quinta-feira, 3 de novembro de 2016

LOIRA DO BANHEIRO


-vamos, conte tudo para eles e não omita nada. Quero que você conte essa história para os seus leitores,assim todos estarão avisados.
- Certo,vou contar tudo. Bem, vamos aos fatos. Espero que não cometam o mesmo erro que eu.

O que eu vou lhes contar aqui é baseado em fatos verídicos peço que não tentem em hipótese alguma vivenciar o que ocorreu. Cabe a vocês decidirem o que é bom ou não, vocês são responsáveis por suas vidas. Mesmo assim, peço lhes novamente que não tentem realizar as experiências aqui contidas, pois elas causaram danos a muitas pessoas. Inclusive custou a vida de muitas pessoas. Vamos aos fatos.

Ricardo escrevia para um blog sobre contos de terror, ele pesquisava sobre lendas urbanas e depois transformava suas pesquisas em contos.
Ele tinha dois amigos que o ajudavam em seus trabalhos cujos nomes eram Júlio e Gabriela.
Certa vez Ricardo decidiu escrever algo sobre a famosa lenda da loira do banheiro. Ele pesquisou em diversos sites, mas o conteúdo que ele encontrou que mais chamou sua atenção foi o de um site na Deep Web.  Neste site ele achou um conteúdo que lhe dizia que a tal loira havia vivido na década de oitenta e que ela tinha dezoito anos na data em que faleceu. No mesmo texto Ricardo viu que essa garota havia sido morta por alguns colegas de faculdade.  Pelas informações indicadas eles não toleravam o seu namoro com uma outra garota. Elas estudavam juntas e o seu romance nunca foi aceito, além do comportamento das duas meninas que era considerado exótico demais para a época. Elas se vestiam de maneira diferente da maioria, se reuniam em cemitério para namorar, beber vinho,fumar,ler poesias de Baudelaire e Rimbaud e ouvir música gótica. Eram consideradas estranhas e problemáticas por todos.
Certa vez durante as aulas de novembro, um grupo de garotos e de garotas cercou uma das garotas e a violentaram até a morte, tudo isso ocorreu no banheiro da faculdade onde todos estudavam.  A outra moça só conseguiu escapar pois ela havia faltado na aula esse dia. Aquela que havia sido morta de forma cruel era ninguém menos que a nossa famosa loira do banheiro.
Ricardo não encontrou datas, nomes,locais, registros policiais, nada. Ele apenas havia encontrado esse relato que era diferente do todos os outros que ele havia encontrado pela internet. Como este relato chamou muito a sua atenção ele resolveu escrever e pesquisar mais em cima desta história. Na mesma página ele encontrou ainda o conhecido ritual de invocação da loira do banheiro, a estrela da nossa história.

