das águas geladas tocarem seus pés pela primeira vez.

‘’Saiba que você está aqui neste abismo,dilacerado e perdido em sua busca,mas também,está numa cama ,imóvel,sendo mantido por aparelhos  num hospital,em  coma,rodeado por seus familiares,no meio do século XX. És também um esquizofrênico aprisionado em um hospício do século XIX ,onde sofres as piores mazelas que teus semelhantes lhe causam para poder assim te controlar e te confinar,isolando-o do mundo ,pelo simples fato de não entenderem sua forma única de ver , vivenciar e denunciar o mundo. Eles apenas o fazem por não te entenderem, por não entenderem a si mesmos, por temer suas idéias novas e por temerem as idéias deles, que são velhas, que os aprisionam em seus corpos cadavéricos,com suas almas tomadas por chagas que os atemorizam  . Tu és um psicólogo no século XXI,atendendo pessoas que estão morrendo por dentro,que estão mergulhados em seus calabouços internos,que estão sendo devorados pela vida fantástica,plastificada,falsificada,fantasiosa,cheia de espetáculos,simulações e simulacros . És neste momento ,todos estes seres no tempo e no espaço,em todos os cantos e mundos;és uma barata sobrevivendo num mundo pós apocalíptico; és um ser de outra galáxia ,que sua espécie humana deste mundo ainda não conheceu. Estás tentando salvar a barata que existe em teu peito e no de teus semelhantes,que rodopiam em volta de si mesmo,com sua barriga para cima tentando dar seus últimos suspiros de uma vida rodeada de estercos, a qual não queres sair nunca,por puro medo e covardia de se realizares e tornares o que são de verdade. Tudo o que fizeres agora,tudo o que pensares e decidires , será sentido por todos estes outros de VOCÊ,vivendo em outros universos e espaços,sua vida e escolhas influenciam a vida de seus semelhantes,das plantas,da terra,da lua,do sol,da terra ,das estrelas e do universo.Tu és o todo,tu és o nada,tu és o caos e a ordem,viva por isso,exista,seja,viva e transborde por seus poros,assim como o sol ao amanhecer em tua janela,acariciando e aquecendo sua pele na manhã de céu azul. Deixe seu coração amanhecer,deixe suas lágrimas escorrerem ao beijar os lábios de sua amada,deixe suas correntes se arrebentarem pela força de seus sonhos,deixe sua criatividade fluir como nas brincadeiras de criança;criança que  você foi obrigado a enterrar nas profundezas de teu inferno;inferno o qual você foi obrigado a criar para poder suportar este mundo decadente que herdastes de outras eras. Seja você aqui,hoje,agora,seja verdadeiro com você e seja o caos que destrói e cria a vida.’’

‘’Vive encarcerado em seu peito,sua alma foi emparedada,seu coração está gelado e úmido . Seus antepassados ,por não entenderem a natureza deste planeta,por não entender o universo e as estrelas,por não entenderem suas vida e existências,por não conseguirem lidar com suas unicidades,por temerem a vida e a morte,criaram um mundo governado pelo medo. Criaram o estado governado pelo rei polvo amarelo,para controlar,massificar,alienar,embrutecer,esfolar,dominar e matar tudo aquilo que é temido; a liberdade,a vida,a criatividade e a existência única de cada um. Criaram o dinheiro de merda que te faz vender sua alma,seu suor,seu corpo e criatividade,suas irmãs ,sua mulher e teus filhos. Fizeram você acreditar numa falsa sensação de liberdade e igualdade ,fizeram você engolir as ideologias dos babuínos da bunda azul,a ‘democracia’ dos orangotangos voadores, vivendo numa sociedade onde tudo é um espetáculo,inclusive sua morte.
Criaram a família dos felizes,onde você nasce livre como criança e aos poucos vão te matando com as neuroses de teus pais de gesso,de teus avôs empalhados ;onde você é obrigado a matar sua personalidade em nome da sagrada família de vidro. Inventaram as escolas de gados, que servem apenas para você matar sua criatividade e espírito livre em nome da nação , do país,obedecendo ordens,andando em fila,aprendendo inutilidades,sendo massificado,massacrado e coisificado,para viver como um cidadão comum e de bom exemplo,que mata apenas quando está em casa. Criaram as religiões das fezes de ouro,uma projeção dos homens em seres irreais que nada mais são que a  realização daquilo que o medo humano impede o homem de ser. Religiões que exploram a fé ,a dor e as fraquezas do homem,explora o medo da morte e o medo da vida.Destroem seus sexos ; fizeram você acreditar que és uma besta pronta para matar a qualquer momento,criaram tantos dogmas,filosofias,teorias que nem sabes mais quem és;vives petrificado e caminhas como um autômato,tu não passas de um caixão bem decorado andando por ai.’’

‘’Quando vai rasgar essas suas penas de galinha ,quando vai rasgar essa carcaça de porco em decomposição,quando vai parar de se alimentar de unhas antigas e sujas,quando vai se tornar aquilo que és,aquilo que seu peito clama por ser todos os dias? Preferes cegar teus olhos olhando para o Sol negro de tuas manhãs cadavéricas? Quando vai reagir?’’

Olhei para o céu daquele abismo, choviam fetos ensanguentados das nuvens de útero do céu . Percebi que as partes de meu corpo estavam na boca de um troll negro gigante,ele estava fumando meus membros em seu cachimbo mágico ,feito com crânio de baleia virgem; ele olhava para mim e sorria com seus dentes sujos ,banhados em minhas histórias e dramas pessoais,em seus dentes estavam minhas lembranças e memórias,em suas tragadas subia uma fumaça com todas as minhas esperanças,tristezas,amor,prazeres,lembranças,amigos...nesse momento,sentia que pequenas crianças sujas com fezes secas no rosto, tentavam subir em minha espinha dorsal, onde eu estava me apoiando para poder caminhar naquele abismo infernal. Enquanto subiam em mim,cantavam uma canção sombria e estridente, o troll negro e gigante levantou-se e veio em minha direção.Quando chegou perto de mim,a criatura negra,soprou um baforada de seu cachimbo,fazendo com que meu corpo voltasse ao normal,transformando-o naquilo em que sempre fui,antes de me despedaçar durante minha queda neste abismo sombrio, meu corpo estava finalmente restituído.

Ao olhar para meu corpo vi que existia um buraco em meu peito de onde o meu coração saiu e começou a conversar comigo,sob os olhares do mago negro,do troll gigante e de todas aquelas criaturas malditas daquele abismo diabólico...
 O coração disse ‘’ Agora sejas quem você é , tu não vais mais anestesiar sua alma,não vais mais tentar destruí-la,este é o seu verdadeiro EU ... realize-se,essa é a vontade do universo,respeite essa vontade,você faz parte de tudo,pois sua alma é o universo inteiro,esqueça seus deuses e seus demônios,eles estão apenas nas cabeças das pessoas que precisam deles para não viverem suas próprias vontades, esse abismo foi cavado por você,ele estava dentro de você esse tempo todo,pois sempre ignoraste seu verdadeiro eu,hoje teve a coragem de conhecer ,encontrar e enfrentar seu eu verdadeiro,por isso foi doloroso para ti,mas só nascemos e renascemos em meio a dor,choro e lutas.Até hoje não assumistes a sua responsabilidade de possuir um eu interior sagrado e superior, por isso sempre foi mais fácil fugir para as suas drogas,televisão,dinheiro,trabalho alienado,sexo morto e álcool para anestesiar a dor de não saber como ser. Destruístes aquela falsa estátua de madeira podre que te deram pra carregar pregada em suas costas curvadas e cansadas,viveu acreditando que aquilo era você. Agora levante , és o mestre de ti,és o senhor de  raios e leões, pastor de tempestades que brotam de seu peito,deixaste de viver no velho rebanho de ilusões...’’


´´De agora em diante,a partir dessa rebelião interna,sejas tu ,viva quem você é’’.

