Sentado com o meu cu
no formigueiro,sinto rasgar a pele do meu períneo e do meu escroto ; tiro uma
velha navalha de meu bolso. Tenho muita dificuldade para cortar os pulsos,pois
a navalha está cega e enferrujada. É doloroso e duro de se chegar até a carne; tendões
e nervos se arrebentam e estalam.
Meu sangue jorra pelo chão alimentando a terra úmida e
podre,onde crescem as plantas carnívoras que se devoram. O sol bate na minha carne
aberta,o sangue espirra,fazendo-o brilhar de maneira escarlate e alegre. De
dentro das minhas veias, vejo um sorriso em meio ao sangue e a carne pendurada
sobre o meu braço, vejo um sorriso negro do cancro que cresce em mim... tento
escrever um poema final,usando como tinta o meu próprio sangue.
Na minha frente ,um velho de 13 anos me observa e canta a
seguinte canção:
Passos lentos
Ossos fracos
Sem dentes na boca
Os cabelos se foram e os poucos que restaram estão brancos
Já não decido mais quando vou defecar
Minha urina escorre pelas minhas calças
Meu corpo é frio como um necrotério
Minhas vestimentas mais gloriosas são minhas fraldas
geriátricas
Meu coração se arrasta em meu peito
Meus amigos se foram,nem os rostos ficaram em minha memória
Meu amor jaz num terreno baldio...
Meu nome é ... você
Assim o velho cantava sua música de hálito podre ,com seus
testículos à mostra, repleto de chagas leprosas negras...
Ontem fiz as pazes com o abutre que vem todas as manhãs
devorar meu olho esquerdo. Disse a ele: ‘’Bom dia velho amigo, como vai devorar meu
olho hoje?’’
Suas asas negras sobrevoaram por cima de minha cabeça,até
que o sol mostrasse sua face escondida por detrás das montanhas azuis, onde
vivem meus sonhos e onde morrem meus sonhos. De lá que vem a mais linda música
flutuando com o orvalho do amanhecer,os raios solares que aquecem a pele da
linda moça que vive no lago,que chora lágrimas de sangue pelo seu amado que
nunca chega...
O desejo de copular com ela passa pela minha cabeça e por
meu pênis, mas como chegar até lá? Decido então pegar carona com a grande
libélula das asas de vidro, ela me coloca em seu ventre viscoso,onde fico
grudado por dez anos sem conseguir respirar, até ser expelido por sua boca de
inseto, sendo regurgitado dez anos depois no meio do lago .
Com a água no peito , tomo a linda moça em meus braços e
beijo sua boca,sinto o sabor de sua saliva quente e doce; em minhas narinas
sinto o cheiro doce de sua pele
branca...chupo os seios,lambo os mamilos rígidos como morangos prontos para
serem colhidos com a boca...
Sua vagina,lisa,vermelha e quente abre-se ,como uma flor na
primavera,molhada pela chuva de prazer que escorre por suas pernas,exalando o
odor de sua carne prazerosa e convidativa; sinto um animal feroz enlouquecer
dentro de meu peito,querendo devorar aquela linda figura. Minha língua acaricia
com força sua rosa vaginal,sugando o líquido de seu desejo...faço meu pênis
penetrar sua alma,bebendo de seu suor,me entorpecendo com seu cheiro e com a música
de seus gemidos em meus ouvidos, enquanto ela puxa os meus cabelos,pego sua
crina vermelha prendendo-a em minhas mãos,domando aquela alma de pele lisa e de
sexo diabólico;sua nuca desliza em meus dedos, sua pele fica avermelhada como o
mais terrível dos demônios escondido em Hades,seu gozo faz com que meu pênis exploda
dentro de seu corpo,fazendo jorrar o sêmem quente em sua flor avermelhada. Neste
momento nossas peles se rasgam, soltando-se de nossas carnes, estamos nus ,sem
nossas peles...sentimos um novo prazer,nossas carnes ensanguentadas se
tocam,nossos nervos pulsam um no outro,nossos músculos se entregam um ao
outro,numa dança frenética de carne,nervos,músculos,veias,sangue e coração; ao
nosso lado, nossas peles dançam uma doce valsa de sangue...
Visto minha pele,enquanto ela olha pra mim e diz: ‘’não
chorarei mais ,sei quem és tu,espero você desde o século inicial,te esperei na
janela,naquele dia chuvoso,te procurei por entre as nuvens,pedi você a lua,te
aguardo com o vento,te encontro em meus sonhos,vive em minha pele desde que
nasci,estamos na mesma célula,somos um e muitos em nosso amor,nesta vida,nas
estrelas,no universo.Quero que hoje você faça coisas boas em seu dia,só não
ouça a velha navalha cega. Seus olhos negros beijam minha alma numa despedida
de reencontros eternos...beijo seus lábios vermelhos e me despeço; até o próximo
reencontro eterno e que seja o último, enquanto ela retorna ao seu lago
profundo,onde ela vive aprisionada e com medo de sentir o calor do Sol em sua
pele,segurando suas emoções grandiosas ,pois teme a pequenez doentia do mundo
fora do lago : ’’estariam as bestas prontas para a grandiosidade de minha
alma?’’