Para incrementar mais as coisas, Ricardo resolveu fazer o experimento de invocação na sua casa junto de seus amigos Gabriela e Júlio.  Ambos adoraram a idéia e toparam na hora.
Tudo aconteceu numa noite, eles fizeram o ritual no banheiro estando os três juntos. O ritual consiste em puxar a descarga três vezes,falar três palavrões e chamar também por três vezes a loira. Após o ritual realizado por eles,nada aconteceu. Eles apenas riram a noite toda e tomaram algumas cervejas pensando em idéias para o conto de Ricardo.
No dia seguinte Ricardo e Júlio foram ao shopping comer um lanche de fast food. Em determinado momento ambos resolveram ir ao banheiro antes de voltarem para suas casas. E foi lá no banheiro que o mais terrível aconteceu. Ao adentrarem o local a porta se trancou sozinha, as luzes se apagavam a acendiam ininterruptamente, as torneiras se abriram sozinhas liberando muito sangue corrente ao invés de água. As portas dos sanitários abriam e fechavam com força, das privadas saiam litros de sangue que vazava pelas tampas,dos azulejos escorriam mais sangue escuro, um odor de esgoto e carne podre tomou conta de todo o ambiente e um grito horrível e desesperador ecoou da última porta onde ficava o último sanitário. Ricardo ficou paralisado de medo, Júlio decidiu ir ver o que estava acontecendo lá. Para o azar do rapaz , ao chegar em frente da última porta uma cabeça com cabelo loiro ,sujo,ensebado e molhado apareceu na porta rastejando junto ao chão. Logo em seguida braços magros e apodrecidos apareceram carregando aquele corpo doentio que caminhava como se fosse uma aranha. Aquele ser se movimentava lentamente e com dificuldade,seus membros eram finos e suas juntas estalavam o tempo todo. Seus braços estavam costurados em seus ombros finos,seu corpo era cheio de retalhos e cortes profundos,ela usava um vestido branco e sujo. Tudo levava a crer que aquela figura era feminina. Em seu pescoço era possível ver um buraco enorme revelando toda a sua anatomia interna. Seu corpo estava em estado de decomposição avançado,seus olhos eram brancos como o leite,em seu rosto ela trazia um corte enorme em sua boca que lembrava o sorriso macabro da Dália Negra. Sua mandíbula estava deslocada aumentando ainda mais aquele terrível sorriso diabólico. Sua língua roxa não parava dentro de sua bocarra doentia. Em suas narinas ela trazia algodões amarelados pelos seus fluídos corpóreos. Seu grito tenebroso era gutural e potente,trazia junto um som que lembrava uma garganta engasgada com secreções e muito muco. Era visível a sua dificuldade para respirar.
Logo Ricardo percebeu que aquela entidade era a loira do banheiro. Ele simplesmente viu aquela criatura rastejar até o seu amigo e engolir a cabeça de Júlio com a sua boca enorme. Ela deslocou ainda mais a sua mandíbula arrebentada para engolir o crânio do pobre rapaz. Ao colocá-lo em sua boca , Ricardo viu a cabeça de seu amigo ser estraçalhada,ouviu o barulho do crânio rachando com as mastigadas e viu também a massa encefálica escorrendo das narinas e dos ouvidos de Júlio. Logo em seguida,Ricardo viu que as luzes se apagaram de repente e ao se acenderem novamente e no seu devido lugar. E o corpo de seu amigo não estava mais no local,muito menos aquele ser terrível estava lá. Ricardo correu para a porta abrindo-a com força e correu desesperadamente. Ele percebeu que ninguém tinha ouvido os ruídos vindo do banheiro,ninguém havia presenciado o mesmo que ele. Decidiu então correr para a casa de Gabriela pois o seu medo era tanto que chegou a pensar que as pessoas não iriam acreditar nele e poderiam culpá-lo pelo sumiço de seu amigo. Preferiu buscar consolo e conforto na casa da amiga.
Ao chegar à casa de Gabriela ele lhe contou todo o ocorrido, a moça tentou acalma-lo e lhe pediu para descansar um pouco em sua cama para depois eles pensarem no que poderiam estar fazendo para encontrar Júlio. Era óbvio que a garota não estava acreditando no amigo apavorado. Mesmo assim decidiu dar um tempo para ele colocar suas idéias no lugar, pois viu que algo errado estava ocorrendo com ele. Enquanto Ricardo ficou tentando se recuperar no quarto, ela foi ao banheiro fumar um pouco e fazer suas necessidades.
De repente um grito vindo do banheiro foi ouvido. O homem correu para ver o que estava acontecendo e ao entrar no banheiro ele viu que sua amiga estava presa na privada gemendo de dor.  Ao se aproximar da menina ele viu que uma mão pútrida a segurava de dentro do vaso sanitário. Aquela mão pálido e suja a segurava por sua vagina,estava com alguns dedos enfiados em seu canal vaginal e com outro dedo ela esfregava com força o clitóris da moça apavorada. Ricardo tentou puxar a amiga,mas sem sucesso. Em seguida ele percebeu que ela estava tendo um orgasmo terrível misturado com pavor,dor,prazer e pânico. Enquanto sua amiga olhava para ele com lágrimas nos olhos  aquela mão asquerosa penetrou a vagina dela e logo em seguida saiu pelo abdome da pobre coitada rasgando-lhe a barriga inteira carregando seu útero naquela mão amaldiçoada. O corpo da menina caiu ao lado da privada todo coberto de sangue. Ricardo gritou apavorado , em seguida aquela mesma criatura que havia levado seu amigo embora estava surgindo do interior do vaso sanitário.  Seu corpo foi se erguendo lentamente,liberando o mesmo odor de esgoto que antes ele havia sentido no banheiro do shopping. Uma água escura e repleta de sangue escorria pelo vaso,e o mesmo grito apavorante surgia tomando conta de todo o ambiente. Ricardo tentou se salvar correndo desesperadamente. Em seguida ele olhou para trás para ver se não havia sido seguido pelo monstro. Ele visualizou a loira do banheiro grudada na parede do corredor como se fosse um inseto gigante. Ela veio correndo em sua direção como se fosse uma barata do inferno. Ele tropeçou na cama de Gabriela caindo ao chão. A criatura pulou em cima dele liberando sua enorme língua em seu rosto assustado. Seu hálito tinha o odor de fezes e sangue. Ela olhou para ele com suas narinas amareladas e lhe disse:
- ‘’ Hoje você não vai morrer,você será minha última vítima. Preciso me libertar e você me ajudará nessa tarefa. Mas pagará um alto preço pela sua vida,sofrerá até o seu último dia ‘’.

E foi assim que chegamos onde estamos caros leitores...


SETOR DE PSIQUIATRIA – ALA 54

-Doutor Alfredo, estou com mais uma carta do paciente que acredita ser um escritor de um blog de terror e que pensa que seus amigos foram mortos pela loira do banheiro. O que eu faço com essa carta aqui?

- Hoje é seu primeiro dia aqui né? Bom, vou lhe contar o caso desse paciente. Quando ele era criança sua mãe vivia o assustando com a lenda da loira do banheiro. Sua mãe tinha sérios transtornos mentais e acabou assassinando seu pai e ele assistiu toda a cena. Sua mãe disse-lhe que quem havia matado o seu pai fora a própria loira do banheiro e que era pra ele não contar pra ninguém. E assim ele o fez,claro que ao crescer todo o seu histórico lhe trouxe um severo transtorno psiquiátrico.