Naquele momento,meu coração voltou para o meu peito,asas negras saíram de minhas costas,olhei para meus pés e vi que ali existiam garras , sabia que agora podia voar do jeito que deveria,como minha alma sempre desejou. E assim foi feito,até o horizonte,até as estrelas da minha imaginação,até o sol que pulsa em meu peito.

No meio do vôo da ave de asas negras,uma sirene estridente toca,vozes são ouvidas no fundo daquela cena : ‘’O paciente apresenta um quadro grave de esquizofrenia paranóide,intercalando com momentos de euforia e estados catatônicos ,possui o delirio de ser um grande poeta que cura almas doentes, em suas alucinações , acredita estar em uma jornada caótica sem fim. Dr. ele simplesmente acredita...’’

Gargalhadas são ouvidas ao fundo...


Éris segura o pássaro em suas mãos,acaricia-o. Em um gesto suave,devolve-o para os sonhos do viajante das estrelas, do filho da luz,da estrela da manhã, devolve o pássaro para dentro dos sonhos humanos do herói negro que iria iniciar a revolução no mundo, onde a epidemia da estupidez humana tomava conta de tudo. Onde o vírus do ódio antigo se espalhava por todos os cantos. Éris sabia que o caos necessitava de sua vinda, por isso ela o testava e o treinava na dolorosa arte de ser humano e mortal. Éris o preparava para a luta futura. Enquanto isso, Éris olhava para o outro lado do universo e via o jovem escritor criando seu texto maldito. Ela segurava em suas mãos sua maça dourada...



 ART IMAGES SETH SIRO

4 - TERRORISMO POÉTICO






Sentado com o meu  cu no formigueiro,sinto rasgar a pele do meu períneo e do meu escroto ; tiro uma velha navalha de meu bolso. Tenho muita dificuldade para cortar os pulsos,pois a navalha está cega e enferrujada. É doloroso e duro de se chegar até a carne; tendões e nervos se arrebentam e estalam.  
Meu sangue jorra pelo chão alimentando a terra úmida e podre,onde crescem as plantas carnívoras que se devoram. O sol bate na minha carne aberta,o sangue espirra,fazendo-o brilhar de maneira escarlate e alegre. De dentro das minhas veias, vejo um sorriso em meio ao sangue e a carne pendurada sobre o meu braço, vejo um sorriso negro do cancro que cresce em mim... tento escrever um poema final,usando como tinta o meu próprio sangue.
Na minha frente ,um velho de 13 anos me observa e canta a seguinte canção:

Passos lentos
Ossos fracos
Sem dentes na boca
Os cabelos se foram e os poucos que restaram estão brancos
Já não decido mais quando vou defecar
Minha urina escorre pelas minhas calças
Meu corpo é frio como um necrotério
Minhas vestimentas mais gloriosas são minhas fraldas geriátricas
Meu coração se arrasta em meu peito
Meus amigos se foram,nem os rostos ficaram em minha memória
Meu amor jaz num terreno baldio...
Meu nome é ... você

Assim o velho cantava sua música de hálito podre ,com seus testículos à mostra, repleto de chagas leprosas negras...

Ontem fiz as pazes com o abutre que vem todas as manhãs devorar meu olho esquerdo. Disse a ele:  ‘’Bom dia velho amigo, como vai devorar meu olho hoje?’’
Suas asas negras sobrevoaram por cima de minha cabeça,até que o sol mostrasse sua face escondida por detrás das montanhas azuis, onde vivem meus sonhos e onde morrem meus sonhos. De lá que vem a mais linda música flutuando com o orvalho do amanhecer,os raios solares que aquecem a pele da linda moça que vive no lago,que chora lágrimas de sangue pelo seu amado que nunca chega...
O desejo de copular com ela passa pela minha cabeça e por meu pênis, mas como chegar até lá? Decido então pegar carona com a grande libélula das asas de vidro, ela me coloca em seu ventre viscoso,onde fico grudado por dez anos sem conseguir respirar, até ser expelido por sua boca de inseto, sendo regurgitado dez anos depois no meio do lago .
Com a água no peito , tomo a linda moça em meus braços e beijo sua boca,sinto o sabor de sua saliva quente e doce; em minhas narinas sinto o cheiro  doce de sua pele branca...chupo os seios,lambo os mamilos rígidos como morangos prontos para serem colhidos com a boca...
Sua vagina,lisa,vermelha e quente abre-se ,como uma flor na primavera,molhada pela chuva de prazer que escorre por suas pernas,exalando o odor de sua carne prazerosa e convidativa; sinto um animal feroz enlouquecer dentro de meu peito,querendo devorar aquela linda figura. Minha língua acaricia com força sua rosa vaginal,sugando o líquido de seu desejo...faço meu pênis penetrar sua alma,bebendo de seu suor,me entorpecendo com seu cheiro e com a música de seus gemidos em meus ouvidos, enquanto ela puxa os meus cabelos,pego sua crina vermelha prendendo-a em minhas mãos,domando aquela alma de pele lisa e de sexo diabólico;sua nuca desliza em meus dedos, sua pele fica avermelhada como o mais terrível dos demônios escondido em Hades,seu gozo faz com que meu pênis exploda dentro de seu corpo,fazendo jorrar o sêmem quente em sua flor avermelhada. Neste momento nossas peles se rasgam, soltando-se de nossas carnes, estamos nus ,sem nossas peles...sentimos um novo prazer,nossas carnes ensanguentadas se tocam,nossos nervos pulsam um no outro,nossos músculos se entregam um ao outro,numa dança frenética de carne,nervos,músculos,veias,sangue e coração; ao nosso lado, nossas peles dançam uma doce valsa de sangue...
Visto minha pele,enquanto ela olha pra mim e diz: ‘’não chorarei mais ,sei quem és tu,espero você desde o século inicial,te esperei na janela,naquele dia chuvoso,te procurei por entre as nuvens,pedi você a lua,te aguardo com o vento,te encontro em meus sonhos,vive em minha pele desde que nasci,estamos na mesma célula,somos um e muitos em nosso amor,nesta vida,nas estrelas,no universo.Quero que hoje você faça coisas boas em seu dia,só não ouça a velha navalha cega. Seus olhos negros beijam minha alma numa despedida de reencontros eternos...beijo seus lábios vermelhos e me despeço; até o próximo reencontro eterno e que seja o último, enquanto ela retorna ao seu lago profundo,onde ela vive aprisionada e com medo de sentir o calor do Sol em sua pele,segurando suas emoções grandiosas ,pois teme a pequenez doentia do mundo fora do lago : ’’estariam as bestas prontas para a grandiosidade de minha alma?’’

Monto numa galinha gigante com as vísceras à mostra,ela está sem penas e seus órgãos estão pendurados em sua barriga enquanto ela corre...suas garras se enroscam em algumas vísceras ,despedaçando a carne,ficando  pedaços sujos de carne presos entre seus dedos.
Ela me leva até uma procissão . Caminhando em fila, vejo algumas freiras com as bocas e os olhos costurados se masturbando com crucifixos velhos do antigo salvador lagarto, algumas crianças siamesas dividindo o mesmo corpo,engatinhando pelo chão de maneira confusa...algumas cabras sem as patas se arrastam para acompanhar o grupo que segue a procissão. Todos seguiam uma figura que caminhava lentamente na frente de todos os cegos. É um velho de dois metros de altura,com vestimentas negras,seu chapéu  negro e pontiagudo,seu cajado é feito de pele humana com uma cabeça encolhida em sua ponta. Chagas enfeitam seu rosto velho,seus dentes são negros,sua boca roxa e envelhecida, os dedos magros e ossudos...uma bolsa de colostomia sai de seu peito, por onde o velho defeca suas verdades...seus pulmões velhos já não funcionam mais,ele usa um balão de oxigênio conectado ao seu estômago. Seus seguidores respiram por tubos ligados ao ânus do velho,cheirando seus  gases da sabedoria....a cada novo gás solto pelo velho do cajado, seus seguidores inalam felizes e em êxtase sua essência intestinal de cadáver em decomposição. Dali que sai a verdade que os acalma,que os deixam felizes em suas existências dúbias e cheias de dor.Aquele odor trazia sonhos  e esperanças para suas pobres vidas finitas e cheias de cicatrizes...
Uma velha se arrasta em desespero atrás da procissão ,ela está carregando sua casa de caracol em suas costas arqueadas, aquele peso monstruoso quase a derruba no chão,mas seus esforços em chegar até o velho e seguir a procissão são heróicos, um de seus braços se separa de seu corpo dizendo a ela: ‘’ não agüento mais isso,não quero fazer parte de sua morte em vão...’’
De repente o velho ancião cai em frente a procissão , sendo acompanhado por seus seguidores que se jogam no chão para imitar seu velho mestre,como num estúpido ritual...
Ele se levanta,olha para trás e diz: ‘’Levantem-se tolos símios,nunca morri me arrastando...’’