Monto numa galinha gigante com as vísceras à mostra,ela está
sem penas e seus órgãos estão pendurados em sua barriga enquanto ela corre...suas
garras se enroscam em algumas vísceras ,despedaçando a carne,ficando pedaços sujos de carne presos entre seus
dedos.
Ela me leva até uma procissão . Caminhando em fila, vejo
algumas freiras com as bocas e os olhos costurados se masturbando com
crucifixos velhos do antigo salvador lagarto, algumas crianças siamesas dividindo
o mesmo corpo,engatinhando pelo chão de maneira confusa...algumas cabras sem as
patas se arrastam para acompanhar o grupo que segue a procissão. Todos seguiam
uma figura que caminhava lentamente na frente de todos os cegos. É um velho de dois
metros de altura,com vestimentas negras,seu chapéu negro e pontiagudo,seu cajado é feito de pele
humana com uma cabeça encolhida em sua ponta. Chagas enfeitam seu rosto
velho,seus dentes são negros,sua boca roxa e envelhecida, os dedos magros e
ossudos...uma bolsa de colostomia sai de seu peito, por onde o velho defeca
suas verdades...seus pulmões velhos já não funcionam mais,ele usa um balão de
oxigênio conectado ao seu estômago. Seus seguidores respiram por tubos ligados
ao ânus do velho,cheirando seus gases da
sabedoria....a cada novo gás solto pelo velho do cajado, seus seguidores inalam
felizes e em êxtase sua essência intestinal de cadáver em decomposição. Dali
que sai a verdade que os acalma,que os deixam felizes em suas existências
dúbias e cheias de dor.Aquele odor trazia sonhos e esperanças para suas pobres vidas finitas e
cheias de cicatrizes...
Uma velha se arrasta em desespero atrás da procissão ,ela
está carregando sua casa de caracol em suas costas arqueadas, aquele peso
monstruoso quase a derruba no chão,mas seus esforços em chegar até o velho e
seguir a procissão são heróicos, um de seus braços se separa de seu corpo
dizendo a ela: ‘’ não agüento mais isso,não quero fazer parte de sua morte em
vão...’’
De repente o velho ancião cai em frente a procissão , sendo
acompanhado por seus seguidores que se jogam no chão para imitar seu velho
mestre,como num estúpido ritual...
Ele se levanta,olha para trás e diz: ‘’Levantem-se tolos
símios,nunca morri me arrastando...’’
No meio da procissão , um menino corta com uma navalha os
olhos de sua mãe,passando lentamente o fio da lâmina pelo globo ocular,fazendo
escorrer um líquido viscoso daqueles olhos maternais , enquanto contemplo
aquela bizarra procissão...
O grande piolho dança em meu cabelo,faz uma orgia com seu
colega percevejo que mora em meu ouvido,sinto suas patas dançando o seu
sapateado infernal em meus tímpanos,cantando sua velha canção de inseto, enquanto
contemplo aquela negra procissão...
No monte amarelo ,um soldado usa seus pâncreas como gaita de
fole,tocando um velho hino de guerra para os velhos heróis do glorioso
infanticídio de outrora . Em comemoração a gloriosa e inesquecível noite da ritalina, enquanto contemplo aquela estúpida
procissão...
Neste mesmo monte ,avisto um garoto preparado para se
enforcar em seus próprios pensamentos nos galhos da velha árvore de manteiga
feita com esperma de chimpanzé, enquanto contemplo aquela maldita procissão...
‘’Por que está se enforcando com seus pensamentos garoto?’’
pergunto.
‘’Meus pensamentos são a minha verdade,sigo-os com
paixão,eles são meu deus,eles são todas as respostas para a minha vida . São
neles que encontro minha segurança,eles que me dizem o que é certo e o que é errado,neles
que carrego as leis de minha terra,eles me dizem como eu devo ser ,de acordo
com as leis sagradas ... ontém fui falho com as leis de minha terra,então devo
me enforcar com meus pensamentos, sou um bastardo fraco,não mereço viver em
minha terra...’’
‘’Pois ouça garoto,a única terra real e que verdadeiramente
lhe pertence é esta que está em baixo de sua pele,a única terra que deves
adorar é aquela que está por baixo de seus músculos,onde os rios de sangue são
as suas veias que alimentam o seu coração puro...a única voz que deves ouvir e
que dita as leis as quais deves seguir , é a voz que grita
ensangüentada,dolorida,rouca e apaixonada em seu peito; é aquela voz que
aprisionaste em sua garganta por acreditar nas regras e leis de sua falsa
terra, leis falsas que não te conhecem,que não sentem o que você sente,que não
enxugam suas lágrimas,que não conhece o sabor do seu amor,que não conhece o gosto
do seu beijo,que não conhece sua criatividade estelar,que não conhecem suas
paixões;leis que não são suas e nem pra você... não exista pensando, sinta
existindo...o sentir é real;seus pensamentos mentem sobre você,eles são aquela
víbora venenosa que fora colocada em sua vida desde que você era uma pequena
criança;não teve escolhas naquele dia, você foi engolindo toda aquela mentira plástica
por acreditar naqueles que se diziam de sua terra. Sua terra é você,plante seus
frutos em seu jardim e cuide dele,pois ele é só seu;o Sol que brilha e aquece
seu jardim está em seu peito,ele é você... procure outros jardins bem cuidados
para compartilharem seus doces frutos,busque outros Sóis para brilhar e aquecer
junto de ti a vida que pulsa em seu peito ’’.
