terça-feira, 5 de julho de 2016

5 - O GRITO DOS EMPAREDADOS





Numa tarde qualquer do último outubro negro,numa rua qualquer , morava a família dos felizes. Eles moravam em uma bela casa de paredes pintadas com fezes e portas enfeitadas com os testículos dos homens da casa.  O avô estava sentado no sofá da sala em estado de decomposição avançada,com moscas verdes saindo de sua boca feliz. O pequeno Nestor ,o cãozinho da casa,fazia sexo com a perna do avô necrosado. As crianças menores brincavam de roleta russa no quintal,enquanto o pai estuprava sua filha adolescente de 13 anos, colocando seu membro doente naquele pequeno corpo frágil.
A mãe feliz amamentava o seu bebê de 35 anos na cozinha,segurando o pênis do filho com uma faca , de maneira doce e ameaçadora...enquanto isso, a noiva grávida ,de nove meses ,que havia se enforcado nove vezes com o cordão umbilical dos seus nove filhos,que vão nascer daqui nove dias,quando ela completar noventa e nove anos de idade , olhou  para mim , no portão da casa da família feliz, com lágrimas saindo de seus olhos de girino dizendo: ‘’quando vamos aprender a morrer?quando vamos aprender a nascer?’’


Saindo daquela casa feliz,caminhando pela Rua Qualquer ,olho para aquele lindo céu de azulejos  vermelhos, feito pelo grande jesus,um pedreiro esquizóide que adorava rodopiar de maneira infantil com sua caixinha de pregos ensanguentados.

E o surto psicótico começa ...

Certo dia ouvi a história de um garoto que não dormia,pois vivia com medo de ter paralisias noturnas e ver criaturas horríveis durante as crises. Ele ouvia vozes dizendo coisas terríveis,ele via vultos disformes nos pés de sua cama. Ás vezes algumas criaturas até o seguravam , soltando baforadas pútridas em seu rosto durante suas paralisias noturnas. Palavras eram ditas em seus ouvidos,o calafrio subia em sua coluna, junto de uma ardência em seus rins. Até que numa noite de crise , o garoto resolveu atender ao chamado das criaturas sombrias. Hoje em dia você pode encontra-lo no canto de seu quarto,ou rondando sua cama,basta desejar uma crise de paralisia noturna...

Não atenda aquela voz na noite...

No exato momento que escrevo, um ser apodrecido toca meus ombros,massageando –os com suas mãos gélidas e em pedaços,dizendo boa noite ,soprando em meus ouvidos a canção da noite...gostaria de beija-la mas não posso,pois ela não tem mais os lábios. Ela ergue seu vestido mofado, mostrando sua genitália pútrida, numa tentativa de me distrair com os prazeres carnais do dia e da noite,mas decido voltar para a minha jornada ao abismo, abismo que cavei com uma colher de madeira,em cima de uma ferida aberta em meu peito. Abismo negro que me olha de baixo,ardendo em meu tórax , lambendo minhas chagas,soprando o calor do sol para o horizonte escuro, onde dançam as velhas  de pernas retorcidas em trajes pretos e sujos...

O escritor maldito senta em sua mesa feita de ossos e pele humana cozida,inicia um texto terrível como nunca fora visto naquele mundo de espinhos,entre quatro paredes de banha,utilizando como tinta o sangue quente que espirra de um corte feito por uma navalha em seu pulso esquerdo...

Mergulho no abismo,o fogo queima meus ossos,a descida é longa e feroz,meu crânio se racha pela força esmagadora do abismo,dentro dele,uma nuvem de gafanhotos com asas de navalhas cortam minha pele , com suas asas de lâminas ensangüentadas voando ao som de um zumbido alucinante que ecoa por todo o local...

Ao chegar ao fundo do abismo,meu corpo se despedaça, e cada parte dele  foge para um canto escuro do abismo negro. Sobra-me apenas meu cérebro e meu coração, meus olhos se escondem atrás de um abrigo escuro...
Minha alma correu nua para se abrigar naquele lodo esverdeado ....
Resolvo caminhar sendo um cérebro e um coração,seguindo numa jornada atrás das outras partes de meu corpo que se perderam naquele local...num canto vejo um homem sorridente que come agulhas,no outro vejo abelhas-língua colhendo o mel ensanguentado de uma vagina-flor menstruada, para trazer o doce alimento para a sua colméia ...Ah!Como eu queria ter meu nariz nesse momento,para sentir o doce aroma das vaginas –flores,como queria ter minha língua nesse momento ,para lamber e sentir aquele doce mel sangrento.