No meio da procissão , um menino corta com uma navalha os olhos de sua mãe,passando lentamente o fio da lâmina pelo globo ocular,fazendo escorrer um líquido viscoso daqueles olhos maternais , enquanto contemplo aquela bizarra procissão...
O grande piolho dança em meu cabelo,faz uma orgia com seu colega percevejo que mora em meu ouvido,sinto suas patas dançando o seu sapateado infernal em meus tímpanos,cantando sua velha canção de inseto, enquanto contemplo aquela negra procissão...
No monte amarelo ,um soldado usa seus pâncreas como gaita de fole,tocando um velho hino de guerra para os velhos heróis do glorioso infanticídio de outrora . Em comemoração a gloriosa e inesquecível noite da  ritalina, enquanto contemplo aquela estúpida procissão...
Neste mesmo monte ,avisto um garoto preparado para se enforcar em seus próprios pensamentos nos galhos da velha árvore de manteiga feita com esperma de chimpanzé, enquanto contemplo aquela maldita procissão...
‘’Por que está se enforcando com seus pensamentos garoto?’’ pergunto.
‘’Meus pensamentos são a minha verdade,sigo-os com paixão,eles são meu deus,eles são todas as respostas para a minha vida . São neles que encontro minha segurança,eles que me dizem o que é certo e o que é errado,neles que carrego as leis de minha terra,eles me dizem como eu devo ser ,de acordo com as leis sagradas ... ontém fui falho com as leis de minha terra,então devo me enforcar com meus pensamentos, sou um bastardo fraco,não mereço viver em minha terra...’’
‘’Pois ouça garoto,a única terra real e que verdadeiramente lhe pertence é esta que está em baixo de sua pele,a única terra que deves adorar é aquela que está por baixo de seus músculos,onde os rios de sangue são as suas veias que alimentam o seu coração puro...a única voz que deves ouvir e que dita as leis as quais deves seguir , é a voz que grita ensangüentada,dolorida,rouca e apaixonada em seu peito; é aquela voz que aprisionaste em sua garganta por acreditar nas regras e leis de sua falsa terra, leis falsas que não te conhecem,que não sentem o que você sente,que não enxugam suas lágrimas,que não conhece o sabor do seu amor,que não conhece o gosto do seu beijo,que não conhece sua criatividade estelar,que não conhecem suas paixões;leis que não são suas e nem pra você... não exista pensando, sinta existindo...o sentir é real;seus pensamentos mentem sobre você,eles são aquela víbora venenosa que fora colocada em sua vida desde que você era uma pequena criança;não teve escolhas naquele dia, você foi engolindo toda aquela mentira plástica por acreditar naqueles que se diziam de sua terra. Sua terra é você,plante seus frutos em seu jardim e cuide dele,pois ele é só seu;o Sol que brilha e aquece seu jardim está em seu peito,ele é você... procure outros jardins bem cuidados para compartilharem seus doces frutos,busque outros Sóis para brilhar e aquecer junto de ti a vida que pulsa em seu peito ’’.
Naquele instante o garoto pegou sua forca de pensamentos e a transformou em uma escultura não terminada,pronta para ser esculpida pelo artista que vivia nele,e em seus pés ,um belo jardim começava a crescer. Tudo isso acontecia enquanto contemplava aquela pútrida procissão...

Enquanto contemplo aquela estranha procissão, duas bocas se abrem em minhas têmporas,uma de cada lado . A boca da têmpora direita diz :’’veja aquelas pessoas seguindo felizes a procissão,por que não se junta a elas?’’
A boca da têmpora esquerda diz: ‘’você sabe o que tem de fazer,ali não é o seu lugar.’’
Boca da têmpora direita: ‘’vá até lá,veja a felicidade estampada nos rostos daquelas pessoas,veja como a vida é fácil para elas.Nunca se sentem só,sempre sorrindo,nunca chorando,ali não há dor,só há torpor.’’
Boca da têmpora esquerda : ‘’você é livre para seguir aquela procissão,mas sabes que estará traindo o que tens de mais genuíno em seu coração,sua liberdade e sua paixão pelo vinho da sua vida.’’

Boca da têmpora direita: ‘’ali é cômodo,não precisa escolher,não precisa raciocinar,não precisa arriscar,não precisa  sentir,não precisa sofrer,não precisa amar e se apaixonar,pois tudo já está pronto,não há finitude,não existe medo,não existe morte,não há de se responsabilizar por  seus atos...basta seguir o velho e a procissão.’’

Boca da têmpora esquerda : ‘’ter uma vida cômoda é suicídio,não escolher é ignorar a música da vida,não raciocinar é alienar a sua criatividade e genialidade naturais.Sem a beleza do amor e da paixão nos tornamos cadáveres a procura de uma cova rasa para alimentar as larvas brancas. A finitude é nossa ,o medo é uma bússola nessa existência única e sem repetições. Responsabilzar –se por seus atos nesta vida,significa ter respeito com sua essência e ser o guardião da chama que arde em seu peito. A morte só existe na cabeça dos que já morreram vivos; a morte só serve para nos lembrarmos de que somos o fluxo vivo do universo, que morre e renasce todos os dias , a cada verão, a cada chuva,a cada paixão, a cada lágrima. Ela é a dádiva que temos que nos faz lembrar de nossa unicidade e do nosso tempo infinito, o qual chamamos de agora. Não temas a morte pois tu morres e renasce todos os dias,em cada palavra,em cada ato,em cada dor,em cada beijo e em cada orgasmo que tens à noite com sua amada...’’
Neste momento , a procissão segue com os passos lentos , as pessoas vão se acotovelando para se deliciar com a sabedoria esfincteriana do velho...enquanto contemplo aquela bizarra procissão.

Sempre preferi o meu lado esquerdo,onde o rosto é menos paralisado...

Andando pelo deserto de areia cinza,sob o céu de cor âmbar,sinto o cheiro frutado do ar que penetra minhas narinas...a areia dança por entre meus dedos,escuto o som de minha pele,ouço a cor de meus olhos ...
Chego num vilarejo chamado Telamboabunda . Seus moradores são pessoas educadas que se cumprimentam cheirando as nádegas uns dos outros. Se divertem escarrando nas  bocas uns dos outros pela manhã,gostam de se sentarem às mesas dos bares do vilarejo para arrancarem as unhas e os dentes, com velhos alicates cegos,enquanto bebem uma suave urina de rato com gelo e limão...vivem em perfeita harmonia.
Vestem-se com caixões de madeira,famosos por serem a última moda na cidade ao lado conhecida como cidade Pintonacara...
Como sempre fui um terrorista das luzes negras ,armado com minhas granadas de vespas,com meu fuzil que dispara idéias,junto de minha língua molotov que explode poesias em chamas,no meu peito apaixonadamente diabólico,em meu sexo de excitação em massa,com os meus olhos que cometem crimes de amor,sempre fui recebido nestes locais como um cão bestial,o  cérbero das profundezas...nunca fui bem vindo em lugares perfeitos em sua podridão,com pessoas podres em sua perfeição, sempre preferi recitar poesias para os meus livros velhos...