Naquele instante o garoto pegou sua forca de pensamentos e a
transformou em uma escultura não terminada,pronta para ser esculpida pelo
artista que vivia nele,e em seus pés ,um belo jardim começava a crescer. Tudo
isso acontecia enquanto contemplava aquela pútrida procissão...
Enquanto contemplo aquela estranha procissão, duas bocas se
abrem em minhas têmporas,uma de cada lado . A boca da têmpora direita diz
:’’veja aquelas pessoas seguindo felizes a procissão,por que não se junta a
elas?’’
A boca da têmpora esquerda diz: ‘’você sabe o que tem de
fazer,ali não é o seu lugar.’’
Boca da têmpora direita: ‘’vá até lá,veja a felicidade
estampada nos rostos daquelas pessoas,veja como a vida é fácil para elas.Nunca
se sentem só,sempre sorrindo,nunca chorando,ali não há dor,só há torpor.’’
Boca da têmpora esquerda : ‘’você é livre para seguir aquela
procissão,mas sabes que estará traindo o que tens de mais genuíno em seu
coração,sua liberdade e sua paixão pelo vinho da sua vida.’’
Boca da têmpora direita: ‘’ali é cômodo,não precisa
escolher,não precisa raciocinar,não precisa arriscar,não precisa sentir,não precisa sofrer,não precisa amar e
se apaixonar,pois tudo já está pronto,não há finitude,não existe medo,não
existe morte,não há de se responsabilizar por seus atos...basta seguir o velho e a
procissão.’’
Boca da têmpora esquerda : ‘’ter uma vida cômoda é suicídio,não
escolher é ignorar a música da vida,não raciocinar é alienar a sua criatividade
e genialidade naturais.Sem a beleza do amor e da paixão nos tornamos cadáveres
a procura de uma cova rasa para alimentar as larvas brancas. A finitude é nossa
,o medo é uma bússola nessa existência única e sem repetições. Responsabilzar
–se por seus atos nesta vida,significa ter respeito com sua essência e ser o
guardião da chama que arde em seu peito. A morte só existe na cabeça dos que já
morreram vivos; a morte só serve para nos lembrarmos de que somos o fluxo vivo
do universo, que morre e renasce todos os dias , a cada verão, a cada chuva,a
cada paixão, a cada lágrima. Ela é a dádiva que temos que nos faz lembrar de
nossa unicidade e do nosso tempo infinito, o qual chamamos de agora. Não temas
a morte pois tu morres e renasce todos os dias,em cada palavra,em cada ato,em
cada dor,em cada beijo e em cada orgasmo que tens à noite com sua amada...’’
Neste momento , a procissão segue com os passos lentos , as
pessoas vão se acotovelando para se deliciar com a sabedoria esfincteriana do
velho...enquanto contemplo aquela bizarra procissão.
Sempre preferi o meu lado esquerdo,onde o rosto é menos
paralisado...
Andando pelo deserto de areia cinza,sob o céu de cor
âmbar,sinto o cheiro frutado do ar que penetra minhas narinas...a areia dança
por entre meus dedos,escuto o som de minha pele,ouço a cor de meus olhos ...
Chego num vilarejo chamado Telamboabunda . Seus moradores
são pessoas educadas que se cumprimentam cheirando as nádegas uns dos outros. Se
divertem escarrando nas bocas uns dos
outros pela manhã,gostam de se sentarem às mesas dos bares do vilarejo para
arrancarem as unhas e os dentes, com velhos alicates cegos,enquanto bebem uma
suave urina de rato com gelo e limão...vivem em perfeita harmonia.
Vestem-se com caixões de madeira,famosos por serem a última
moda na cidade ao lado conhecida como cidade Pintonacara...
Como sempre fui um terrorista das luzes negras ,armado com
minhas granadas de vespas,com meu fuzil que dispara idéias,junto de minha
língua molotov que explode poesias em chamas,no meu peito apaixonadamente
diabólico,em meu sexo de excitação em massa,com os meus olhos que cometem
crimes de amor,sempre fui recebido nestes locais como um cão bestial,o cérbero das profundezas...nunca fui bem vindo
em lugares perfeitos em sua podridão,com pessoas podres em sua perfeição, sempre
preferi recitar poesias para os meus livros velhos...
