Numa tarde qualquer do último outubro negro,numa rua
qualquer , morava a família dos felizes. Eles moravam em uma bela casa de
paredes pintadas com fezes e portas enfeitadas com os testículos dos homens da
casa. O avô estava sentado no sofá da
sala em estado de decomposição avançada,com moscas verdes saindo de sua boca
feliz. O pequeno Nestor ,o cãozinho da casa,fazia sexo com a perna do avô
necrosado. As crianças menores brincavam de roleta russa no quintal,enquanto o
pai estuprava sua filha adolescente de 13 anos, colocando seu membro doente
naquele pequeno corpo frágil.
A mãe feliz amamentava o seu bebê de 35 anos na
cozinha,segurando o pênis do filho com uma faca , de maneira doce e
ameaçadora...enquanto isso, a noiva grávida ,de nove meses ,que havia se
enforcado nove vezes com o cordão umbilical dos seus nove filhos,que vão nascer
daqui nove dias,quando ela completar noventa e nove anos de idade , olhou para mim , no portão da casa da família
feliz, com lágrimas saindo de seus olhos de girino dizendo: ‘’quando vamos
aprender a morrer?quando vamos aprender a nascer?’’
Saindo daquela casa feliz,caminhando pela Rua Qualquer ,olho
para aquele lindo céu de azulejos vermelhos, feito pelo grande jesus,um pedreiro
esquizóide que adorava rodopiar de maneira infantil com sua caixinha de pregos
ensanguentados.
E o surto psicótico começa ...
Certo dia ouvi a história de um garoto que não dormia,pois
vivia com medo de ter paralisias noturnas e ver criaturas horríveis durante as
crises. Ele ouvia vozes dizendo coisas terríveis,ele via vultos disformes nos
pés de sua cama. Ás vezes algumas criaturas até o seguravam , soltando
baforadas pútridas em seu rosto durante suas paralisias noturnas. Palavras eram
ditas em seus ouvidos,o calafrio subia em sua coluna, junto de uma ardência em
seus rins. Até que numa noite de crise , o garoto resolveu atender ao chamado
das criaturas sombrias. Hoje em dia você pode encontra-lo no canto de seu
quarto,ou rondando sua cama,basta desejar uma crise de paralisia noturna...
Não atenda aquela voz na noite...
No exato momento que escrevo, um ser apodrecido toca meus
ombros,massageando –os com suas mãos gélidas e em pedaços,dizendo boa noite
,soprando em meus ouvidos a canção da noite...gostaria de beija-la mas não
posso,pois ela não tem mais os lábios. Ela ergue seu vestido mofado, mostrando
sua genitália pútrida, numa tentativa de me distrair com os prazeres carnais do
dia e da noite,mas decido voltar para a minha jornada ao abismo, abismo que
cavei com uma colher de madeira,em cima de uma ferida aberta em meu peito. Abismo
negro que me olha de baixo,ardendo em meu tórax , lambendo minhas chagas,soprando
o calor do sol para o horizonte escuro, onde dançam as velhas de pernas retorcidas em trajes pretos e sujos...
O escritor maldito senta em sua mesa feita de ossos e pele
humana cozida,inicia um texto terrível como nunca fora visto naquele mundo de
espinhos,entre quatro paredes de banha,utilizando como tinta o sangue quente
que espirra de um corte feito por uma navalha em seu pulso esquerdo...
Mergulho no abismo,o fogo queima meus ossos,a descida é
longa e feroz,meu crânio se racha pela força esmagadora do abismo,dentro
dele,uma nuvem de gafanhotos com asas de navalhas cortam minha pele , com suas
asas de lâminas ensangüentadas voando ao som de um zumbido alucinante que ecoa
por todo o local...
Ao chegar ao fundo do abismo,meu corpo se despedaça, e cada
parte dele foge para um canto escuro do
abismo negro. Sobra-me apenas meu cérebro e meu coração, meus olhos se escondem
atrás de um abrigo escuro...
Minha alma correu nua para se abrigar naquele lodo
esverdeado ....
Resolvo caminhar sendo um cérebro e um coração,seguindo numa
jornada atrás das outras partes de meu corpo que se perderam naquele local...num
canto vejo um homem sorridente que come agulhas,no outro vejo abelhas-língua
colhendo o mel ensanguentado de uma vagina-flor menstruada, para trazer o doce
alimento para a sua colméia ...Ah!Como eu queria ter meu nariz nesse
momento,para sentir o doce aroma das vaginas –flores,como queria ter minha
língua nesse momento ,para lamber e sentir aquele doce mel sangrento.