Vejo uma mulher no meio dos cidadãos telamboabundanenses, e como sempre fui um terrorista da noite ardente em paixão,resolvo seqüestrá-la ,colocando-a  em um cela feita de carícias e abraços,faço terríveis ameaças com palavras de amor, torturando sua pele com o toque de minha mão e com os beijos de meus lábios, forço ela a dançar a sua melhor dança,aquela que satisfaz e libera o seu quadril aprisionado pelo dia a dia de trabalho forçado... sempre fui um terrorista da poesia...
Resolvo ameaçar a sua segurança,mostrando para ela a navalha cortante de sua criatividade e de sua verdade,dou choques elétricos em seus mamilos com meus lábios infernais...cuspo em seu rosto a dourada verdade do brilho de seus olhos... sempre fui um terrorista da noite...
Amarro seus braços e começo a queimar sua pele frágil com as brasas em chamas de sua autenticidade e de sua espontaneidade, sempre fui um terrorista....
Mesmo vendo que ela estava nua e sem fôlego por causa da terrível tortura, resolvo masturbar com a violência de meus dedos sua vagina,lambendo com minha paixão infinita o seu clitóris,aprisionando sua deliciosa vulva no cárcere de minha boca terrível...e para finalizar o massacre deste seqüestro terrorista,digo que ela acabara de herdar o planeta vênus,sua vida,seu coração,seu sexo,sua liberdade,sua alma e o meu amor ...

‘’Viva o terrorismo poético! VIVA!’’ Assim cantou o velho sábio persa que descia de sua montanha prateada...

No altar da igreja de plástico,a noiva tenta se desvencilhar dos grampos que prendem seus olhos ensangüentados,colocados pelos grampeadores de seu noivo,de sua família entorpecida....buscando na escuridão de suas pálpebras o seu eterno amante que naquele dia não estava presente, gritava ela :’’tirem isso de mim,não consigo chorar...’’
O noivo sorria de maneira trêmula para os fotógrafos,segurando uma arma apontada para a sua cabeça...

Mais a frente ,vejo uma linda sereia nadando pelo céu. Ela vem em minha direção , abre o seu peito e mostra um poema tatuado em seu coração:


‘’Oh doce cordeiro dourado,
que a todos encanta com seu esplendor e doçura...
ès na verdade um lobo voraz...
Que devora sua presa somente com seu olhar lascivo...
e suga-lhe o sangue fervente que antes dava vida ao pequeno coração cheio de dor e ilusão...
Come-lhe toda a carne, usando os frágeis ossos para limpar suas presas mortais...
...envoltas de um hálito sedutor, quente e sagaz...
Que conforta todo o sofrimento existente em tão pouco espaço de tempo, mas em tão grande dimensão de intervalo...
Que acolhe e seduz sua presa como se nada de ruim fosse acontecer...
E que lhe promete o paraíso após todo o padecimento vivenciado...’’

‘’Fiz este poema para você , lindo poeta maldito.Meu nome é Enila . Soube de seus atos terroristas; ouve-se boatos de outros terroristas poetas espalhados por estas terras como o viajante,o velho sábio,o terapeuta maldito,o garoto sem mandíbula,a menina dos olhos de vidro,Cresus Jisto,os 3 andarilhos do leste da cidade vermelha e a linda moça do lago. Soube essa manhã que a terra dos homens umbigo já não existe mais e que a deusa éris está chegando...’’

‘’As pessoas estão andando nuas enquanto dançam a música do Sol,estão fazendo greves reivindicando melhores condições para se amar e para existir da maneira como elas são...todos estão descendo aos seus infernos para reencontrar as suas casas dos sonhos, o teatro sem platéia já não existe mais,os atores somos eu e você,aqui agora, e eu te amo...o primeiro violino da orquestra cósmica sou eu,você,nós dois juntos para sempre...’’

Neste momento você que teve a coragem de ler este emaranhado de blasfêmias,você que teve estômago para chegar até este trecho do texto , deve estar se questionando;’’mas que texto bastardo é esse?quem é esse pseudo autor?quem ele pensa que é?qual mãe miserável teve a coragem de parir essa barata voadora? Quem teve a coragem de amamentar essa ratazana?como deve ser o riso dessa hiena?como um chacal desses consegue escrever tamanhas besteiras?quem consegue entender o discurso desse filho da puta?’’

Faço-lhe essas perguntas leitor; mas que vida bastarda é essa?
Andas pela rua  segurando o seu peido com medo de se cagar nas calças. Abraça as pessoas com medo de que encostem o pinto ou a vagina em você,se lambuza de perfumes para disfarçar seu odor de cadáver ,deita com sua mulher odiando o cheiro de seu hálito,não permite que sua pequena filha sente-se em seu colo por ter medo dela encostar em seu pênis  e de você gostar,odeia as crianças por elas serem naturais e verdadeiras ,ama o seu diploma,ama o seu dinheiro,idolatra leis escritas num papel,ama tudo o que é de papel, pois é com o mesmo papel que você limpa sua sagrada bunda. Acredita em seu cargo,na caricatura que você criou de si mesmo para viver teatralmente nesta sociedade suicida . Orgulha-se de sua sabedoria de livrinhos e de universidades, mas sabe que você não passa de um copiador e de um papagaio que só repete aquilo que já foi dito por grandes homens,não consegues dizer nada que venha de você,de suas idéias,de sua imaginação e de sua criatividade. Adora seus presidentes,seus padres,bispos,pastores,políticos, chefes , pois você sabe que sempre serás um bebê chorão que não consegue decidir nada por si mesmo,sempre precisando de um grande pai para limpar suas fraldas . Acredita e amas suas ideologias políticas,defendendo-as com afinco,pois precisa se enfiar em algum bando para satisfazer sua necessidade caprina de pertencer a algum grupinho ,onde você não precisa pensar por si mesmo,basta seguir a ideologia . Orgulha-se do seu grande carro moderno,pois compraste ele em milhares de prestações ,satisfazendo sua necessidade de se escravizar com coisas inúteis as quais acreditas ter mais valor que sua própria vida.
Quando ouves a frase ‘’ faça algo que as crianças possam lembrar para o resto da vida’’, você as espanca para provar sua masculinidade ou feminilidade , acreditando que está educando-as,pois foste criado como um jumento . Vive como um homem de papel , maravilhado com as belezas do mundo moderno,maravilhado com as novas tecnologias de consumo que só servem para te separar de ti e de seus semelhantes,enquanto as hienas e os suínos que comandam esse manicômio que chamamos de sociedade,se mijam rindo de sua cara,gastando o seu dinheiro com orgias em países pobres ,onde as crianças são as escravas sexuais . Idolatra o seu carro como um deus ,um totem que representa a sua masculinidade,o seu poder,o seu status. Mas na verdade sabes que o seu carro enorme e poderoso só serve para esconder o seu pequeno pênis flácido e sua ejaculação precoce. Mataria seu irmão,venderia sua mãe, enganaria seu pai, viraria o cafetão de sua filha e  de sua irmã se soubesse que iria lucrar com isso,ou se fosse ganhar algum cargo ou status.
Já fostes chamado de zé ninguém e de populacho por grandes rebeldes de espírito livre. Quando você vai acordar?Quando vai despertar de seu eterno sonambulismo,quando vai parar de ter orgasmos com o seu controle remoto?Quando vai parar de ser escravo de sua imbecilidade? Quando vai deixar de acariciar o mouse do seu computador para reaprender a fazer carícias nos seus semelhantes?

Caminhando em cacos de vidro, no meio das brasa quente que sorri para mim....

Eu sempre prefiro arrancar meus olhos quando eles estão sujos de areia, para poder enxergar com a luz que brilha por trás deles...

 Acima do rio de leite, vejo o Grande homem grande,da Grande igreja grande enforcando-se com seus intestinos...

Ando pela estrada de cacos de vidro, que corta a sola dos meus pés, deixo um rastro de sangue envenenado pelo meu caminho ,onde os espinhos entram em minha carne cortada,fincando suas presas,cortando minha pele...