Vejo uma mulher no meio dos cidadãos telamboabundanenses, e como
sempre fui um terrorista da noite ardente em paixão,resolvo seqüestrá-la
,colocando-a em um cela feita de
carícias e abraços,faço terríveis ameaças com palavras de amor, torturando sua
pele com o toque de minha mão e com os beijos de meus lábios, forço ela a
dançar a sua melhor dança,aquela que satisfaz e libera o seu quadril
aprisionado pelo dia a dia de trabalho forçado... sempre fui um terrorista da
poesia...
Resolvo ameaçar a sua segurança,mostrando para ela a navalha
cortante de sua criatividade e de sua verdade,dou choques elétricos em seus
mamilos com meus lábios infernais...cuspo em seu rosto a dourada verdade do
brilho de seus olhos... sempre fui um terrorista da noite...
Amarro seus braços e começo a queimar sua pele frágil com as
brasas em chamas de sua autenticidade e de sua espontaneidade, sempre fui um
terrorista....
Mesmo vendo que ela estava nua e sem fôlego por causa da
terrível tortura, resolvo masturbar com a violência de meus dedos sua
vagina,lambendo com minha paixão infinita o seu clitóris,aprisionando sua
deliciosa vulva no cárcere de minha boca terrível...e para finalizar o massacre
deste seqüestro terrorista,digo que ela acabara de herdar o planeta vênus,sua
vida,seu coração,seu sexo,sua liberdade,sua alma e o meu amor ...
‘’Viva o terrorismo poético! VIVA!’’ Assim cantou o velho
sábio persa que descia de sua montanha prateada...
No altar da igreja de plástico,a noiva tenta se desvencilhar
dos grampos que prendem seus olhos ensangüentados,colocados pelos grampeadores
de seu noivo,de sua família entorpecida....buscando na escuridão de suas
pálpebras o seu eterno amante que naquele dia não estava presente, gritava ela
:’’tirem isso de mim,não consigo chorar...’’
O noivo sorria de maneira trêmula para os
fotógrafos,segurando uma arma apontada para a sua cabeça...
Mais a frente ,vejo uma linda sereia nadando pelo céu. Ela
vem em minha direção , abre o seu peito e mostra um poema tatuado em seu
coração:
‘’Oh doce cordeiro
dourado,
que a todos
encanta com seu esplendor e doçura...
ès na verdade um lobo
voraz...
Que devora sua presa
somente com seu olhar lascivo...
e suga-lhe o sangue fervente
que antes dava vida ao pequeno coração cheio de dor e ilusão...
Come-lhe toda a carne,
usando os frágeis ossos para limpar suas presas mortais...
...envoltas de um
hálito sedutor, quente e sagaz...
Que conforta todo o
sofrimento existente em tão pouco espaço de tempo, mas em tão grande dimensão
de intervalo...
Que acolhe e seduz sua
presa como se nada de ruim fosse acontecer...
E que lhe promete o
paraíso após todo o padecimento vivenciado...’’
‘’Fiz este poema para você , lindo poeta maldito.Meu nome é
Enila . Soube de seus atos terroristas; ouve-se boatos de outros terroristas
poetas espalhados por estas terras como o viajante,o velho sábio,o terapeuta
maldito,o garoto sem mandíbula,a menina dos olhos de vidro,Cresus Jisto,os 3
andarilhos do leste da cidade vermelha e a linda moça do lago. Soube essa manhã
que a terra dos homens umbigo já não existe mais e que a deusa éris está
chegando...’’
‘’As pessoas estão andando nuas enquanto dançam a música do
Sol,estão fazendo greves reivindicando melhores condições para se amar e para
existir da maneira como elas são...todos estão descendo aos seus infernos para
reencontrar as suas casas dos sonhos, o teatro sem platéia já não existe mais,os
atores somos eu e você,aqui agora, e eu te amo...o primeiro violino da
orquestra cósmica sou eu,você,nós dois juntos para sempre...’’
Neste momento você que teve a coragem de ler este emaranhado
de blasfêmias,você que teve estômago para chegar até este trecho do texto ,
deve estar se questionando;’’mas que texto bastardo é esse?quem é esse pseudo
autor?quem ele pensa que é?qual mãe miserável teve a coragem de parir essa
barata voadora? Quem teve a coragem de amamentar essa ratazana?como deve ser o
riso dessa hiena?como um chacal desses consegue escrever tamanhas besteiras?quem
consegue entender o discurso desse filho da puta?’’
Faço-lhe essas perguntas leitor; mas que vida bastarda é
essa?
