sexta-feira, 15 de julho de 2016

16 - ADOF ACIMSÓC– EGOCRACIA PARTE 3











E na abadia de thelema...

‘’ A ressurreição do corpo não precisa ser adiada para após a morte. Ela pode acontecer a qualquer momento, se quiseres. Vocês são gigantes que foram conduzidos por pigmeus,acordem de seu sono profundo...’’

‘’E eu sou Éris. Eu lhes trago o caos...’’


Eis a morte dos ventos,o azedume na saliva, o amargor na língua costurada...
O olho de vidro rola pelo salão...
A mulher velha procura por seu olho que caiu no chão . Ela o tirou para que o ornitorrinco anão pudesse ejacular dentro de sua cavidade ocular...
A velha sorri,a porra amarela escorre da órbita de seu olho direito...
A lontra aracnídea grita no teto do salão, como se fosse desabar em prantos
O banquete é servido, numa bela mesa apoiada por quatro pessoas nuas ,pintadas de ouro, depiladas e sem sobrancelhas.
É servido um prato de pele assada,com salada de cabelos, vinho de banha humana  e unhas esverdeadas cozidas na urina de cachorro. Para a sobremesa,feto de galinha com olhos de abutre,adocicado com lágrimas das virgens anãs do paraíso libertino...



Jodoraw olha para cima e vê algumas figuras conhecidas por ele. Ali estavam o viajante,o terapeuta maldito com a cauda do escorpião negro, o garoto sem mandíbula e a menina dos olhos de vidro,o poeta terrorista,lúcifer,azrael ,kali,cresus jisto e o grande ego. Todos olhavam pra ele e sorriam, como se estivessem esperando por algo.  Éris estava iluminada,em sua esplendorosa forma de pinha dourada. Uma vibração fantástica emanava de seu ser,como numa sinfonia insana...

Jodoraw sabia  que aquelas criaturas lhes eram familiares...

Aquele lugar era belo e sombrio , um pesadelo surreal. O som que aquele local emitia era ensurdecedor, o cheiro era de carne apodrecida , mesclando com cravo e alecrim. Ele queria voltar para sua vida, deveria voltar pelo espelho que o trouxe até ali. A deusa Éris cantava uma bela canção, fazendo o centro da cabeça de Jodoraw vibrar intensamente, algo havia despertado ali dentro. Talvez fosse sua alma,ou algum ser superior que existis dentro de seu cérebro, que fora dominado pelo cárcere do medo,da angústia,do pavor,da covardia e do ódio , tudo muito bem banhado e moldado com  lágrimas e barro estomacal.

No meio daquele turbilhão de emoções, Jodoraw sentia que seu corpo poderia explodir,algo muito grande estava ocorrendo no núcleo de sua existência. Quando seus olhos se viraram para o lado esquerdo de seu corpo, uma janela para o outro lado estava aberta,era uma nova passagem,um novo espelho à sua espera. E mais uma vez chovia, uma imensa tempestade de carne moída e sangue , caindo das entranhas daquele céu negro e avermelhado.

Em thelema, Éris havia se transformado em uma enorme vagina dourada,pulsante,de onde saia um doce aroma de vida e paixão. Jodoraw conseguia sentir aquele doce cheiro de amor...

Próximos do portal, duas figuras vinham na direção de Jodoraw. Um deles era o rei amarelo, com sua túnica amarela e a sua máscara branca, cobrindo o seu terrível rosto. Seus tentáculos e sua enorme cauda possuíam escamas escuras,que brilhavam ao refletir a luz que emanava da grande deusa Éris. Seu rosto era coberto por uma máscara branca pois ninguém podia vê-lo,  sua face poderia levar a loucura àquele que o visse. Ele era descendente do terrível Cthulu, o último de sua raça maldita.

A segunda figura , era uma mulher pálida,com um enorme saião negro,com o seus seios brancos à mostra. Seus pulsos cortados jorravam o sangue quente de seu corpo. Ela tocava uma harpa. As cordas de seu instrumento eram feitas com as tripas de seu intestino,acoplado ao instrumento. Um véu escuro e enorme cobria seu rosto. Ela caminhava lentamente , em direção a  Jodoraw. Ao pé de seu ouvido ela lhe disse : ‘’a existência não vale pela quantidade de tempo que você viveu, mas pela sua qualidade, morrer com o coração satisfeito é melhor que viver com a alma vazia, viva o que você deve viver, não morra em vida trancafiado dentro de ti mesmo,não transforme seu corpo em seu cárcere, morra vivendo o fluxo do rio que és a tua vida.’’