Uma mulher afoga-se em suas lágrimas no meio de seu quarto de vidro, onde a figura no espelho a observa , no instante em que ele arranca o seu próprio rosto...

As flores negras que nascem na beirada da estrada possuem olhos. Olhos que desdenham do meu torto caminhar...

Ao lado da estrada  existe um rio de seringas e agulhas usadas. Lá vive o pai peixe de bigode ,cuspindo sangue marrom naqueles que ousam olhar em seus olhos de pregos...

A grande mãe peixe alimenta seus filhos com raspas de sua escama verde e cheia de musgo. Para beber,ela lhes dá uma grande mamadeira feita de lágrimas maternas das mães que morrem parindo, rindo...

Mais a frente ,avisto um grande castelo; é o castelo da minha existência...chego perto para ver se ele é de areia,ou feito de outro material. Mas antes,para chegar até ele,eu preciso encarar a grande fera que cuida de seus portões.É uma fera gigantesca,sua língua lambe os céus,seus olhos são de conchas,seus dedos são de ganchos ensaguentados, A grande besta  canta uma canção que conheci nas noites negras, das lágrimas amarelas de pus...

Entro numa luta mortal com a terrível besta. A fera tenta me esmagar apontando seu enorme dedo de gancho em minha direção . Neste momento digo para ela : “ ouça besta fera, saibas que enquanto apontas seu dedo de gancho ensaguentado para mim , outros três de seus dedos apontam de volta para você...’’

Vejo a besta sendo destroçada por seus outros dedos que apontavam em sua direção sem ela perceber; seu corpo é rasgado pelos seus próprios ganchos, caindo em pedaços pelo chão...

Ao abrir os portões do castelo, no seu interior, uma figura reluz no meio do salão. É um velho de feições orientais,parece um mestre ancião mongol . No momento em que adentro o salão do castelo o velho olha pra mim e diz: ‘’ Já ardeste em suas próprias chamas?’’

Após dizer estas palavras, o velho ancião mongol pega um jarro de porcelana cheio de gasolina , e logo em seguida, ateia fogo em seu próprio corpo . Enquanto seu corpo queima em chamas , o velho permanece sentado na mesma posição inicial,dizendo para mim : ‘’faça isso e aprenda a lidar com suas próprias chamas...’’ Enquanto o fogo devorava impiedosamente sua carne.

Sento ao seu lado e faço o mesmo que o velho, ateio fogo em meu próprio corpo. Enquanto as chamas me consomem,vejo por trás do fogo ,pessoas conhecidas olhando para mim,enquanto morro e viro cinzas...

O desespero toma conta de mim,minha pele começa a arder e a derreter com as chamas , destruindo minha carne . Meus olhos começam a ser tomados pelo fogo, deixo de enxergar . O cheiro de carne queimada toma conta de minhas narinas,o fogo começa a atravessar meus músculos,chegando até minhas vísceras. Sinto meu corpo se desfazendo e ardendo com  a chama, cada parte de mim vai se acumulando em um monte de cinzas pelo chão. Meu grito de dor e desespero vai se calando lentamente...



‘’Agora sou cinzas,um punhado de cinzas pelo chão, apenas o leve sopro do vento movimenta o que sobrou de mim...’’

Dentro do castelo,brilha uma árvore de prata, ouço sua voz que me guia até o meu renascimento...

‘’Agora és cinzas,tornou-se pó...sempre que pisar nos cacos de vidro que rasgam seus pés no meio da estrada,onde as flores negras que possuem olhos  desdenham de ti, sempre que olhares com medo para o lago de seringas e agulhas usadas, sempre que suas têmporas discutirem entre si, toda a vez que contemplar a bizarra procissão,sempre que sentir os espinhos entrarem em sua carne para envenená-la, toda  vez que você preferir arrancar seus olhos sujos de areia para enxergar melhor , quando estiver ouvindo o canto da velha navalha cega aproximar-se de seus ouvido ,  sempre que sentires a tentação de rasgar sua carne  com a velha navalha, quando perceberes que suas lágrimas estão sujas com o pus de sua ferida mais profunda e que gangrena em seu peito, incendeie-se, entre em suas chamas,queime-se por inteiro,destrua tudo o que deve ser destruído em sua carne velha , em seu corpo apodrecido. Destrua para reconstruir,morra para renascer...’’

‘’Queime-se em suas chamas,arda em seu fogo,torne-se cinzas,espalhe-se pelo chão com o soprar do vento, mas renasça , saia do ventre da terra , pois é filho do sol e fostes concebido na Lua. Este castelo foi construído por ti e ele não é de areia, é feito de carne,sangue,ossos , lágrimas,sonhos,desejos e paixões. Ele é feito de ti...’’
‘’Acorde todas as manhãs e vibre com o sol e com o céu azul ...e sempre que for necessário,queime,arda, vire chamas e torne-se cinzas...aprenda a morrer e a renascer todos os dias.’’
Deixo o salão e a árvore prateada, saio do castelo...caminho com aquela sabedoria,pois já deixei de ser cinzas, ando pelo ar junto do vento, renascendo do ventre da terra,sentindo a dor deste parto,soltando o novo grito que arde em meu peito. Respirando pela primeira vez, sinto o ar queimar meus pulmões...
‘’Todo nascimento e morte envolvem dor,lágrimas e sangue...’’

Na saída do castelo ,um velho xamã  olha em meus olhos e diz ‘’viva, mesmo que isso custe a sua vida, mas por favor ,viva...’’

Ao meu lado , uma mulher começa a expelir cabelos pela boca. Bolos enormes de cabelo são cuspidos por sua boca rosada, um poça de cabelo e saliva forma-se ao seus pés... vendo aquela cena,cinzas começam a sair de minha boca,cuspo de maneira interminável, cinzas que não param de sair de minha garganta seca...

Enquanto isso pessoas com sorrisos virtuais e cabeça de monitores de plasma caminham de maneira ilusória pela estrada onde o chão é de vidro,formando um enorme espelho, pisando em suas próprias imagens antigas...

Hoje sei que tornei-me fogo,contemplo meu agora ,sei quem sou e quem sempre fui. Sempre fui o terrorista poeta,o poeta maldito das luzes negras,do peito magro onde o coração quente pulsa, grito para meus irmãos bem alto ; ‘’ Façam suas revoluções agora,vivam elas. A revolução deve ser feita no seu dia a dia,viva como um revolucionário do dia e da noite,saiba que suas armas são suas paixões,seus amores,sua criatividade,seu coração,seu sexo que te renova, seu olhar de criança ao ver  a luz do sol refletindo no sorriso da amada...o caos anárquico és tu,pois você é filho do caos,a revolução acontece agora,dentro de ti e fora de ti....a revolução é você e sou eu,a revolução está nos seus olhos,nos teus abraços,na sua voz que aprisionaste em sua garganta,está em suas lágrimas .Pertence a ela,olhe para ela em todos os seus dias. Junte-se a outros revolucionários como você e como eu, pois então cantaremos juntos,rumo ao horizonte dourado,onde o Sol vermelho se põe,carregaremos nossa bandeira negra...’’

Naquela tarde da manhã noturna,ouvi uma música. Era a canção de Éris...


Dancei na chuva ,com os pés descalços, enquanto olhava para a doce fada branca de corpo diabólico...


O riso do homem de borracha ecoava pelo ar úmido , sua voz de látex brilhava de maneira negra nos olhos que ouviam o som  da dor ,assim como as orelhas enxergavam a cor sangrenta da máquina de tortura... sua máquina de tortura estava repleta de carnes e tecidos humanos ; em uma das pontas , um gancho puxava os intestinos da sociedade brilhantemente brilhante. Lá embaixo da cama de prego,as pessoas se asfixiam prazerosamente com sacos plásticos em suas cabeças,bebendo o ácido que corrói seus sorrisos. Lentamente o homem de borracha colocava agulhas em baixo das unhas das pessoas ;  o prazer delas era andar com um saco plástico na cabeça, para se asfixiar todos os dias, adorando religiosamente suas simulações necessárias da realidade, construindo simulacros  de sua felicidade que enfeitam sua vida cotidiana ...belos simulacros de marca,belos simulacros para se amar e comer....era uma linda e perfeita sociedade do mais belo e plastificado espetáculo. Os sacos que asfixiam,as agulhas que penetram lentamente por baixo das unhas, as simulações da realidade,as simulações de idéias,as simulações de relacionamentos,os simulacros de marca e saborosamente comestíveis...os sorrisos plasticamente construídos,as identidades falsificadas,a sexualidade prostituída,as drogas que anestesiam saborosamente a realidade irreal, a não-sociedade de consumo,a beleza...o terror..a carne...o rim...o fígado....o vômito...