Andas pela rua segurando
o seu peido com medo de se cagar nas calças. Abraça as pessoas com medo de que
encostem o pinto ou a vagina em você,se lambuza de perfumes para disfarçar seu
odor de cadáver ,deita com sua mulher odiando o cheiro de seu hálito,não
permite que sua pequena filha sente-se em seu colo por ter medo dela encostar
em seu pênis e de você gostar,odeia as
crianças por elas serem naturais e verdadeiras ,ama o seu diploma,ama o seu
dinheiro,idolatra leis escritas num papel,ama tudo o que é de papel, pois é com
o mesmo papel que você limpa sua sagrada bunda. Acredita em seu cargo,na
caricatura que você criou de si mesmo para viver teatralmente nesta sociedade
suicida . Orgulha-se de sua sabedoria de livrinhos e de universidades, mas sabe
que você não passa de um copiador e de um papagaio que só repete aquilo que já
foi dito por grandes homens,não consegues dizer nada que venha de você,de suas
idéias,de sua imaginação e de sua criatividade. Adora seus presidentes,seus
padres,bispos,pastores,políticos, chefes , pois você sabe que sempre serás um
bebê chorão que não consegue decidir nada por si mesmo,sempre precisando de um
grande pai para limpar suas fraldas . Acredita e amas suas ideologias
políticas,defendendo-as com afinco,pois precisa se enfiar em algum bando para
satisfazer sua necessidade caprina de pertencer a algum grupinho ,onde você não
precisa pensar por si mesmo,basta seguir a ideologia . Orgulha-se do seu grande
carro moderno,pois compraste ele em milhares de prestações ,satisfazendo sua
necessidade de se escravizar com coisas inúteis as quais acreditas ter mais
valor que sua própria vida.
Quando ouves a frase ‘’ faça algo que as crianças possam
lembrar para o resto da vida’’, você as espanca para provar sua masculinidade
ou feminilidade , acreditando que está educando-as,pois foste criado como um
jumento . Vive como um homem de papel , maravilhado com as belezas do mundo
moderno,maravilhado com as novas tecnologias de consumo que só servem para te
separar de ti e de seus semelhantes,enquanto as hienas e os suínos que comandam
esse manicômio que chamamos de sociedade,se mijam rindo de sua cara,gastando o
seu dinheiro com orgias em países pobres ,onde as crianças são as escravas
sexuais . Idolatra o seu carro como um deus ,um totem que representa a sua
masculinidade,o seu poder,o seu status. Mas na verdade sabes que o seu carro
enorme e poderoso só serve para esconder o seu pequeno pênis flácido e sua
ejaculação precoce. Mataria seu irmão,venderia sua mãe, enganaria seu pai,
viraria o cafetão de sua filha e de sua
irmã se soubesse que iria lucrar com isso,ou se fosse ganhar algum cargo ou
status.
Já fostes chamado de zé ninguém e de populacho por grandes
rebeldes de espírito livre. Quando você vai acordar?Quando vai despertar de seu
eterno sonambulismo,quando vai parar de ter orgasmos com o seu controle
remoto?Quando vai parar de ser escravo de sua imbecilidade? Quando vai deixar
de acariciar o mouse do seu computador para reaprender a fazer carícias nos
seus semelhantes?
Caminhando em cacos de vidro, no meio das brasa quente que
sorri para mim....
Eu sempre prefiro arrancar meus olhos quando eles estão
sujos de areia, para poder enxergar com a luz que brilha por trás deles...
Acima do rio de
leite, vejo o Grande homem grande,da Grande igreja grande enforcando-se com
seus intestinos...
Ando pela estrada de cacos de vidro, que corta a sola dos
meus pés, deixo um rastro de sangue envenenado pelo meu caminho ,onde os
espinhos entram em minha carne cortada,fincando suas presas,cortando minha
pele...
Uma mulher afoga-se em suas lágrimas no meio de seu quarto
de vidro, onde a figura no espelho a observa , no instante em que ele arranca o
seu próprio rosto...
As flores negras que nascem na beirada da estrada possuem
olhos. Olhos que desdenham do meu torto caminhar...
Ao lado da estrada
existe um rio de seringas e agulhas usadas. Lá vive o pai peixe de
bigode ,cuspindo sangue marrom naqueles que ousam olhar em seus olhos de
pregos...
A grande mãe peixe alimenta seus filhos com raspas de sua
escama verde e cheia de musgo. Para beber,ela lhes dá uma grande mamadeira
feita de lágrimas maternas das mães que morrem parindo, rindo...
Mais a frente ,avisto um grande castelo; é o castelo da
minha existência...chego perto para ver se ele é de areia,ou feito de outro
material. Mas antes,para chegar até ele,eu preciso encarar a grande fera que
cuida de seus portões.É uma fera gigantesca,sua língua lambe os céus,seus olhos
são de conchas,seus dedos são de ganchos ensaguentados, A grande besta canta uma canção que conheci nas noites
negras, das lágrimas amarelas de pus...
Entro numa luta mortal com a terrível besta. A fera tenta me
esmagar apontando seu enorme dedo de gancho em minha direção . Neste momento
digo para ela : “ ouça besta fera, saibas que enquanto apontas seu dedo de
gancho ensaguentado para mim , outros três de seus dedos apontam de volta para
você...’’
Vejo a besta sendo destroçada por seus outros dedos que
apontavam em sua direção sem ela perceber; seu corpo é rasgado pelos seus
próprios ganchos, caindo em pedaços pelo chão...