Andando por aquele abismo negro ,vejo uma jovem mulher masturbando-se com uma velha navalha cega,sinto o prazer jorrar em seus olhos,enquanto ela rasga ferozmente seu clitóris ,gemendo em forma cúbica,salivando por sua boca doente. Esta doce cena, faz lembrar-me das brincadeiras das crianças escravas do leste, jogando coquetéis molotovs nas casas dos grandes senhores com cabeças de porcos,gritando por uma liberdade que talvez em seus sonhos um dia chegue.

A travessia.

Agora sou um cérebro e um coração, ‘’caminho’’ pelo abismo apoiado pela minha coluna vertebral ,deslizando minha espinha dorsal por aquele chão fétido e cheio de agulhas negras contaminadas . Logo a frente , vejo minhas pernas e braços sendo dilacerados por dezenas de hienas e chacais famintos. Seus dentes são pregos , rasgam minha carne. O hálito das bestas envolvem meus músculos expostos,meus ossos e nervos,lambendo o sangue da minha carne vermelha e brilhante. Os chacais e as hienas carregavam nomes escritos com sangue em seus pelos,nomes de velhos conhecidos meus e teus; um dos chacais carregava o nome  haldol,o outro , rivotril,andavam em bandos ,dilacerando sonhos,cérebros e almas criativas,com seus dentes de pregos banhados em sangue.
Conduzindo as bestas selvagens , estava o velho açougueiro de branco,em seu jaleco amarelado, cheio de sangue ,com restos de pele ,carne e pus...

Mais a frente, 3 homens com sacos plásticos negros cobrindo suas cabeças,cavavam uma cova dentro do abismo; dentro do caixão ,havia uma criança azul carregando um sorriso morto que dizia: ’’viva ,mesmo que isso custe a sua vida...’’
No meio do abismo negro um velho com o corpo tomado por chagas salientes e abertas. que gritavam pela dor do novo mundo que está para nascer na próxima alvorada vermelha. Do outro lado um anão leproso toca seu violino feito com o pedaço de um braço envelhecido,veias de porcos e casco de tartaruga.
Em sua canção  ouço o lamento do fogo que arde em meu peito em forma de aquário,onde peixes com o formato de esperança e dor, nadam nas águas escuras do meu ser .

No alto do monte feito de bebês mortos , o poeta ébrio  recita um poema com suas vísceras nas mãos banhadas em sangue...



Era uma ode ao passado e ao futuro que carregamos dentro do nosso pesado piano feito de carne e ossos.

No abismo.


No meio daquele abismo negro,vejo em meio ao lodo,sangue,fezes,lágrimas,pus,cadáveres,gritos,agulhas,escorpiões azuis voadores, e  as partes de meu corpo penduradas em estacas de madeira com placas contendo os seguintes dizeres; ‘’A culpa é sua,o pecado original é seu,você o matou...’’

Nascemos culpados nesse mundo. Antes de tudo,éramos fogo,estrelas,céu,lua,terra,noite e dia,chuva e sol,vento e mar;éramos estrelas cadentes e brilhantes...teus lábios nos meus fizeram me lembrar deste passado glorioso,antes de cair neste abismo negro e me acorrentar nesta vida de caranguejo,onde eu e todos os outros estão presos , condenados a correr atrás de nossas partes despedaçadas por aqueles que criaram tudo isto, antes dos caranguejos chegarem...

O Escaravelho.

Dentro daquele abismo eu vi um escaravelho vermelho vindo até o meu encontro e assim me disse; ‘’olá pequena alma dolorida e perdida,ouves estes gritos em seus ouvidos? Pois convido-o a se concentrar e ir até o encontro destes gritos ,pois lá você vai entender o que está acontecendo com você,não tenha medo,você finalmente irá se encontrar ...’’

O que aquela figura bizarra estaria tentando dizer com aquelas palavras de vidro que cortavam a minha mente com questionamentos vindos de terras distantes,onde um sol brilhava de maneira dourada,numa terra onde um belo rio corria em seu leito de forma viva e pulsante . No meio deste rio havia um coração enorme,vermelho e quente, batendo de maneira frenética  e cheio de vida. De alguma maneira aquele coração parecia –me familiar,aquele som era conhecido,sua batidas,aquela alma,
aquela chama,aquela paixão...