Andando por aquele abismo negro ,vejo uma jovem mulher
masturbando-se com uma velha navalha cega,sinto o prazer jorrar em seus
olhos,enquanto ela rasga ferozmente seu clitóris ,gemendo em forma
cúbica,salivando por sua boca doente. Esta doce cena, faz lembrar-me das
brincadeiras das crianças escravas do leste, jogando coquetéis molotovs nas
casas dos grandes senhores com cabeças de porcos,gritando por uma liberdade que
talvez em seus sonhos um dia chegue.
A travessia.
Agora sou um cérebro e um coração, ‘’caminho’’ pelo abismo
apoiado pela minha coluna vertebral ,deslizando minha espinha dorsal por aquele
chão fétido e cheio de agulhas negras contaminadas . Logo a frente , vejo
minhas pernas e braços sendo dilacerados por dezenas de hienas e chacais
famintos. Seus dentes são pregos , rasgam minha carne. O hálito das bestas
envolvem meus músculos expostos,meus ossos e nervos,lambendo o sangue da minha
carne vermelha e brilhante. Os chacais e as hienas carregavam nomes escritos
com sangue em seus pelos,nomes de velhos conhecidos meus e teus; um dos chacais
carregava o nome haldol,o outro , rivotril,andavam
em bandos ,dilacerando sonhos,cérebros e almas criativas,com seus dentes de
pregos banhados em sangue.
Conduzindo as bestas selvagens , estava o velho açougueiro
de branco,em seu jaleco amarelado, cheio de sangue ,com restos de pele ,carne e
pus...
Mais a frente, 3 homens com sacos plásticos negros cobrindo
suas cabeças,cavavam uma cova dentro do abismo; dentro do caixão ,havia uma
criança azul carregando um sorriso morto que dizia: ’’viva ,mesmo que isso
custe a sua vida...’’
No meio do abismo negro um velho com o corpo tomado por
chagas salientes e abertas. que gritavam pela dor do novo mundo que está para
nascer na próxima alvorada vermelha. Do outro lado um anão leproso toca seu
violino feito com o pedaço de um braço envelhecido,veias de porcos e casco de
tartaruga.
Em sua canção ouço o
lamento do fogo que arde em meu peito em forma de aquário,onde peixes com o
formato de esperança e dor, nadam nas águas escuras do meu ser .
No alto do monte feito de bebês mortos , o poeta ébrio recita um poema com suas vísceras nas mãos
banhadas em sangue...
Era uma ode ao passado e ao futuro que carregamos dentro do nosso
pesado piano feito de carne e ossos.
No abismo.
No meio daquele abismo negro,vejo em meio ao
lodo,sangue,fezes,lágrimas,pus,cadáveres,gritos,agulhas,escorpiões azuis
voadores, e as partes de meu corpo
penduradas em estacas de madeira com placas contendo os seguintes dizeres; ‘’A
culpa é sua,o pecado original é seu,você o matou...’’
Nascemos culpados nesse mundo. Antes de tudo,éramos
fogo,estrelas,céu,lua,terra,noite e dia,chuva e sol,vento e mar;éramos estrelas
cadentes e brilhantes...teus lábios nos meus fizeram me lembrar deste passado
glorioso,antes de cair neste abismo negro e me acorrentar nesta vida de
caranguejo,onde eu e todos os outros estão presos , condenados a correr atrás
de nossas partes despedaçadas por aqueles que criaram tudo isto, antes dos
caranguejos chegarem...
O Escaravelho.
Dentro daquele abismo eu vi um escaravelho vermelho vindo
até o meu encontro e assim me disse; ‘’olá pequena alma dolorida e
perdida,ouves estes gritos em seus ouvidos? Pois convido-o a se concentrar e ir
até o encontro destes gritos ,pois lá você vai entender o que está acontecendo
com você,não tenha medo,você finalmente irá se encontrar ...’’
O que aquela figura bizarra estaria tentando dizer com
aquelas palavras de vidro que cortavam a minha mente com questionamentos vindos
de terras distantes,onde um sol brilhava de maneira dourada,numa terra onde um
belo rio corria em seu leito de forma viva e pulsante . No meio deste rio havia
um coração enorme,vermelho e quente, batendo de maneira frenética e cheio de vida. De alguma maneira aquele
coração parecia –me familiar,aquele som era conhecido,sua batidas,aquela alma,
aquela chama,aquela paixão...