-Então foi ele quem matou os amigos como consta na sua ficha de internação?

- Tudo leva a crer que sim. Ele já está aqui a um bom tempo e não há previsão de saída. Ele sempre nos diz que foi a loira do banheiro que deu sumiço em seus amigos, por isso os corpos nunca foram encontrados. Ela ainda afirma que a loira vem visitá-lo todas as noites pedindo que ele conte a sua história, por isso poupou a sua vida.

-Mas que alucinação interessante este paciente apresenta Doutor. Posso cuidar desse caso pessoalmente?

- Claro que pode. Peço apenas que não muda a medicação dele.

-E o que eu faço com as cartas?

-Jogue fora,não podemos alimentar a sua fantasia.
-Tudo bem Doutor Alfredo. Obrigado pela oportunidade de trabalho!


SETOR DE PSIQUIATRIA ALA 54 - DIA SEGUINTE

-Olá Ricardo sou o seu novo psiquiatra, tudo bem com você?


-Creio que o senhor está melhor que eu. Qual o seu nome?

-Sou o doutor Afonso. Como estão as coisas?

-Vocês entregaram minha história? Preciso que publique em todos os blogs e em todos os sites. Tenho que fazer isso até o fim da minha vida.

- Não entregamos por que tudo isso faz parte de suas alucinações. Não podemos permitir que você continue alimentando o seu próprio sofrimento você deve encarar a realidade. Não existe loira do banheiro e você não tem nenhum Blog.

Eu tinha, a loira do banheiro deve ter apagado eles para aumentar o meu sofrimento. Ela quem sumiu com meus amigos. E ela apenas me deixou viver para eu contar a sua história todos os dias repetidamente como parte do acordo que fiz com ela. Sofrerei todos os dias escrevendo a mesma história aqui preso  num lugar onde todos acham que eu sou louco, esta é a minha sina imposta por ela. É o preço que pago por ter invocado ela e por ter deixado ela me manter vivo. Ela não permite que eu cometa o suicídio.

- E por que ela quer te manter vivo e que escreva estas cartas todos os dias?

- Como sou a sua última vítima ela precisa me manter vivo nesse sofrimento para que eu a liberte avisando o maior número de pessoas através dessas cartas para que as pessoas desistam de invocá-las. E seu obtiver sucesso alcançando maior número de pessoas ela estará livre e eu também. Assim ela nunca mais aparecerá e a sua lenda será esquecida de uma vez por todas.

- E se as cartas nunca forem mostradas para as pessoas?

-Vocês realmente não entregaram as cartas não é mesmo?

- Sim , todas que você escreveu foram destruídas.

-Sendo assim passarei minha vida aqui como louco e ela sempre irá retornar para aqueles que a chamarem. Por favor, doutor acredite em mim!

-Sinto muito Ricardo,não posso te ajudar nisso. Amanhã retornarei aqui para ver como você está. Continue tomando os seus medicamentos e infelizmente vou ter que tomar o seu caderno e o seu lápis.

-Não faça isso,por favor !

-Adeus.
-Volte aqui! NÃÃÃÃÃOOO...

-Parece que você falhou meu querido. Vou ter que encerrar o nosso trato e ir atrás de quem está com a sua carta para que possam contar minha história e assim ficar livre de uma vez por todas dessa existência mórbida.

-O que você vai fazer comigo?

- O que eu deveria ter feito a muito tempo. Vou acabar com você Ricardo. Venha aqui e coloque sua cabeça em minha boca. Prometo devorar seu crânio bem depressa.

ALA 54 – DIA SEGUINTE

-Doutor Alfredo,o paciente que o senhor me passou aquele que acredita na loira do banheiro desapareceu do quarto.

-Mas como isso é possível? Estamos num manicômio judiciário.

-venha ver com os seus próprios olhos.

-Meu deus! Como é possível isso? Peçam aos enfermeiros e aos seguranças que vasculhem todo o local ao redor. E quanto a você doutor Afonso , o que pensa em fazer quanto ao caso?

-Bom,vou levar o caderno dele e a última carta que ele escreveu e que o senhor pediu para eu destruir. Acabei não a destruindo,vou dar uma estudada nela quando eu chegar em casa para dar seqüência ao caso deste paciente.

-Certo Afonso,qualquer novidade você me avise.

Talvez eu não deva levar esta carta para casa. E se aquele paciente estiver certo? Talvez eu deva mostrar essa carta para as pessoas como ele tinha pedido. Não,não vou fazer isso1 Sou um psiquiatra e não um doente mental que acredita em loira do banheiro. Vou levar essa carta e ver o que faço pela manhã. Preciso dormir,hoje foi um dia corrido.
Mas o que? Que barulho foi este? Está vindo do meu banheiro. Parece um som gutural ou o som de alguém com dificuldades para respirar. O que poderá ser? A carta do meu paciente não está mais ao lado de minha cama,ela está jogada no meio do corredor ali em frente ao banheiro...



FIM ?

















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