Resolvi enfrentar as vozes e ir de encontro ao terrível buraco negro daquele abismo,onde serpentes com cabeças do passado e do futuro deslizavam pelo lodo,escorpiões saiam do ânus de uma velha que estava sendo estuprada por um cão de 3 cabeças . Havia duas mulheres carecas , fodendo com um pênis de madeira ;cadáveres copulavam de forma bizarra,de maneira frenética, seus membros apodrecidos se desfaziam com cada movimento naquela orgia cadavérica, velhas pútridas se arrastavam de quatro,pareciam pequenas aranhas penduradas nas paredes sujas de excrementos daquele maldito abismo doentio...ali havia uma criança com roupas sujas e com o rosto pálido,olhos negros e  boca negra. Ele gritava no meio daquele corredor escuro , de sua boca saiam objetos eletrônicos de nossa linda e perfeita modernidade,saltavam de sua boca enormes celulares,computadores,comidas enlatadas e industrializadas feitas com o sebo de nossos suores do dia a dia, numa tentativa enferma nossa de ganhar o ‘’pão de cada dia’’. Daquela boca demoníaca saiam gritos em forma de estupros,em forma de produtos vendidos para os pequenos consumidores ;saiam escolas alienadoras,pais e mães destruidores de infância,pedófilos,pequenas escravas que trabalhavam em carvoarias de algum lugar distante, onde a nossa sábia mente se perde no canal de vendas . Nesse mundo somos tão avançados quanto um fungo ou um tumor no meio do saco de um velho decrépito.
Os gritos daquela criança morta escorriam em meio a sua saliva negra e contaminada .

E assim, a criança de vidro canta sua canção no alto da nuvem de esterco...

Após vivenciar este espetáculo doentio,uma lágrima tentava sair de meu olho,mas havia uma grossa camada de cimento que entupia minhas glândulas lacrimais,a dor estava insuportável,meus olhos estavam prestes a explodir,era necessário que aquela lágrima caísse de meus olhos doloridos e cheios de poeira...sentia uma dor horrível em minha garganta , pois aquele choro precisava desesperadamente sair de meu corpo duro e de madeira. Havia uma lacraia habitando minha garganta que me impedia de falar,gritar,e chorar. Esta lacraia vivia ali por anos;lembro que ela havia se instalado ali na mais tenra idade,quando comecei a perceber que estavam pintando o sol de preto , o céu de vermelho,quando percebi que estavam me  vendendo uma promessa de um céu mais bonito do que aquele que eu podia ver.

Neste momento começava a entender o motivo deu estar perdido ali naquele abismo,assim como todos os outros homens de plástico.Estamos perdidos no mesmo abismo que nos prende num cárcere mental que dura anos,séculos,desde que resolveram criar dogmas,estados,países,nações,religiões,templos,dinheiro,escolas,trabalhos estúpidos,acordar cedo para ‘’ganhar a vida’’,armas,exércitos,bandeiras,nações ,regras de vidro,mentiras de borracha,o eu e o você...

.....´´ Onde está a sua vida?onde está Você?Onde você se viu pela última vez?onde você se perdeu?Onde estaria você neste abismo?``
 Gritou a voz ácida no meio do abismo negro...

Naquele momento a lágrima endurecida escorreu pelo meu rosto ressecado , desentupindo o cimento que tapavam as minhas glândulas lacrimais...

Dentro daquele abismo infernal, um velho mago negro veio até minha direção,carregando seu estômago na mão direita ,seu cérebro na mão esquerda e seu coração estava acima de sua cabeça,pulsando de maneira dourada e brilhante...

Ele sentou –se  nos pés de uma árvore feita de sonhos perdidos e esperanças dilaceradas,sua boca estava costurada assim como seus olhos; suas palavras saiam de uma flauta velha que ele havia tirado de seus ouvidos,ele a tocava com suas narinas e dali saiam suas palavras mágicas,coloridas como o sorriso de uma criança ao sentir o toque das águas geladas tocarem seus pés pela primeira vez.