Resolvi enfrentar as vozes e ir de encontro ao terrível
buraco negro daquele abismo,onde serpentes com cabeças do passado e do futuro
deslizavam pelo lodo,escorpiões saiam do ânus de uma velha que estava sendo estuprada
por um cão de 3 cabeças . Havia duas mulheres carecas , fodendo com um pênis de
madeira ;cadáveres copulavam de forma bizarra,de maneira frenética, seus
membros apodrecidos se desfaziam com cada movimento naquela orgia cadavérica,
velhas pútridas se arrastavam de quatro,pareciam pequenas aranhas penduradas
nas paredes sujas de excrementos daquele maldito abismo doentio...ali havia uma
criança com roupas sujas e com o rosto pálido,olhos negros e boca negra. Ele gritava no meio daquele
corredor escuro , de sua boca saiam objetos eletrônicos de nossa linda e
perfeita modernidade,saltavam de sua boca enormes
celulares,computadores,comidas enlatadas e industrializadas feitas com o sebo
de nossos suores do dia a dia, numa tentativa enferma nossa de ganhar o ‘’pão
de cada dia’’. Daquela boca demoníaca saiam gritos em forma de estupros,em forma
de produtos vendidos para os pequenos consumidores ;saiam escolas alienadoras,pais
e mães destruidores de infância,pedófilos,pequenas escravas que trabalhavam em
carvoarias de algum lugar distante, onde a nossa sábia mente se perde no canal
de vendas . Nesse mundo somos tão avançados quanto um fungo ou um tumor no meio
do saco de um velho decrépito.
Os gritos daquela criança morta escorriam em meio a sua
saliva negra e contaminada .
E assim, a criança de vidro canta sua canção no alto da
nuvem de esterco...
Após vivenciar este espetáculo doentio,uma lágrima tentava
sair de meu olho,mas havia uma grossa camada de cimento que entupia minhas
glândulas lacrimais,a dor estava insuportável,meus olhos estavam prestes a
explodir,era necessário que aquela lágrima caísse de meus olhos doloridos e
cheios de poeira...sentia uma dor horrível em minha garganta , pois aquele
choro precisava desesperadamente sair de meu corpo duro e de madeira. Havia uma
lacraia habitando minha garganta que me impedia de falar,gritar,e chorar. Esta
lacraia vivia ali por anos;lembro que ela havia se instalado ali na mais tenra
idade,quando comecei a perceber que estavam pintando o sol de preto , o céu de
vermelho,quando percebi que estavam me
vendendo uma promessa de um céu mais bonito do que aquele que eu podia
ver.
Neste momento começava a entender o motivo deu estar perdido
ali naquele abismo,assim como todos os outros homens de plástico.Estamos perdidos
no mesmo abismo que nos prende num cárcere mental que dura anos,séculos,desde
que resolveram criar
dogmas,estados,países,nações,religiões,templos,dinheiro,escolas,trabalhos
estúpidos,acordar cedo para ‘’ganhar a vida’’,armas,exércitos,bandeiras,nações
,regras de vidro,mentiras de borracha,o eu e o você...
.....´´ Onde está a sua vida?onde está Você?Onde você se viu
pela última vez?onde você se perdeu?Onde estaria você neste abismo?``
Gritou a voz ácida no
meio do abismo negro...
Naquele momento a lágrima endurecida escorreu pelo meu rosto
ressecado , desentupindo o cimento que tapavam as minhas glândulas lacrimais...
Dentro daquele abismo infernal, um velho mago negro veio até
minha direção,carregando seu estômago na mão direita ,seu cérebro na mão
esquerda e seu coração estava acima de sua cabeça,pulsando de maneira dourada e
brilhante...
Ele sentou –se nos
pés de uma árvore feita de sonhos perdidos e esperanças dilaceradas,sua boca
estava costurada assim como seus olhos; suas palavras saiam de uma flauta velha
que ele havia tirado de seus ouvidos,ele a tocava com suas narinas e dali saiam
suas palavras mágicas,coloridas como o sorriso de uma criança ao sentir o toque
das águas geladas tocarem seus pés pela primeira vez.