As pessoas se divertem saltando do vigésimo andar,para sentir alguma coisa em seus peitos...

O caramujo.

Na montanha de pregos , o pequeno caramujo sobe seguindo sua jornada interminável,carregando o peso em suas costas,suas lágrimas lubrificam os cortes em sua frágil pele de caramujo,feitos pelos pregos do caminho...os abutres sobrevoam por cima do caramujo,aguardando este desistir de sua jornada , para poder devorá-lo lentamente...
O pobre caramujo caminha bravamente, estava cansado de ser algo que ele já conhecia...enquanto isso os abutres perguntavam ao pobre caramujo : ‘’o que você quer fazer no topo da montanha pequeno caramujo,não vês que logo vai morrer e irá nos alimentar?’’
‘’Mesmo que no final da jornada eu alimente os abutres,decido hoje subir a montanha e olhar para o abismo,pois sei que ele me olha há muito tempo...que assim seja, que eu seja aqui e agora...’’

Nos cumes do desespero.

A pequena grande mulher amargurada ,senta em seus tornozelos quebrados de ossos expostos,ela se questiona , pois ontem ela não era livre por imposições do grande macho besouro de cabeça fálica. Acreditou na sua vitória,mas hoje ela vê que está se tornando na mesma figura que a aprisionaste no passado...está virando uma fêmea de cabeça fálica peniana, pois caíste na antiga neurose do macho besouro e hoje não consegue mais encontrar a grande Gaia, a Afrodite, a Lilith que viviam em seus seios femininos,seios que alimentam a criança,seios que alimentam o desejo e a vida...

Nos cumes ...

Quando a águia negra aterrissar no solo de espuma,enquanto a lesma branca dança se contorcendo pelo sal que queima sua pele,sal que fora jogada pela criança de porcelana , os lobos uivam atrás da carne macia do coelho azul que corre ,fugindo de seu medo de ter medo.

Vejo uma mulher ,masturbando-se em frente a cova de seu amado,prestando-lhe sua última homenagem...
Neste instante ,uma jovem surrada me lembra dos dias em que os libertinos perversos festejaram em Sodoma durante 120 dias...dias malditos que serviram de regozijo para o sádico marquês,dono do castelo e para satisfazer o olhar macabro do velho cinza...

O louco canto do homem louco que canta como um louco,loucas canções de homens loucos. Ou apenas um anti-título de um anti-tema...

O louco caminhava pela rua dizendo aos demais: ‘’olhai para os homens de papel,que sois vós; ouçam suas vozes de lata,olhai para suas lentes oculares de plástico, por onde escorrem suas lágrimas de amônia. Escutastes o grito sangrento que ecoa em seu coração,onde aprisionaste suas emoções em uma jaula purulenta? Vide, ó homo bestia,és tu que caminhas em suas patas de piolho sanguessuga , és tu que vives amarrado à sua estupidez preso pelo seus intestinos,és tu homem cancro que só ouves aquilo que sai de sua latrina bucal e chega aos teus ouvidos como presentes dourados do deus fezes . Pense nos grandes homens de branco os quais elegeste como os grandes doutores da sapiência humana,aqueles que você respeita e traz oferendas milionárias de seu dinheiro sagrado de merda, aqueles homens que ditam quais de suas emoções e comportamentos são sadios ou doentios,aqueles homens deuses de branco que te dão a sua receita diária de controle químico.Gozas só de ver os diplomas forjados no Olímpio das ratazanas,gozas só de adentrar em seus templos perfumados , os quais você chama de clínicas. Tens orgasmos retais só de ouvir as palavras rebuscadas e cheias de firulas,tiradas do grande dicionário das hienas,sendo regurgitadas pelas suas bocas de insetos.Adora ser mantido como escravo químico destes açougueiros de almas ,destes plastificadores de emoções,destes rotuladores de homens de plástico.Tu , homem esfíncter,ama se fazer de vítima após receber sua etiqueta de doente mental,que se diz necessitar de medicamentos que envenenam seu corpo para não responsabilizar-se por sua existência de barata,agonizando com sua barriga amarela  para cima....se não quiseres me escutar,pois ria-se de mim,ria freneticamente , pois no fundo sabes que ris de ti mesmo,sabes que sou o louco que habitas em teu corpo de gambá cozido,sabes que sou o focinho do porco que grunhe em sua bestialidade, que usas para chafurdar seus sentimentos em sua lama negra....pois tu ris agora ao me ver gritando nu estas palavras em sua praça dominical,mas no fundo sabe que sou a voz que vive no buraco negro de sua alma,a voz que canta o hino do amanhã,que anuncia o nascimento do homem póstumo ,o nascimento da criança que assassinastes com sua mente que mente todos os dias sobre quem és tu...sabes homem lesma ,que sou o poema que começaste a escrever e que nunca tiveste a coragem de terminar em seu coração de chacal,sabes que sou a tua voz pura que tu transformaste no canto das lacraias famintas...sabes que nunca acreditei no seu vôo de abutre pois conheço suas asas de águia,sabes que podes voar nos campos das borboletas azuis ao invés dos campos de estrume onde habitas, ri de mim por saber que ainda acredito em seu caminhar de rinoceronte,ainda acredito em seu corpo de javali,ainda acredito em seu cérebro de carrapato,ainda acredito em teu espírito pervertido , ainda acredito em tua criatividade de prego enferrujado;sabes que acredito em ti ,pois vivo em ti e sou você,conheço a jaula,conheço suas torturas e seus torturadores,sei quem é o assassino de ti,conheço a face do monstro que vive no lodo de seus pensamentos...conheço você,mas tu ainda não me conheces,apenas me escuta em seus sonhos com a voz opaca e com as palavras invertidas , pois não queres ouvir o que tenho a te dizer...me escuta quando vê o Sol nascendo e vira o rosto para não sentir o calor,me vê em suas lágrimas de dor,sente minha presença quando quer fazer o que não pode,por acreditar que não pode fazer,pois nunca se permitiu a nada,vives no nada, como um nada. Sabes que estou do outro lado do arco íris,sabes que minha face não é a do dragão,mas sim a face do espelho de diamante que conheces muito bem,sabes que o rio negro onde deves nadar só tem o fundo escuro por que nunca abristes os olhos para ver o que há embaixo da água,para ver a vida que habitas por lá, pois tu é o rio negro,és tu... tu és,ontem,amanhã , hoje,agora...tu és’’

E na chuva do amanhã,o louco seguiu dançando e comemorando a morte do velho homem que nascia em parto sangrento , através das mãos do agora , do presente caótico...enquanto os outros observavam a dança ,o riso vinha em seus rostos amortecidos pelo inseticida matinal.

E assim , o louco encerrou sua dança infernal dizendo aos outros homens que riam de sua loucura : ‘’ encerro aqui e agora minha dança, tu que olhas meus passos com desdém mas com o nó em sua garganta,deixo a música tocando para que continues minha dança,que é a sua dança também, termine você este texto com uma dança,a sua dança, este é o seu texto e a sua música...’’

E o louco passou a lâmina dourada em sua garganta,caindo no chão,banhando na beleza de seu sangue escuro,jorrando...jorrando...


Éris olha para o louco , banha-se em seu sangue negro,dançando a música do caos,a música do não nascido,pois sabia que seu filho logo iria acordar do sonho dos humanos...