E assim ela o beijou com seu véu negro que cobriam seus lábios gélidos, entregou-lhe o cálice de Dionísio. Disse-lhe : ‘’beba neste cálice sempre que esquecer quem você é ou quando te envenenarem com as mentiras do grande ego. Lembre-se, esteja sempre atento aqui, nem ontem e nem amanhã, apenas aqui, nunca ali e tampouco além. Escute a canção de Éris quando ela for tocada em sua alma,apenas a escute.’’

Ao ouvir essa frase, sua arcada dentária se desprendeu de sua mandíbula,voltando-se para o interior de sua boca mordendo sua língua com violência, mastigando sua garganta,entrando pelo esôfago.  Suas presas rasgaram com uma enorme violência seu estômago , abrindo um buraco enorme em sua barriga. Seus órgãos despencaram de seu abdome,caindo na sua frente pelo chão. Jodoraw não sentia dor, estava com medo talvez fosse morrer naquele dia...

Sua glândula pineal lhe diz:

‘’Ame agora seu corpo,cada parte,cada órgão,cada célula que faz com que sejas quem você...ame a si mesmo,até o fim. Eis o verdadeiro amor...’’

Jodoraw entendendo a mensagem da grande pinha dourada,se agaixou, deitou-se sobre seus órgãos espalhados pelo chão,se banhou naquela poça de sangue alegremente,pegou suas vísceras quentes e começou a acaricia-las. Cada toque era erótico, o prazer brotava da carne daqueles órgãos,pulsavam e vibravam. Jodoraw beijava e lambia suas vísceras, estava fazendo amor com suas partes internas. Estava trepando consigo mesmo. Ejaculou nas suas vísceras. Seus órgãos também tiveram orgasmos,pulavam,latejavam,se moviam como numa dança densa e caótica.

Jodoraw recolheu seus órgãos internos,colocando-os dentro de si com carinho e respeito. Nunca havia sentido aquilo por si próprio. Ele agora se amava.

Éris esguichou um líquido azul de sua vagina dourada, tamanha a sua felicidade ao ver Jodoraw se amando. Ela arrotou para comemorar, deu uma baforada daquele arroto em direção à Terra. O planeta começou a girar ao contrário,uma nova era estava começando. A grande cidade de Aripiprazolandia desabava com o impacto. O grande ego fora jogado para fora do planeta azul,estava flutuando agora no espaço. Os novos homúnculos estavam bem,eles iriam ser os protagonistas de um novo mundo que nascia,junto com as outras espécies irmãs que ali habitavam...

O rei amarelo se aproximou de Jodoraw e lhe disse :  ‘’Sua missão cósmica e caótica está completa aqui,passe por aquele portal e viva uma nova vida . Não terás mais que voltar para o lugar onde vivia. Agora vai retornar ao caos,existem outras realidades e outros universos para você...’’

Jodoraw ultrapassou o portal do espelho e do outro lado ele viu seu corpo de uma antiga vida caído no chão. Uma bala de uma arma havia lhe estourado os miolos,sangue se espalhava por todo o piso. Um livro amarelo estava ao lado de seu cadáver,as paredes do quarto estavam pintadas com excremento. Ali haviam dizeres ocultos ,escritos com fezes. Nos dizeres podiam ser lidos frases desconexas como : ‘’ Vou para a Carcosa, lá onde as estrelas negras de Híades e Aldebarã brilham no céu. Do outro lado dos espelhos eu encontrarei o emblema amarelo. Vou para Carcosa, próximo do lago Hali coberto por sua neblina densa,onde os dois sóis brilham iluminando as duas torres. Lá conhecerei Hastur e Alar.’’

Jodoraw pegou o livro amarelo,limpou o sangue da sua capa. Jogou fora os medicamentos daquele homem morto,beijou-lhe a face e saiu daquela casa. Uma nova vida o aguardava...andando com o vento batendo em seu rosto, ele gostaria de saber onde estaria vivendo o escritor...atrás dele,a velha casa não existia mais, página do conto já havia sido virada...

Éris segurava o emblema amarelo em sua mão...
O grande ego vagava pelo universo...
Lúcifer o humano, caminhava...
O antigo filósofo sonhava em seu barril velho,estava embriagado de vinho...
O mais cínico de todos dormia ao lado de seus cães...
Sua lanterna estava apagada...
O escritor acreditava estar ficando louco naquele momento...

Não sabia se ele escrevia o texto ou se o texto escrevia ele...




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