‘’Saiba que você está aqui neste abismo,dilacerado e perdido
em sua busca,mas também,está numa cama ,imóvel,sendo mantido por aparelhos num hospital,em coma,rodeado por seus familiares,no meio do
século XX. És também um esquizofrênico aprisionado em um hospício do século XIX
,onde sofres as piores mazelas que teus semelhantes lhe causam para poder assim
te controlar e te confinar,isolando-o do mundo ,pelo simples fato de não
entenderem sua forma única de ver , vivenciar e denunciar o mundo. Eles apenas
o fazem por não te entenderem, por não entenderem a si mesmos, por temer suas
idéias novas e por temerem as idéias deles, que são velhas, que os aprisionam
em seus corpos cadavéricos,com suas almas tomadas por chagas que os
atemorizam . Tu és um psicólogo no
século XXI,atendendo pessoas que estão morrendo por dentro,que estão
mergulhados em seus calabouços internos,que estão sendo devorados pela vida
fantástica,plastificada,falsificada,fantasiosa,cheia de espetáculos,simulações
e simulacros . És neste momento ,todos estes seres no tempo e no espaço,em
todos os cantos e mundos;és uma barata sobrevivendo num mundo pós apocalíptico;
és um ser de outra galáxia ,que sua espécie humana deste mundo ainda não
conheceu. Estás tentando salvar a barata que existe em teu peito e no de teus
semelhantes,que rodopiam em volta de si mesmo,com sua barriga para cima
tentando dar seus últimos suspiros de uma vida rodeada de estercos, a qual não
queres sair nunca,por puro medo e covardia de se realizares e tornares o que
são de verdade. Tudo o que fizeres agora,tudo o que pensares e decidires , será
sentido por todos estes outros de VOCÊ,vivendo em outros universos e
espaços,sua vida e escolhas influenciam a vida de seus semelhantes,das
plantas,da terra,da lua,do sol,da terra ,das estrelas e do universo.Tu és o
todo,tu és o nada,tu és o caos e a ordem,viva por isso,exista,seja,viva e
transborde por seus poros,assim como o sol ao amanhecer em tua
janela,acariciando e aquecendo sua pele na manhã de céu azul. Deixe seu coração
amanhecer,deixe suas lágrimas escorrerem ao beijar os lábios de sua amada,deixe
suas correntes se arrebentarem pela força de seus sonhos,deixe sua criatividade
fluir como nas brincadeiras de criança;criança que você foi obrigado a enterrar nas profundezas
de teu inferno;inferno o qual você foi obrigado a criar para poder suportar
este mundo decadente que herdastes de outras eras. Seja você aqui,hoje,agora,seja
verdadeiro com você e seja o caos que destrói e cria a vida.’’
‘’Vive encarcerado em seu peito,sua alma foi emparedada,seu
coração está gelado e úmido . Seus antepassados ,por não entenderem a natureza
deste planeta,por não entender o universo e as estrelas,por não entenderem suas
vida e existências,por não conseguirem lidar com suas unicidades,por temerem a
vida e a morte,criaram um mundo governado pelo medo. Criaram o estado governado
pelo rei polvo amarelo,para controlar,massificar,alienar,embrutecer,esfolar,dominar
e matar tudo aquilo que é temido; a liberdade,a vida,a criatividade e a
existência única de cada um. Criaram o dinheiro de merda que te faz vender sua
alma,seu suor,seu corpo e criatividade,suas irmãs ,sua mulher e teus filhos.
Fizeram você acreditar numa falsa sensação de liberdade e igualdade ,fizeram
você engolir as ideologias dos babuínos da bunda azul,a ‘democracia’ dos
orangotangos voadores, vivendo numa sociedade onde tudo é um
espetáculo,inclusive sua morte.
Criaram a família dos felizes,onde você nasce livre como
criança e aos poucos vão te matando com as neuroses de teus pais de gesso,de
teus avôs empalhados ;onde você é obrigado a matar sua personalidade em nome da
sagrada família de vidro. Inventaram as escolas de gados, que servem apenas
para você matar sua criatividade e espírito livre em nome da nação , do
país,obedecendo ordens,andando em fila,aprendendo inutilidades,sendo
massificado,massacrado e coisificado,para viver como um cidadão comum e de bom
exemplo,que mata apenas quando está em casa. Criaram as religiões das fezes de ouro,uma
projeção dos homens em seres irreais que nada mais são que a realização daquilo que o medo humano impede o
homem de ser. Religiões que exploram a fé ,a dor e as fraquezas do
homem,explora o medo da morte e o medo da vida.Destroem seus sexos ; fizeram
você acreditar que és uma besta pronta para matar a qualquer momento,criaram
tantos dogmas,filosofias,teorias que nem sabes mais quem és;vives petrificado e
caminhas como um autômato,tu não passas de um caixão bem decorado andando por
ai.’’
‘’Quando vai rasgar essas suas penas de galinha ,quando vai
rasgar essa carcaça de porco em decomposição,quando vai parar de se alimentar
de unhas antigas e sujas,quando vai se tornar aquilo que és,aquilo que seu
peito clama por ser todos os dias? Preferes cegar teus olhos olhando para o Sol
negro de tuas manhãs cadavéricas? Quando vai reagir?’’