3 - O GAROTO SEM MANDÍBULA


Acordou o garoto.....
Ao despertar , ele percebeu que estava sem a mandíbula,e no lugar  havia um enorme buraco. Sua língua estava pendurada por cima de seu pescoço,era possível ver sua garganta,o palato mole,o palato duro, via-se o esôfago,sua saliva não parava de escorrer, dava pra ver toda a sua arcada dentária superior. No momento em que o garoto viu essa figura ao olhar no espelho ,  um grito desesperador saiu de sua garganta aberta, espirrando catarro e saliva por todos os lados,tentava falar mas sua voz não saia, as únicas coisas que saiam de sua garganta era sangue e os fluídos viscosos de seu pulmão...

Do lado de fora da casa ele olhou para o céu, caía uma chuva terrível de fezes e o Sol era negro, com uma boca enorme e feroz , com dentes de lâminas que gritava seu nome sem parar. A chuva de fezes sujava todas as casas e ruas,deixando todo o local com um odor horrível ,um cheiro que se apoderava das narinas,tomando conta do céu da boca e da língua,  deixando-o com gosto de merda na boca. Sem entender o que estava acontecendo, sem entender o que significava aquele tormento psicótico,o garoto  perguntava-se a todo momento se estaria ele sonhando ou teria enlouquecido de uma vez por todas.

Andando pelas ruas cheias de excrementos de uma coloração verde e marrom,o garoto sem mandíbula encontrou uma menina,esta menina tinha os olhos de vidro . Seus olhos eram paralisados e não se moviam,olhavam apenas para uma direção, deixando-a com um olhar cadavérico e sombrio.

 O garoto tentava comunicar-se com a menina mas sua voz não saia,apenas espirravam fluídos de sua garganta,sujando todo o corpo da pobre menina,, numa ejaculação de catarros que saiam daquela fenda aberta em seu pescoço. A garota não conseguia entende-lo  e não conseguia  vê-lo.  A comunicação entre eles era impossível,aumentando o desespero dos dois jovens seres .

O garoto perguntava-se em seu terror como ele iria se comunicar com a menina ,ela não podia ouvi-lo e nem  enxerga-lo.
A menina dos olhos de vidro resolveu então tocar no garoto para tentar descobrir quem estava ali .  No momento em que ela o tocou, ela sentiu que a pele dele era diferente e que não era só quente e familiar,mas que também estava se comunicando com ela. Através de suas peles, ambos entenderam que poderiam caminhar juntos naquele mundo apocalíptico e que podiam se comunicar daquela maneira.
Fizeram um pacto através da pele e das lágrimas , para caminharem juntos naquele mundo sombrio para poderem sair dali.
Começaram um jornada juntos até o fim do começo,andando pelo silêncio estrondoso,onde o barulho era silencioso,lá onde as flores ficavam enterradas e as raízes cresciam para a luz do sol negro,onde os sorrisos eram invertidos,as aves voavam com asas de plástico e o céu sofria com tremores entre as suas nuvens....

Uma placa na estrada dizia : ´´bem vindo a terra dos homens umbigo’’
Ali viviam os infames homens umbigo. Suas vidas giravam em torno de seus umbigos. Oravam nos seus templos para o deus umbigo,comiam e bebiam através de seus umbigos,faziam sexo através de seus umbigos,decidiam suas vidas pelo umbigo,faziam suas escolhas por seus umbigos,masturbavam-se pelo umbigo,tinham filhos pelo umbigo,votavam pelo umbigo...seus rostos eram em forma de umbigo,cheios de algodão preso em seu interior, achavam-se felizes na sua existência umbilical e superior. Quem tinha o umbigo maior,com maior concentração de algodão em seu interior, era o ser umbilical de destaque,o presidente,o chefe,o líder,o umbigo perfeito.
Sem entender nada o garoto sem mandíbula e a menina olhos de vidro andavam por aquele mundo,sendo observados pelos homens umbigo,sentiam que estava sendo julgados por aqueles seres que se viam como perfeitos e donos da razão. Até que um homem umbigo resolveu aproximar-se dos garotos e disse : ’’quem são vocês estranhas criaturas,como ousam andar em nosso mundo perfeito,não percebem que vocês estão assustando as pessoas com suas aparências bizarras,com seu jeito de andar e falar?’
O garoto sem mandíbula ao tentar se comunicar , expeliu um viscoso líquido no homem umbigo que era uma mistura de sangue ,catarro e saliva. Com aquela situação,o homem umbigo começou a gritar e a ofender o garoto.Como ele poderia jogar secreções e cuspir na perfeição do homem umbigo?

O desespero tomava conta das duas crianças,não podiam se comunicar com aquele mundo de pessoas perfeitas,não entendiam aquele lugar de sensações umbilicais. Neste instante nádegas enormes e peludas apareceram por entre as nuvens, vários ânus com inflamações e hemorroidas  purulentas, despejavam uma tempestade de fezes que caia sobre o mundo perfeito dos homens umbigos. Eles festejam e cantavam glórias para o deus umbigo, por lhes dar aquela chuva sagrada, de onde eles tiravam suas forças ,seus alimentos,sua água pura. Enquanto essa orgia estúpida ocorria, o sol negro gritava o nome do garoto sem a mandíbula, o tremor no céu fazia as nuvens chacoalharem e os vulcões expeliam sua lava de gelatina de framboesa. Os homens umbigo copulavam com as mulheres umbigo numa relação umbilical ,onde cada um focava o prazer em seus umbigos,era uma orgia em nome do deus umbigo,em nome da perfeição daqueles seres umbilicais. Eles diziam que nenhum outro ser naquele mundo era superior aos homens umbigos. Mas o que os jovens perdidos não sabiam é que havia um ser  naquele lugar que tinha sido expulso dali,por não orar ao deus umbigo,por não ser perfeito como os homens umbigo . Ele tinha negado o deus umbigo e suas leis umbilicais,ele queria ser apenas ele,não queria viver sua vida dentro de seu umbigo. Este homem havia sido expulso por não ser perfeito como a doutrina umbilical. Ele bebia demais o vinho da cabra,vivia embriagado,era um hedonista que não gostava de ter prazeres umbilicais,preferia ter prazer com o corpo todo,gostava de se entorpecer com cogumelos alucinógenos que colhia aos pés do vulcão de framboesa,onde cresciam as árvores da paixão,do saber,do amor e da fraternidade...onde vivia o tifon e as pedras de abraxas, onde ficava o templo de arimã . Ele era irmão de lúcifer. Seu nome era Cresus Jisto. Ele havia sido expulso daquele mundo umbilical por causa de suas idéias malditas.

Certa vez , os homens umbigo tentaram acabar com a vida de Cresus Jisto,tentaram pendurar ele em um umbigo de madeira,queriam mata-lo por umbilicação.Esta era a pior forma de morte,reservada apenas para os ladrões e traidores daquele povo. A tortura consistia em pendurar o mártir em um umbigo de madeira,onde a pessoa morria pendurada com uma perfuração no umbigo. Mas com ele não funcionou pois seu irmão Lúcifer o ressuscitou com uma bebida forte que fez Cresus Jisto despertar dos mortos,com a pior das ressacas alcoólicas.
Ele acabou sendo banido de uma vez por todas do mundo dos homens umbigo,  pois ele roubava vinhos,dinheiro,comida,ele usava o corpo ao fazer sexo sem pudor, participava de orgias,renegando o sagrado prazer umbilical daquele mundo pervertido de perfeições.
No meio daquele pesadelo,enquanto os jovens tentavam se esconder dos perfeitos homens umbigos , assustados em uma pequena gruta feita de macarrão com molho de lesmas ,Cresus jisto aparece em uma nuvem verde ,fumando um cachimbo feito com ossos do tubarão castor gorila.
O garoto sem mandíbula e a menina dos olhos de vidro ficaram maravilhados com aquele ser cheio de imperfeições,pois se sentiam muito próximos daquele rei pagão,do deus mais imperfeito da doutrina inexistente. Eles sabiam que estavam em frente ao rei do trono de madeira,com suas vestes de jornais e sua coroa de plástico,carregando em suas mãos o seu livro sagrado,escrito com uma tinta feita da mistura de sangue menstrual, sêmem e vinho , aquela era sua bíblia de poemas malditos e eróticos . Ele certamente era o salvador etílico.
 Aquele era o homem, sabia que jamais deveria trair seus próprios sentimentos com mentiras externas e com escolhas falsas,sabia que jamais deveria trair seus próprios desejos ,era o homem que mentia por saber que a verdade era a pior sentença de morte naquele mundo onde a perfeição imperava,onde ninguém errava,onde todos eram santos umbilicais e ele era apenas um feliz bastardo imperfeito, filho da mais bela prostituta de um reino distante.