Ao abrir os portões do castelo, no seu interior, uma figura
reluz no meio do salão. É um velho de feições orientais,parece um mestre ancião
mongol . No momento em que adentro o salão do castelo o velho olha pra mim e
diz: ‘’ Já ardeste em suas próprias chamas?’’
Após dizer estas palavras, o velho ancião mongol pega um
jarro de porcelana cheio de gasolina , e logo em seguida, ateia fogo em seu
próprio corpo . Enquanto seu corpo queima em chamas , o velho permanece sentado
na mesma posição inicial,dizendo para mim : ‘’faça isso e aprenda a lidar com
suas próprias chamas...’’ Enquanto o fogo devorava impiedosamente sua carne.
Sento ao seu lado e faço o mesmo que o velho, ateio fogo em
meu próprio corpo. Enquanto as chamas me consomem,vejo por trás do fogo
,pessoas conhecidas olhando para mim,enquanto morro e viro cinzas...
O desespero toma conta de mim,minha pele começa a arder e a
derreter com as chamas , destruindo minha carne . Meus olhos começam a ser
tomados pelo fogo, deixo de enxergar . O cheiro de carne queimada toma conta de
minhas narinas,o fogo começa a atravessar meus músculos,chegando até minhas
vísceras. Sinto meu corpo se desfazendo e ardendo com a chama, cada parte de mim vai se acumulando
em um monte de cinzas pelo chão. Meu grito de dor e desespero vai se calando
lentamente...
‘’Agora sou cinzas,um punhado de cinzas pelo chão, apenas o
leve sopro do vento movimenta o que sobrou de mim...’’
Dentro do castelo,brilha uma árvore de prata, ouço sua voz
que me guia até o meu renascimento...
‘’Agora és cinzas,tornou-se pó...sempre que pisar nos cacos
de vidro que rasgam seus pés no meio da estrada,onde as flores negras que
possuem olhos desdenham de ti, sempre
que olhares com medo para o lago de seringas e agulhas usadas, sempre que suas
têmporas discutirem entre si, toda a vez que contemplar a bizarra procissão,sempre
que sentir os espinhos entrarem em sua carne para envenená-la, toda vez que você preferir arrancar seus olhos
sujos de areia para enxergar melhor , quando estiver ouvindo o canto da velha
navalha cega aproximar-se de seus ouvido ,
sempre que sentires a tentação de rasgar sua carne com a velha navalha, quando perceberes que
suas lágrimas estão sujas com o pus de sua ferida mais profunda e que gangrena
em seu peito, incendeie-se, entre em suas chamas,queime-se por inteiro,destrua
tudo o que deve ser destruído em sua carne velha , em seu corpo apodrecido. Destrua
para reconstruir,morra para renascer...’’
‘’Queime-se em suas chamas,arda em seu fogo,torne-se
cinzas,espalhe-se pelo chão com o soprar do vento, mas renasça , saia do ventre
da terra , pois é filho do sol e fostes concebido na Lua. Este castelo foi
construído por ti e ele não é de areia, é feito de carne,sangue,ossos , lágrimas,sonhos,desejos
e paixões. Ele é feito de ti...’’
‘’Acorde todas as manhãs e vibre com o sol e com o céu azul
...e sempre que for necessário,queime,arda, vire chamas e torne-se cinzas...aprenda
a morrer e a renascer todos os dias.’’
Deixo o salão e a árvore prateada, saio do castelo...caminho
com aquela sabedoria,pois já deixei de ser cinzas, ando pelo ar junto do vento,
renascendo do ventre da terra,sentindo a dor deste parto,soltando o novo grito
que arde em meu peito. Respirando pela primeira vez, sinto o ar queimar meus
pulmões...
‘’Todo nascimento e morte envolvem dor,lágrimas e
sangue...’’
Na saída do castelo ,um velho xamã olha em meus olhos e diz ‘’viva, mesmo que isso
custe a sua vida, mas por favor ,viva...’’
Ao meu lado , uma mulher começa a expelir cabelos pela boca.
Bolos enormes de cabelo são cuspidos por sua boca rosada, um poça de cabelo e
saliva forma-se ao seus pés... vendo aquela cena,cinzas começam a sair de minha
boca,cuspo de maneira interminável, cinzas que não param de sair de minha
garganta seca...
Enquanto isso pessoas com sorrisos virtuais e cabeça de
monitores de plasma caminham de maneira ilusória pela estrada onde o chão é de
vidro,formando um enorme espelho, pisando em suas próprias imagens antigas...