‘’Saiba que você está aqui neste abismo,dilacerado e perdido em sua busca,mas também,está numa cama ,imóvel,sendo mantido por aparelhos  num hospital,em  coma,rodeado por seus familiares,no meio do século XX. És também um esquizofrênico aprisionado em um hospício do século XIX ,onde sofres as piores mazelas que teus semelhantes lhe causam para poder assim te controlar e te confinar,isolando-o do mundo ,pelo simples fato de não entenderem sua forma única de ver , vivenciar e denunciar o mundo. Eles apenas o fazem por não te entenderem, por não entenderem a si mesmos, por temer suas idéias novas e por temerem as idéias deles, que são velhas, que os aprisionam em seus corpos cadavéricos,com suas almas tomadas por chagas que os atemorizam  . Tu és um psicólogo no século XXI,atendendo pessoas que estão morrendo por dentro,que estão mergulhados em seus calabouços internos,que estão sendo devorados pela vida fantástica,plastificada,falsificada,fantasiosa,cheia de espetáculos,simulações e simulacros . És neste momento ,todos estes seres no tempo e no espaço,em todos os cantos e mundos;és uma barata sobrevivendo num mundo pós apocalíptico; és um ser de outra galáxia ,que sua espécie humana deste mundo ainda não conheceu. Estás tentando salvar a barata que existe em teu peito e no de teus semelhantes,que rodopiam em volta de si mesmo,com sua barriga para cima tentando dar seus últimos suspiros de uma vida rodeada de estercos, a qual não queres sair nunca,por puro medo e covardia de se realizares e tornares o que são de verdade. Tudo o que fizeres agora,tudo o que pensares e decidires , será sentido por todos estes outros de VOCÊ,vivendo em outros universos e espaços,sua vida e escolhas influenciam a vida de seus semelhantes,das plantas,da terra,da lua,do sol,da terra ,das estrelas e do universo.Tu és o todo,tu és o nada,tu és o caos e a ordem,viva por isso,exista,seja,viva e transborde por seus poros,assim como o sol ao amanhecer em tua janela,acariciando e aquecendo sua pele na manhã de céu azul. Deixe seu coração amanhecer,deixe suas lágrimas escorrerem ao beijar os lábios de sua amada,deixe suas correntes se arrebentarem pela força de seus sonhos,deixe sua criatividade fluir como nas brincadeiras de criança;criança que  você foi obrigado a enterrar nas profundezas de teu inferno;inferno o qual você foi obrigado a criar para poder suportar este mundo decadente que herdastes de outras eras. Seja você aqui,hoje,agora,seja verdadeiro com você e seja o caos que destrói e cria a vida.’’

‘’Vive encarcerado em seu peito,sua alma foi emparedada,seu coração está gelado e úmido . Seus antepassados ,por não entenderem a natureza deste planeta,por não entender o universo e as estrelas,por não entenderem suas vida e existências,por não conseguirem lidar com suas unicidades,por temerem a vida e a morte,criaram um mundo governado pelo medo. Criaram o estado governado pelo rei polvo amarelo,para controlar,massificar,alienar,embrutecer,esfolar,dominar e matar tudo aquilo que é temido; a liberdade,a vida,a criatividade e a existência única de cada um. Criaram o dinheiro de merda que te faz vender sua alma,seu suor,seu corpo e criatividade,suas irmãs ,sua mulher e teus filhos. Fizeram você acreditar numa falsa sensação de liberdade e igualdade ,fizeram você engolir as ideologias dos babuínos da bunda azul,a ‘democracia’ dos orangotangos voadores, vivendo numa sociedade onde tudo é um espetáculo,inclusive sua morte.
Criaram a família dos felizes,onde você nasce livre como criança e aos poucos vão te matando com as neuroses de teus pais de gesso,de teus avôs empalhados ;onde você é obrigado a matar sua personalidade em nome da sagrada família de vidro. Inventaram as escolas de gados, que servem apenas para você matar sua criatividade e espírito livre em nome da nação , do país,obedecendo ordens,andando em fila,aprendendo inutilidades,sendo massificado,massacrado e coisificado,para viver como um cidadão comum e de bom exemplo,que mata apenas quando está em casa. Criaram as religiões das fezes de ouro,uma projeção dos homens em seres irreais que nada mais são que a  realização daquilo que o medo humano impede o homem de ser. Religiões que exploram a fé ,a dor e as fraquezas do homem,explora o medo da morte e o medo da vida.Destroem seus sexos ; fizeram você acreditar que és uma besta pronta para matar a qualquer momento,criaram tantos dogmas,filosofias,teorias que nem sabes mais quem és;vives petrificado e caminhas como um autômato,tu não passas de um caixão bem decorado andando por ai.’’

‘’Quando vai rasgar essas suas penas de galinha ,quando vai rasgar essa carcaça de porco em decomposição,quando vai parar de se alimentar de unhas antigas e sujas,quando vai se tornar aquilo que és,aquilo que seu peito clama por ser todos os dias? Preferes cegar teus olhos olhando para o Sol negro de tuas manhãs cadavéricas? Quando vai reagir?’’