Olhei para o céu daquele abismo, choviam fetos ensanguentados
das nuvens de útero do céu . Percebi que as partes de meu corpo estavam na boca
de um troll negro gigante,ele estava fumando meus membros em seu cachimbo
mágico ,feito com crânio de baleia virgem; ele olhava para mim e sorria com
seus dentes sujos ,banhados em minhas histórias e dramas pessoais,em seus
dentes estavam minhas lembranças e memórias,em suas tragadas subia uma fumaça
com todas as minhas esperanças,tristezas,amor,prazeres,lembranças,amigos...nesse
momento,sentia que pequenas crianças sujas com fezes secas no rosto, tentavam
subir em minha espinha dorsal, onde eu estava me apoiando para poder caminhar
naquele abismo infernal. Enquanto subiam em mim,cantavam uma canção sombria e
estridente, o troll negro e gigante levantou-se e veio em minha direção.Quando
chegou perto de mim,a criatura negra,soprou um baforada de seu cachimbo,fazendo
com que meu corpo voltasse ao normal,transformando-o naquilo em que sempre
fui,antes de me despedaçar durante minha queda neste abismo sombrio, meu corpo
estava finalmente restituído.
Ao olhar para meu corpo vi que existia um buraco em meu
peito de onde o meu coração saiu e começou a conversar comigo,sob os olhares do
mago negro,do troll gigante e de todas aquelas criaturas malditas daquele
abismo diabólico...
O coração disse ‘’
Agora sejas quem você é , tu não vais mais anestesiar sua alma,não vais mais
tentar destruí-la,este é o seu verdadeiro EU ... realize-se,essa é a vontade do
universo,respeite essa vontade,você faz parte de tudo,pois sua alma é o
universo inteiro,esqueça seus deuses e seus demônios,eles estão apenas nas
cabeças das pessoas que precisam deles para não viverem suas próprias vontades,
esse abismo foi cavado por você,ele estava dentro de você esse tempo todo,pois
sempre ignoraste seu verdadeiro eu,hoje teve a coragem de conhecer ,encontrar e
enfrentar seu eu verdadeiro,por isso foi doloroso para ti,mas só nascemos e
renascemos em meio a dor,choro e lutas.Até hoje não assumistes a sua
responsabilidade de possuir um eu interior sagrado e superior, por isso sempre
foi mais fácil fugir para as suas drogas,televisão,dinheiro,trabalho
alienado,sexo morto e álcool para anestesiar a dor de não saber como ser.
Destruístes aquela falsa estátua de madeira podre que te deram pra carregar
pregada em suas costas curvadas e cansadas,viveu acreditando que aquilo era
você. Agora levante , és o mestre de ti,és o senhor de raios e leões, pastor de tempestades que
brotam de seu peito,deixaste de viver no velho rebanho de ilusões...’’
´´De agora em diante,a partir dessa rebelião interna,sejas
tu ,viva quem você é’’.
Naquele momento,meu coração voltou para o meu peito,asas
negras saíram de minhas costas,olhei para meus pés e vi que ali existiam garras
, sabia que agora podia voar do jeito que deveria,como minha alma sempre
desejou. E assim foi feito,até o horizonte,até as estrelas da minha
imaginação,até o sol que pulsa em meu peito.
No meio do vôo da ave de asas negras,uma sirene estridente
toca,vozes são ouvidas no fundo daquela cena : ‘’O paciente apresenta um quadro
grave de esquizofrenia paranóide,intercalando com momentos de euforia e estados
catatônicos ,possui o delirio de ser um grande poeta que cura almas doentes, em
suas alucinações , acredita estar em uma jornada caótica sem fim. Dr. ele
simplesmente acredita...’’
Gargalhadas são ouvidas ao fundo...
Éris segura o pássaro em suas mãos,acaricia-o. Em um gesto
suave,devolve-o para os sonhos do viajante das estrelas, do filho da luz,da
estrela da manhã, devolve o pássaro para dentro dos sonhos humanos do herói
negro que iria iniciar a revolução no mundo, onde a epidemia da estupidez
humana tomava conta de tudo. Onde o vírus do ódio antigo se espalhava por todos
os cantos. Éris sabia que o caos necessitava de sua vinda, por isso ela o
testava e o treinava na dolorosa arte de ser humano e mortal. Éris o preparava
para a luta futura. Enquanto isso, Éris olhava para o outro lado do universo e
via o jovem escritor criando seu texto maldito. Ela segurava em suas mãos sua
maça dourada...
ART IMAGES SETH SIRO
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