Hoje sei que tornei-me fogo,contemplo meu agora ,sei quem
sou e quem sempre fui. Sempre fui o terrorista poeta,o poeta maldito das luzes
negras,do peito magro onde o coração quente pulsa, grito para meus irmãos bem
alto ; ‘’ Façam suas revoluções agora,vivam elas. A revolução deve ser feita no
seu dia a dia,viva como um revolucionário do dia e da noite,saiba que suas
armas são suas paixões,seus amores,sua criatividade,seu coração,seu sexo que te
renova, seu olhar de criança ao ver a
luz do sol refletindo no sorriso da amada...o caos anárquico és tu,pois você é
filho do caos,a revolução acontece agora,dentro de ti e fora de ti....a
revolução é você e sou eu,a revolução está nos seus olhos,nos teus abraços,na
sua voz que aprisionaste em sua garganta,está em suas lágrimas .Pertence a
ela,olhe para ela em todos os seus dias. Junte-se a outros revolucionários como
você e como eu, pois então cantaremos juntos,rumo ao horizonte dourado,onde o
Sol vermelho se põe,carregaremos nossa bandeira negra...’’
Naquela tarde da manhã noturna,ouvi uma música. Era a canção
de Éris...
Dancei na chuva ,com os pés descalços, enquanto olhava para
a doce fada branca de corpo diabólico...
O riso do homem de borracha ecoava pelo ar úmido , sua voz
de látex brilhava de maneira negra nos olhos que ouviam o som da dor ,assim como as orelhas enxergavam a
cor sangrenta da máquina de tortura... sua máquina de tortura estava repleta de
carnes e tecidos humanos ; em uma das pontas , um gancho puxava os intestinos
da sociedade brilhantemente brilhante. Lá embaixo da cama de prego,as pessoas
se asfixiam prazerosamente com sacos plásticos em suas cabeças,bebendo o ácido
que corrói seus sorrisos. Lentamente o homem de borracha colocava agulhas em
baixo das unhas das pessoas ; o prazer
delas era andar com um saco plástico na cabeça, para se asfixiar todos os dias,
adorando religiosamente suas simulações necessárias da realidade, construindo
simulacros de sua felicidade que
enfeitam sua vida cotidiana ...belos simulacros de marca,belos simulacros para
se amar e comer....era uma linda e perfeita sociedade do mais belo e
plastificado espetáculo. Os sacos que asfixiam,as agulhas que penetram
lentamente por baixo das unhas, as simulações da realidade,as simulações de
idéias,as simulações de relacionamentos,os simulacros de marca e saborosamente
comestíveis...os sorrisos plasticamente construídos,as identidades
falsificadas,a sexualidade prostituída,as drogas que anestesiam saborosamente a
realidade irreal, a não-sociedade de consumo,a beleza...o terror..a carne...o
rim...o fígado....o vômito...
As pessoas se divertem saltando do vigésimo andar,para
sentir alguma coisa em seus peitos...
O caramujo.
Na montanha de pregos , o pequeno caramujo sobe seguindo sua
jornada interminável,carregando o peso em suas costas,suas lágrimas lubrificam
os cortes em sua frágil pele de caramujo,feitos pelos pregos do caminho...os
abutres sobrevoam por cima do caramujo,aguardando este desistir de sua jornada
, para poder devorá-lo lentamente...
O pobre caramujo caminha bravamente, estava cansado de ser
algo que ele já conhecia...enquanto isso os abutres perguntavam ao pobre
caramujo : ‘’o que você quer fazer no topo da montanha pequeno caramujo,não vês
que logo vai morrer e irá nos alimentar?’’
‘’Mesmo que no final da jornada eu alimente os
abutres,decido hoje subir a montanha e olhar para o abismo,pois sei que ele me
olha há muito tempo...que assim seja, que eu seja aqui e agora...’’
Nos cumes do desespero.
A pequena grande mulher amargurada ,senta em seus tornozelos
quebrados de ossos expostos,ela se questiona , pois ontem ela não era livre por
imposições do grande macho besouro de cabeça fálica. Acreditou na sua
vitória,mas hoje ela vê que está se tornando na mesma figura que a aprisionaste
no passado...está virando uma fêmea de cabeça fálica peniana, pois caíste na
antiga neurose do macho besouro e hoje não consegue mais encontrar a grande
Gaia, a Afrodite, a Lilith que viviam em seus seios femininos,seios que
alimentam a criança,seios que alimentam o desejo e a vida...
Nos cumes ...
Quando a águia negra aterrissar no solo de espuma,enquanto a
lesma branca dança se contorcendo pelo sal que queima sua pele,sal que fora
jogada pela criança de porcelana , os lobos uivam atrás da carne macia do
coelho azul que corre ,fugindo de seu medo de ter medo.
Vejo uma mulher ,masturbando-se em frente a cova de seu
amado,prestando-lhe sua última homenagem...
Neste instante ,uma jovem surrada me lembra dos dias em que
os libertinos perversos festejaram em Sodoma durante 120 dias...dias malditos
que serviram de regozijo para o sádico marquês,dono do castelo e para
satisfazer o olhar macabro do velho cinza...
O louco canto do homem louco que canta como um louco,loucas
canções de homens loucos. Ou apenas um anti-título de um anti-tema...