Olhei para o céu daquele abismo, choviam fetos ensanguentados das nuvens de útero do céu . Percebi que as partes de meu corpo estavam na boca de um troll negro gigante,ele estava fumando meus membros em seu cachimbo mágico ,feito com crânio de baleia virgem; ele olhava para mim e sorria com seus dentes sujos ,banhados em minhas histórias e dramas pessoais,em seus dentes estavam minhas lembranças e memórias,em suas tragadas subia uma fumaça com todas as minhas esperanças,tristezas,amor,prazeres,lembranças,amigos...nesse momento,sentia que pequenas crianças sujas com fezes secas no rosto, tentavam subir em minha espinha dorsal, onde eu estava me apoiando para poder caminhar naquele abismo infernal. Enquanto subiam em mim,cantavam uma canção sombria e estridente, o troll negro e gigante levantou-se e veio em minha direção.Quando chegou perto de mim,a criatura negra,soprou um baforada de seu cachimbo,fazendo com que meu corpo voltasse ao normal,transformando-o naquilo em que sempre fui,antes de me despedaçar durante minha queda neste abismo sombrio, meu corpo estava finalmente restituído.

Ao olhar para meu corpo vi que existia um buraco em meu peito de onde o meu coração saiu e começou a conversar comigo,sob os olhares do mago negro,do troll gigante e de todas aquelas criaturas malditas daquele abismo diabólico...
 O coração disse ‘’ Agora sejas quem você é , tu não vais mais anestesiar sua alma,não vais mais tentar destruí-la,este é o seu verdadeiro EU ... realize-se,essa é a vontade do universo,respeite essa vontade,você faz parte de tudo,pois sua alma é o universo inteiro,esqueça seus deuses e seus demônios,eles estão apenas nas cabeças das pessoas que precisam deles para não viverem suas próprias vontades, esse abismo foi cavado por você,ele estava dentro de você esse tempo todo,pois sempre ignoraste seu verdadeiro eu,hoje teve a coragem de conhecer ,encontrar e enfrentar seu eu verdadeiro,por isso foi doloroso para ti,mas só nascemos e renascemos em meio a dor,choro e lutas.Até hoje não assumistes a sua responsabilidade de possuir um eu interior sagrado e superior, por isso sempre foi mais fácil fugir para as suas drogas,televisão,dinheiro,trabalho alienado,sexo morto e álcool para anestesiar a dor de não saber como ser. Destruístes aquela falsa estátua de madeira podre que te deram pra carregar pregada em suas costas curvadas e cansadas,viveu acreditando que aquilo era você. Agora levante , és o mestre de ti,és o senhor de  raios e leões, pastor de tempestades que brotam de seu peito,deixaste de viver no velho rebanho de ilusões...’’


´´De agora em diante,a partir dessa rebelião interna,sejas tu ,viva quem você é’’.

Naquele momento,meu coração voltou para o meu peito,asas negras saíram de minhas costas,olhei para meus pés e vi que ali existiam garras , sabia que agora podia voar do jeito que deveria,como minha alma sempre desejou. E assim foi feito,até o horizonte,até as estrelas da minha imaginação,até o sol que pulsa em meu peito.

No meio do vôo da ave de asas negras,uma sirene estridente toca,vozes são ouvidas no fundo daquela cena : ‘’O paciente apresenta um quadro grave de esquizofrenia paranóide,intercalando com momentos de euforia e estados catatônicos ,possui o delirio de ser um grande poeta que cura almas doentes, em suas alucinações , acredita estar em uma jornada caótica sem fim. Dr. ele simplesmente acredita...’’

Gargalhadas são ouvidas ao fundo...


Éris segura o pássaro em suas mãos,acaricia-o. Em um gesto suave,devolve-o para os sonhos do viajante das estrelas, do filho da luz,da estrela da manhã, devolve o pássaro para dentro dos sonhos humanos do herói negro que iria iniciar a revolução no mundo, onde a epidemia da estupidez humana tomava conta de tudo. Onde o vírus do ódio antigo se espalhava por todos os cantos. Éris sabia que o caos necessitava de sua vinda, por isso ela o testava e o treinava na dolorosa arte de ser humano e mortal. Éris o preparava para a luta futura. Enquanto isso, Éris olhava para o outro lado do universo e via o jovem escritor criando seu texto maldito. Ela segurava em suas mãos sua maça dourada...



 ART IMAGES SETH SIRO

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