‘’Ontém eu sonhei com vocês dois,vi  você garoto sem mandíbula e vi você menina dos olhos de vidro.Sabia que  viriam ,eu tive uma visão no meio do meu vômito,estava aguardando vocês dois.Nosso destino é destruir esse mundo de podres perfeições. Por isso estão aqui...caminhem comigo até o fim desta jornada e lhes indicarei o caminho de volta para suas casas. Eu li suas lágrimas menina dos olhos de vidro,ouvi a voz da sua pele garoto sem maxilar,conheço vocês,não tenham medo dessa jornada,é a nossa vida,é nossa condição de seres imperfeitos neste lugar da perfeição pútrida,mas nós não temos de nos submeter,nunca seremos escravos’’

Os três caminharam juntos naquele mundo onde as flores eram de plástico e cheiravam a amônia,onde o hálito do céu era marrom,o sabor da água era verde como o lodo,o cheiro da chuva era vermelho sangue,os animais caminhavam para trás em suas patas de madeira,onde a música soava como unhas arranhando uma parede e o brilho da pele dos seres era um brilho de gordura escorrendo pelos poros,ali onde os homens lustravam seus fios de marionetes com sua própria banha,onde os nomes das pessoas eram marcas e rótulos de falsos e  belos produtos à venda.

No meio do caminho,eles presenciaram um ritual,era o ritual de seres visitantes de outro planeta,que já haviam reinado de maneira triunfante naquele planeta...
Era um ritual onde um ser hermafrodita copulava consigo mesmo,enquanto os outros seres ao seu redor cantavam a música de uma nota só...o hermafrodita introduzia seu pênis de serras em sua própria vagina cheia de dentes, o êxtase flutuava pelos rostos dos alienígenas enquanto estes batiam os seus tambores transparentes, era um ritual frenético,os movimentos eram repetitivos,de suas bocas saiam uma luz alaranjada que atingia o ser hermafrodita que estava no meio do círculo ritualístico. Aquilo fez ele flutuar,espalhando sua semente dentro de sua própria vagina que no instante do orgasmo arrancou o seu pênis de serra,cortando-o em pedaços...

Cresus Jisto disse às crianças:  ‘’isto é a vida se desfazendo e se refazendo em cada galáxia deste universo que somos eu e vocês,deste universo que está em nós assim como nós estamos nele,cada ser é uma célula deste organismo universal que funciona em harmonia caótica,cada passo dado,cada pensamento,cada desejo,cada beijo é um ato universal,fazendo o universo respirar e se manter vivo,se pararmos,uma parte do universo morre,se adoecermos,o universo adoecerá. Seus órgãos se movimentam como as estrelas,seu sangue flui como os cometas,seus corações são quentes como o sol,sua ira é como o buraco negro,suas paixões são como a lua,seu espírito é o centro do universo que pulsa em seu corpo. Conhecendo isso a vida deixará de ser umbilical e cada ser passará a ser uma galáxia única que se relaciona com todas as outras galáxias ao seu redor...’’

‘’Lembrem-se, somos fortes em nossas loucuras e somos heróicos bastardos apaixonados,isso basta,essas são nossas armas mais poderosas ...’’

Quando os três retornam da estrada onírica para a terra dos homens umbigos, eles imediatamente foram recebidos com pedras atiradas pelos umbigos dos seres que viviam ali,foram recebidos com as piores ofensas umbilicais...
Eles não eram bem vindos ali,não eram perfeitos umbigos dourados,eles cometiam erros,eles amavam,eles sofriam,sorriam,se apaixonavam,enlouqueciam...isso ali não era da lei do umbigo sagrado,era proibido .

No instante das ofensas Cresus Jisto diz aos homens umbigos: ‘’ ouçam homens umbigo,você podem confiar em seres que são eternos quando estão apaixonados e que são finitos quando vivem?’’
‘’Pois vos apresento os seres finitos,que transcendem a vida no amor,que são eternos no universo, que na loucura criam no caos.
Que não são apenas umbigo,são carne,coração,braços e pernas,olhos,bocas,mandíbulas,amor,ódio,desejo,desespero,sexo,desejo...que somos eu e vocês. Saiam de seus umbigos e vejam que o sol só pode ser negro se vocês viverem na escuridão de seus umbigos,que a chuva de fezes é sagrada só para o deus falso de seus umbigos,que existe muito mais beleza no exterior de seus umbigos,que a chuva brilha igual cristal,assim como os olhos da sua amada...olhe para o homem e mulher ao seu lado e veja neles não só os umbigos ,mas sim o todo que os tornam reais ,assim como vocês são reais fora de seus umbigos .’’

Após dizer estas palavras aos homens umbigo, Cresus Jisto pede para que o garoto sem mandíbula e a menina dos olhos de vidro se aproximem um do outro:.’’vocês dois devem se unir,agora,neste instante...é chegada a hora de cumprirem suas missões aqui,voltem para suas casas, atravessem a ponte de arco íris que os separam de suas casas’’
Depois destas palavras de Cresus Jisto,o garoto sem mandíbula tocou a pele de menina dos olhos de vidro, que também tocou a pele do garoto.Tocaram –se até os corpos dos dois se unir, tornando-se um ser único e brilhante. Cresus jisto sabia que os dois eram amantes antigos de outras galáxias.
Juntos cavalgariam pelas estrelas,para o universo,como um cometa brilhante,jamais se separariam,ambos eram a sua morada eterna,um pertencia ao outro. Vendo aquela cena de amor estelar, os homens umbigo romperam com suas vidas umbilicais,saindo de dentro de suas cavernas escuras,para verem o sol brilhar sobre seus corações e ventres,para olhar a pele de cada indivíduo brilhar ao seu lado...naquela dia perceberam que cada um era único fora de seus umbigos. Cada ser percebeu que todos tinham algo saindo de seus umbigos.Em um umbigo saia uma flor,de outro umbigo saia um coração,ao lado saia uma criança,no outro um sorriso,lágrimas escorriam dos olhos recém abertos daqueles seres.
Já não eram mais homens umbigos,eram agora apenas homens e mulheres do fogo azul...

Vendo sua missão cumprida, Cresus Jisto transformou-se num enorme porco espinho. Caminhando lentamente até o precipício onde havia a ponte de arco íris,olhando o horizonte esverdeado como esmeralda,vendo aquele pôr do sol inesquecível,as nuvens de prata  e os tremores no céu que balançavam as estrelas. Já não chovia mais fezes, as nuvens em forma de bunda com ânus apontados para as cabeças dos moradores daquele mundo não existia mais. ‘’Sou um ser cheio de espinhos ,aqui neste precipício saltarei para a eternidade,para as estrelas,para o universo,pois não morrerei,nadarei nos rios da galáxia invertida. ‘’

‘’Nossos espinhos nos farão voar,aqui neste precipício,no horizonte...voemos,somos cometas viajando no espaço,explodindo em pedaços e se refazendo todos os dias,somos as explosões solares e os buracos negros ,engolindo tudo,destruindo e construindo,todos os dias...voe,pois no final da estrada de vidro, perdidos nos encontraremos e nos encontraremos nos perdendo...


Longe dali, a bizarra procissão do velho sábio prosseguia. Éris cantava a canção da pinha dourada e sagrada...