O louco caminhava pela rua dizendo aos demais: ‘’olhai para os
homens de papel,que sois vós; ouçam suas vozes de lata,olhai para suas lentes
oculares de plástico, por onde escorrem suas lágrimas de amônia. Escutastes o
grito sangrento que ecoa em seu coração,onde aprisionaste suas emoções em uma
jaula purulenta? Vide, ó homo bestia,és tu que caminhas em suas patas de piolho
sanguessuga , és tu que vives amarrado à sua estupidez preso pelo seus
intestinos,és tu homem cancro que só ouves aquilo que sai de sua latrina bucal
e chega aos teus ouvidos como presentes dourados do deus fezes . Pense nos
grandes homens de branco os quais elegeste como os grandes doutores da
sapiência humana,aqueles que você respeita e traz oferendas milionárias de seu
dinheiro sagrado de merda, aqueles homens que ditam quais de suas emoções e
comportamentos são sadios ou doentios,aqueles homens deuses de branco que te
dão a sua receita diária de controle químico.Gozas só de ver os diplomas
forjados no Olímpio das ratazanas,gozas só de adentrar em seus templos
perfumados , os quais você chama de clínicas. Tens orgasmos retais só de ouvir
as palavras rebuscadas e cheias de firulas,tiradas do grande dicionário das
hienas,sendo regurgitadas pelas suas bocas de insetos.Adora ser mantido como
escravo químico destes açougueiros de almas ,destes plastificadores de
emoções,destes rotuladores de homens de plástico.Tu , homem esfíncter,ama se
fazer de vítima após receber sua etiqueta de doente mental,que se diz
necessitar de medicamentos que envenenam seu corpo para não responsabilizar-se
por sua existência de barata,agonizando com sua barriga amarela para cima....se não quiseres me escutar,pois
ria-se de mim,ria freneticamente , pois no fundo sabes que ris de ti
mesmo,sabes que sou o louco que habitas em teu corpo de gambá cozido,sabes que
sou o focinho do porco que grunhe em sua bestialidade, que usas para chafurdar
seus sentimentos em sua lama negra....pois tu ris agora ao me ver gritando nu
estas palavras em sua praça dominical,mas no fundo sabe que sou a voz que vive
no buraco negro de sua alma,a voz que canta o hino do amanhã,que anuncia o
nascimento do homem póstumo ,o nascimento da criança que assassinastes com sua
mente que mente todos os dias sobre quem és tu...sabes homem lesma ,que sou o
poema que começaste a escrever e que nunca tiveste a coragem de terminar em seu
coração de chacal,sabes que sou a tua voz pura que tu transformaste no canto das
lacraias famintas...sabes que nunca acreditei no seu vôo de abutre pois conheço
suas asas de águia,sabes que podes voar nos campos das borboletas azuis ao
invés dos campos de estrume onde habitas, ri de mim por saber que ainda
acredito em seu caminhar de rinoceronte,ainda acredito em seu corpo de
javali,ainda acredito em seu cérebro de carrapato,ainda acredito em teu
espírito pervertido , ainda acredito em tua criatividade de prego enferrujado;sabes
que acredito em ti ,pois vivo em ti e sou você,conheço a jaula,conheço suas
torturas e seus torturadores,sei quem é o assassino de ti,conheço a face do
monstro que vive no lodo de seus pensamentos...conheço você,mas tu ainda não me
conheces,apenas me escuta em seus sonhos com a voz opaca e com as palavras invertidas
, pois não queres ouvir o que tenho a te dizer...me escuta quando vê o Sol
nascendo e vira o rosto para não sentir o calor,me vê em suas lágrimas de
dor,sente minha presença quando quer fazer o que não pode,por acreditar que não
pode fazer,pois nunca se permitiu a nada,vives no nada, como um nada. Sabes que
estou do outro lado do arco íris,sabes que minha face não é a do dragão,mas sim
a face do espelho de diamante que conheces muito bem,sabes que o rio negro onde
deves nadar só tem o fundo escuro por que nunca abristes os olhos para ver o
que há embaixo da água,para ver a vida que habitas por lá, pois tu é o rio
negro,és tu... tu és,ontem,amanhã , hoje,agora...tu és’’
E na chuva do amanhã,o louco seguiu dançando e comemorando a
morte do velho homem que nascia em parto sangrento , através das mãos do agora
, do presente caótico...enquanto os outros observavam a dança ,o riso vinha em
seus rostos amortecidos pelo inseticida matinal.
E assim , o louco encerrou sua dança infernal dizendo aos
outros homens que riam de sua loucura : ‘’ encerro aqui e agora minha dança, tu
que olhas meus passos com desdém mas com o nó em sua garganta,deixo a música
tocando para que continues minha dança,que é a sua dança também, termine você
este texto com uma dança,a sua dança, este é o seu texto e a sua música...’’
E o louco passou a lâmina dourada em sua garganta,caindo no
chão,banhando na beleza de seu sangue escuro,jorrando...jorrando...
Éris olha para o louco , banha-se em seu sangue
negro,dançando a música do caos,a música do não nascido,pois sabia que seu
filho logo iria acordar do sonho dos humanos...